Advogada indígena vai denunciar Estado Brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
23/03/2004
- Opinión
A advogada do Conselho Indígena de Roraima, Joênia Wapichana, vai
apresentar no dia 29 de março, em Washington, DC, uma petição à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos - OEA, denunciando a República Federativa do
Brasil por violação aos direitos e garantias dos povos macuxi,
wapichana, ingarikó, taurepang e patamona, habitantes ancestrais da
terra indígena Raposa Serra do Sol.
A petição argumentará que o Estado Brasileiro não está protegendo os
direitos dos povos de Raposa Serra do Sol, principalmente, o
reconhecimento do direito territorial, que implica na homologação da
terra indígena, um simples decreto presidencial, há mais de cinco
anos, injustificavelmente não assinado pelos presidentes Fernando
Henrique Cardoso e Lula da Silva.
Em nome dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, Joênia Batista
de Carvalho, índia Wapichana de 30 anos, que ganhou o Prêmio Reebok
de Direitos Humanos 2004, irá pedir apoio internacional, pois o
Estado Brasileiro, apesar de sucessivas promessas, não está
respeitando tratados internacionais dos quais é signatário, por
exemplo, a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho.
Raposa Serra do Sol não é simplesmente mais uma terra indígena com o
processo demarcatório obstruído por pressão de grupos econômicos.
Nos últimos 30 anos tornou-se um caso emblemático de luta dos povos
indígenas pela garantia da própria terra e de negação por parte do
Estado Brasileiro a esse direito. Nas últimas três décadas, 21
índios foram mortos em disputas de terras e dezenas espancados,
torturados ou presos ilegalmente, sendo que jamais os agressores
foram condenados.
A classe política de Roraima, notadamente antiindígena, mantém
ligações próximas com interesses de mineradoras, latifundiários e
empresários que patrocinam uma atmosfera de preconceito,
discriminação e xenofobia contra os índios e os seus aliados.
Roraima é uma espécie de "Faroeste Brasileiro", onde a lei quase não
existe para punir os ricos, deixando os mais pobres vítimas de toda
forma de violência e injustiça. Como bem definiu a advogada
indígenista Dra. Ana Paula Souto Maior, "em Roraima matar índio não
é crime, todos os assassinatos têm em comum a impunidade".
A omissão do Estado Brasileiro só faz aumentar os conflitos em
Roraima. Em janeiro deste ano, plantadores de arroz, fazendeiros e
empresários locais lideraram atos violentos numa campanha de terror
contra a homologação da Raposa Serra do Sol que culminou com o
seqüestro de três missionários, bloqueio de estradas, invasão da
Funai (Fundação Nacional do Índio) e chamamento à sociedade local
para uma reação contra os direitos indígenas.
Nesse contexto desfavorável aos povos de Raposa Serra do Sol, após
frustradas todas as promessas e esperanças no governo brasileiro, a
petição junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA
significará um marco histórico na longa luta pelos direitos à terra
Raposa Serra do Sol e um passo importante para a campanha pelos
direitos indígenas em todo o mundo.
* Conselho Indígena de Roraima 23 de março de 2004
https://www.alainet.org/pt/active/5870
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