Mensagem sobre o Plebiscito da ALCA
24/09/2002
- Opinión
Irmãos e irmãs
Alegres na esperança, saudamos a todos que fizeram parte deste grande esforço
nacional pela cidadania soberana, que foi o Plebiscito sobre a Alca (Área de
Livre Comércio das Américas), ocorrido de 1º a 7 de setembro de 2002,
coordenado pela Campanha Jubileu Sul/Brasil, com a participação de várias
Pastorais e Organismos da CNBB.
Alegramo-nos também com o empenho de igrejas, entidades, movimentos sociais e
organizações que participaram da iniciativa, bem como de todas as pessoas que
trabalharam ativamente na realização da consulta. Ao mesmo tempo, louvamos a
participação ampla de milhões de cidadãos e cidadãs que deixaram suas casas
para manifestar um patriotismo vivo e ativo na construção de novos caminhos.
Com isso, difunde-se a consciência de que o plebiscito é um instrumento legal
e democrático, reconhecido pela Constituição Brasileira, artigo 14, inciso I,
através do qual os mais diversos setores da sociedade podem contribuir com
propostas alternativas para o destino do país.
O pleito, realizado em conjunto com o Grito dos Excluídos, somou números
impressionantes. Cerca de 42 mil urnas recolheram os votos em 3.894 municípios
dos 27 estados da Federação. Foram 10.149.542 votantes, dos quais mais de 98%
disseram não à participação do Brasil na Alca e à entrega da Base de Alcântara
para o controle militar dos Estados Unidos. Em toda sua trajetória, a consulta
envolveu mais de 50 entidades em nível nacional e centenas de outras em âmbito
regional e local. Acima de 150 mil voluntários trabalharam no processo de
organização e realização da consulta.
O sucesso do plebiscito, entretanto, não está apenas nos números. O grande
êxito da consulta refletiu-se nos milhares de debates e seminários que se
espalharam por escolas, universidades, sindicatos, igrejas, associações,
movimentos populares e por tantos outros espaços públicos. O pleito, livre e
popular, deslocou o tema dos gabinetes e o levou às ruas, às casas e até a
grande parte da mídia. Aqui está sua maior lição: a população tem o dever e o
direito de debater os temas que afetam a vida do povo brasileiro. Neste
sentido, a iniciativa representou um exercício pedagógico e democrático de
cidadania. Outra lição foi a parceria entre dezenas de entidades diferentes,
mas unidas na meta comum de estender a todo país o processo de reflexão,
organização e votação.
Mas o plebiscito foi uma etapa do processo. A Alca ainda permanece como uma
ameaça aos povos latino-americanos. Em documento recente, dizíamos que "a
potência hoje hegemônica no mundo vem pressionando nosso país a aderir ao
projeto da Alca que ameaça aumentar a submissão do Brasil e de toda a América
Latina aos interesses da economia dos Estados Unidos" (Cfr. Documento 67 da
CNBB, Eleições 2002 – Propostas para Reflexão, nº 16). Diante disso, os mais
de dez milhões de votantes da consulta popular nos incentivam a continuar na
campanha. O principal passo que temos pela frente é o lançamento nacional de
um abaixo-assinado pela realização do Plebiscito Oficial. Apelamos a todos os
nossos parceiros no sentido de permanecermos unidos nessa meta comum,
fortalecendo os comitês locais e coordenações estaduais.
Lê-se no Evangelho que as multidões corriam ao encontro de Jesus porque "Ele
falava como quem tinha autoridade" (Mc 1,22). Era uma autoridade moral que
nascia de um coração compassivo e sintonizado, ao mesmo tempo, com o Pai e com
o sofrimento dos mais excluídos. Seguindo os passos do Mestre, a Igreja
realiza sua missão na observância do chamado divino e no apelo ao clamor dos
pobres. Daí a importância de acompanhar de perto as alegrias e as esperanças
do povo na construção de uma nação livre e solidária, fraterna e soberana.
Brasília/DF, 25 de setembro de 2002
https://www.alainet.org/pt/articulo/106421
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