Escrever bem é mais do que opinar
29/07/2013
- Opinión
Salvo rara exceção, há quem publique artigos em jornais e nem sempre se expresse na forma adequada. Não apenas o erro gramatical é comum: falta o cuidado com a argumentação. Há a má escolha do enfoque ao conteúdo. A imaginação é violentada pela razão abismal: o ponto de vista discriminatório, infundado. Como mudar essas tristes realidades? Não é fácil sem o ensino das linguagens midiáticas, mas seguem algumas considerações. Espera-se que não sejam em vão.
Em primeiro lugar, enquanto o salário for ruim na Educação a sociedade não conseguirá que tudo funcione certo. Transformar o nível educacional e cultural no País passa pela melhoria significativa da qualidade de vida do(a) Professor(a). É preciso cobrar da classe política o aumento salarial a essa categoria. Por que votar no indivíduo que nunca o defendeu nem o defende (provavelmente nem o defenderá)? A defesa do(a) Professor(a) é a defesa de toda a sociedade!
Em segundo lugar, o custo do livro deve ser reduzido em todo o território nacional: vários países têm preços melhores e mais acessíveis do que o Brasil. Exemplos: Argentina, Cuba, Estados Unidos. É do norte-americano Bill Gates a frase: “Meus filhos terão computadores, mas antes terão livros.” O governo que não dissemina amplamente o livro serve ao atraso. São bem-vindas as campanhas de incentivo à leitura, à publicação, e os espaços públicos à discussão das obras.
Em terceiro lugar, diante da péssima publicação, que ofende a nossa inteligência, ou nos manifestamos ou nos calamos e consentimos. A primeira opção parece a inteligente. Pois faltam mais debates intelectuais nas mídias. A gente tem que exercer o direito de não comprar, por exemplo, os periódicos de baixa qualidade. Ademais, saber criticar: enviar à imprensa e-mail, carta, telefonema, comentário à Internet etc. Até mesmo textos para desconstruir banalidades.
Em quarto lugar, assim como o(a) Médico(a) não aceita o(a) não formado(a) em Medicina trabalhar como Médico(a), o(a) Jornalista tem a credibilidade profissional para exigir o diploma de Curso Superior em Jornalismo enquanto requisito para o exercício da profissão de Jornalista. O Senado Federal tem o direito, se entender necessário, de processar e julgar os(as) Ministros(as) do Supremo Tribunal Federal (STF), tribunal que por sinal acabou com tal exigência profissional.
Em sexto lugar, recomenda-se a quem acha que escrever é simplesmente publicar a primeira ideia que vem à cabeça (divulgar de qualquer maneira o que acredita): abra o dicionário da Língua Portuguesa e leia os sentidos de “desleixo”. Em seguida, encontre a palavra “revisão”, faça o mesmo. A partir daí submeta o que você escreve à leitura de outras pessoas antes de publicar. Revise: errando é que se aprende. Caso o contrário, seja objeto de comentários desagradáveis.
Em sétimo lugar, evite publicar na imprensa artigos grandes. Pouca gente lê. Agora, se as frases e os parágrafos forem curtos e menores, houver a preferência pelas palavras simples e não a mania de ostentação, o exibicionismo, pode apostar: o(a) leitor(a) agradecerá! Como observou o grego Plutarco: “A barba não faz o Filósofo.” A verdade dispensa enfeites. Quem muito fala, muito erra. Se quiser escrever muito, publique um livro.
Em oitavo lugar, não escreva por mera obrigação: é preferível contribuir mais e se aparecer menos: publicar um artigo bem escrito do que dez horríveis. Ninguém aprende a pensar com profundidade da noite para o dia. Por que acreditar que a escrita seria diferente? As coisas belas são difíceis. Escrever bem é mais do que opinar: exige tempo, dedicação, sacrifício...! O romano Horácio escreveu: “O pensar corretamente é o princípio e a fonte da arte de escrever.”
Em nono lugar, para quem vai ao conhecimento em relação à escrita e ao pensamento, sugerimos a prática e a revisão, e a (re)leitura atenta e demorada das seguintes obras: “Comunicação em prosa moderna” (Othon Moacyr Garcia), “Manual de Redação e Estilo – O Estado de S. Paulo” (Eduardo Martins), os dois volumes de “Aprendendo a pensar” (Emmanuel Carneiro Leão), “Para entender o texto: leitura e redação” (José Luiz Fiorin & Francisco Platão Savioli).
Por fim, quando entrevistado sobre o que aprendeu com a escrita de um livro, o escritor cubano Ernesto Sierra afirmou: “Quando tomas a decisão de publicar, deves ter total consciência de que ao menos uma pessoa investirá parte de seu tempo em lê-lo.”
https://www.alainet.org/pt/articulo/78065
Del mismo autor
- Raul Seixas, um filósofo à reinvenção da educação no Brasil 12/08/2013
- Democracia e capitalismo andam juntos no Brasil 12/08/2013
- Escrever bem é mais do que opinar 29/07/2013
- A grande onda de manifestações varre o Brasil 29/07/2013
- Governo Lugo: grande oportunidade perdida à Educação e fraca resistência ao Golpe de Estado 21/08/2012
- Estatuto da Diversidade 22/11/2011
- Estatuto da Diversidade: o diálogo entre os saberes 26/10/2011
- Estatuto da Diversidade e os “deuses do Olimpo” 19/10/2011
- Código da Diversidade & Estatuto da Diversidade 18/10/2011
- La imagen paraguaya en Brasil: el caso del “caballo paraguayo” 20/01/2011