Guerra entre potências: ogivas nucleares ou biologia?

16/01/2020
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Foto: ANSA
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1.Armas nucleares e conflito entre potências: por que o Irã é tão perigoso para o mundo?

 

A geopolítica do século 20 foi protagonizada pelos Estados-Nações que dispuseram de arsenal nuclear. Os Estados Unidos deixaram claro, ao final da Segunda Guerra Mundial, que se trataria de arma capaz de garantir a projeção dos interesses norte-americanos sobre o mundo. Aquelas culturas com meios para resistir dedicaram então esforços substanciais em inteligência e desenvolvimento tecnológico autônomo para alcançar o mesmo objetivo.

 

Não obstante Inglaterra e França disporem do ciclo nuclear, a OTAN foi criada com objetivo de permitir que os EUA passassem a dar garantias de segurança nuclear à Europa. O que significa isso? Significa que nem Inglaterra nem França tinham condições de prover a quantidade necessária de material enriquecido ou comissionar instalação da rede de mísseis balísticos no continente. Ou seja, se trata de dispor de material enriquecido, mas também de tecnologias de propulsão e navegação de projéteis lançados na estratosfera, aviões e submarinos. Ainda assim, mesmo que se disponha do pacote nuclear completo, são ainda necessários capacidade produtiva e vultosos recursos a serem imobilizados.

 

Nestes quesitos, apenas China e Rússia foram capazes de rivalizar com os EUA em escala global na segunda metade do século 20.

 

No entanto, conforme se pode perceber na Figura 1, os arsenais nucleares das duas principais potências têm sido majoritariamente descomissionados desde os anos 1990. Isso mostra o quanto a alternativa nuclear parece superada, no século 21, como resposta pronta e em larga escala em cenários de conflitos entre potências nucleares.

 

Na Figura 2 apresenta-se estimativa de arsenal nuclear mundial em janeiro de 2018. Apesar dos recentes investimentos da China, os arsenais norte-americano e russo contabilizam cerca de 92% do total mundial.

 

Dito isso, por que o programa de desenvolvimento de armas nucleares do Irã assusta tanto o mundo ocidental? Em princípio, apesar de continuada transferência de tecnologia da Rússia, o Irã não dispõe de meios econômicos para erguer arsenal que possa ser considerado ameaça global. No máximo, algumas poucas ogivas nucleares.

 

Ademais, dado que a Rússia é explicitamente aliada do regime persa, pouca diferença deveria fazer para o ocidente se as ogivas forem desenvolvidas localmente ou trazidas prontas da Rússia.

 

A resposta mais plausível é que, de fato, não importa muito para o balanço nuclear mundial se o Irã for mais um país com um par de ogivas para se defender. No entanto, muita diferença faz para o Estado de Israel, que não será mais capaz de impor unilateralmente seus interesses sobre os povos árabes. A manutenção da hegemonia nuclear de Israel no Oriente Médio parece justificar a urgência do deep state norte-americano em interromper o programa nuclear iraniano.

 

2.Armas biológicas e cibernéticas e a guerra entre potências nucleares

 

A partir dos anos 90 do século 20 duas tecnologias passaram a constituir o núcleo do desenvolvimento tecnológico com finalidade militar nos EUA. A primeira cibernética, a segunda biológica.

 

2.1. Armas cibernéticas

 

Ao final da Segunda Guerra, o instituto RAND defendia que, juntamente com arsenal nuclear, os EUA deveriam erguer uma rede de satélites global. Esta rede teria como objetivo monitorar lideranças e grupos e preparar, com inteligência, o enfraquecimento de ameaças futuras. Ou seja, para o RAND, os adversários não eram os países, mas grupos políticos não alinhados com a liderança norte-americana.

 

O sucesso do programa Arpanet e o consequente desenvolvimento de tecnologias de rede desde os anos 90 (www) permitiram aos EUA, juntamente com lançamentos de satélites, elevar a inteligência militar a patamares não imaginados no século 20. Da mesma maneira, a difusão de sistemas automatizados, principalmente na gestão da infraestrutura, potencializou a intervenção militar remota e de difícil detecção em instalações (ataques cibernéticos).

 

Na Figura 3 é possível se perceber que os EUA dispõem na atualidade da mais ampla rede de satélites artificiais em órbita na Terra. Nem China, nem Rússia, parecem rivalizar com os EUA.

 

Diante do argumento de que a China vem aumentando exponencialmente no século 21 gastos com defesa, na Figura 4 mostra-se a distância nos fluxos de recursos entre a China e os EUA neste quesito.