O jornalismo, do colapso à fraude

Na ânsia de derrubar a qualquer custo um governo eleito democraticamente, as empresas de comunicação mandaram às favas princípios jornalísticos consagrados.

15/08/2016
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 fraude jorna
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Assistimos ao colapso do jornalismo comercial brasileiro.

 

Nunca antes na história deste pais o nível ético de jornais, rádios e TVs esteve tão baixo. 

 

Na ânsia de derrubar a qualquer custo um governo eleito democraticamente as empresas de comunicação mandaram às favas princípios e valores jornalísticos consagrados internacionalmente. 

 

Causaram espanto em quem viu esse processo com olhar estrangeiro.  

O jornalista estadounidense Glenn Greenwald, radicado no Brasil, arregalou os olhos. 

 

Primeiro surpreendeu-se com a unanimidade da mídia tradicional brasileira na defesa dos mesmos interesses, sem espaço para divergências.

 

É dele a melhor definição desse processo ao comparar a situação real do Brasil com um cenário hipotético dos Estados Unidos, no qual todos os meios de comunicação adotariam a linha conservadora da Fox News. 

 

Para quem vive naquele país ficou fácil de entender. 

 

Por aqui é mais difícil. 

 

A maioria da população se informa pelo rádio e pela TV que, por sua vez, ecoam o que dizem jornais e revistas, num círculo fechado à controvérsia.

 

Do susto inicial ao constatar essas evidências, o jornalista foi além e desvendou uma das maiores fraudes já ocorridas na imprensa brasileira veiculada pelo jornal Folha de S.Paulo, espetacularizada pelo programa Fantástico, da Rede Globo e disseminada por diferentes meios de comunicação.

 

Greenwald, depois com o importante complemento do jornalista brasileiro Fernando Brito, editor do site Tijolaço, revelou a manobra operada por aquele jornal com a colaboração do seu instituto de pesquisa, o Datafolha. 

 

Num domingo de julho, a Folha disse que 50% dos brasileiros desejavam a permanência de Temer na presidência até 2018 e que apenas 3% do eleitorado era favorável a novas eleições.

 

Diante desses números surpreendentemente positivos para um governo tão impopular como o de Temer, outro jornalista estrangeiro, Brad Brooks, correspondente chefe da agência de notíciasReuters, no Brasil, também se assustou. 

 

Foi o primeiro a perceber a discrepância entre aqueles números e a informação do próprio Datafolha, dada em comunicado à imprensa, de que três em cada cinco brasileiros preferem novas eleições.

 

Só que essa informação sumiu até da página do instituto de pesquisa. 

 

Foi o brasileiro Fernando Brito quem descobriu nos escaninhos da internet a versão original dos dados coletados. 

 

Segundo Greenwald e Eric Grau, do site The Intercept, “o que foi encontrado na versão original do documento – aparentemente retirada do ar de forma discreta pelo Datafolha – é de tirar o fôlego. 

 

Ficou comprovado que a matéria da Folha era uma fraude jornalística completa”. 

 

Dizem os jornalistas, no site Intercept: “a pergunta 14, encontrada na versão original, dizia: ‘Uma situação em que poderia haver novas eleições presidenciais no Brasil seria em caso de renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer a seus cargos. Você é a favor ou contra Michel Temer e Dilma Rousseff renunciarem para a convocação de novas eleições para a Presidência da República ainda neste ano? Os dados não publicados pelo Datafolha mostram que 62% dos brasileiros são favoráveis à renúncia de Dilma e Temer, e à realização de novas eleições, enquanto 30% são contrários a essa solução. Isso significa que, ao contrário da afirmação da Folha de que apenas 3% querem novas eleições e 50% dos brasileiros querem a permanência de Temer como presidente até 2018 – ao menos 62% dos brasileiros, uma ampla maioria, querem a renúncia imediata de Temer”.

 

Mas a Folha não ficou por ai. 

 

Escondeu também uma pergunta cujas respostas eram mais favoráveis à Dilma. 

 

O Datafolha perguntou: “Na sua opinião, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff está seguindo a regras democráticas e a Constituição ou está desrespeitando as regras democráticas e a Constituição? Apenas 49% disseram que o impeachment cumpre as regras democráticas e respeita a Constituição, enquanto 37% disseram que não. Como a Folha pode omitir este dado tão surpreendente e importante quando, supostamente, quer descrever a visão dos eleitores sobre o impeachment?” perguntam os jornalistas do Intercept.

 

Para completar o jornal embalou esses e outros números numa manchete de primeira página que dizia “Cresce o otimismo com a economia, diz Datafolha”. 

 

Trabalho de propaganda para por no chinelo as ideias e frases dos mais renomados e experientes marqueteiros políticos do pais.

 

Pesquisas realizadas por institutos sérios, algumas semanas depois, confirmaram a fraude. 

 

Segundo levantamento do Ipsos, publicado pelo jornal Valor Econômico, 20% da população quer a permanência de Dilma e apenas 16% do interino que é rejeitado por 68% da população (a rejeição à Dilma caiu de 61% em março para 48% em julho). 

 

A preferência por novas eleições chega a 52% (bem distante dos 3% da Folha).

 

Mas o estrago maior para a democracia foi realizado pela TV, tendo o Fantástico à frente. 

 

Foram longos minutos dissecando didaticamente para o telespectador os números da pesquisa numa ação de duplo efeito: diminuir a rejeição popular ao governo interino e, por consequência, dar respaldo aos votos dos senadores golpistas no processo de impeachment.

 

A fraude no jornalismo acompanha a fraude na política.

 

Créditos da foto: Jornal GGN

 

- Laurindo Lalo Leal Filho - Artigo publicado na Revista do Brasil, agosto de 2016

 

15/08/2016

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/O-jornalismo-do-colapso-a-fraude/12/36613

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/179531
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