O frio na barriga teria sido evitado se houvesse lei de meios
10/11/2014
- Opinión
A angústia que tomou conta dos eleitores de Dilma Rousseff ao final da tarde de domingo, 26 de outubro, poderia ter sido evitada. A margem tão estreita de votos obtida pela presidenta diante de um candidato fraco, dono de um currículo de realizações paupérrimo e com propostas voltadas para o retrocesso, só foi possível graças ao trabalho intenso desenvolvido pelos meios comunicação.
Sem essa interferência, a disputa poderia ter sido decidida no 1º turno. A escalada intensificou-se às vésperas do 2º turno e ganhou ares de guerra nos três dias que antecederam a eleição final, chegando ao seu ápice entre a noite de sábado e o domingo, depois da divulgação das últimas pesquisas.
Assim se explica o estreitamento da margem de votos entre os dois candidatos verificado nas urnas em relação ao que anunciavam os institutos de pesquisa. Os 4 ou 6% previstos foram reduzidos ao final para 3,2%.
Dois fatos alardeados pela mídia no sábado à noite e durante todo o domingo contribuíram para essa alteração. A manifestação diante do prédio da Editora Abril foi o álibi usado pelo Jornal Nacional para ampliar a denúncia de corrupção feita no dia anterior pela revista Veja, sem qualquer respaldo nos fatos. No domingo, ainda com um grande número de eleitores indecisos, rádios, TVs e internet não se cansavam de especular a respeito do doleiro delator que teria sido assassinado, com veneno, pelo PT. Chegava-se ao auge da irresponsabilidade.
Tudo isso não é novo na história do Brasil, variando apenas o seu grau de intensidade. Assumido como partido político de oposição, o conjunto dos meios de comunicação nunca poupou os governos populares de duros e constantes ataques, ao longo de todos os mandatos. Com a aproximação dos períodos eleitorais a prática se intensifica e a verdade, quase sempre, é deixada de lado.
Em 2014, no entanto, a mídia se superou. A campanha foi num crescendo ao longo do ano, tendo como tema a corrupção, sempre apresentada de forma seletiva, como se ela fosse um fato novo e existente apenas em nível federal.
Em qualquer democracia, propostas e mensagens partidárias chegam à população através dos meios de comunicação. Aqui dá-se o contrário: é a mídia que oferece à oposição os seus motes de campanha. Dão o tema e os partidos correm atrás. Exemplo maior foi o candidato do PSDB responder a uma pergunta sobre a corrupção, no último debate televisivo, dizendo que o problema se resolveria tirando o PT do poder.
A diversidade de opiniões e visões de mundo circulando pelos meios de comunicação é o principal déficit democrático existente hoje no Brasil. Sem superá-lo não chegaremos à democracia plena e seguiremos sujeitos a eleições onde a mídia interfere abertamente na decisão do eleitor.
Em 2007, o documento final do 3º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores propunha “a imediata revisão dos mecanismos de outorga de canais de rádio e TV, concessões públicas que vêm sendo historicamente tratadas como propriedade absoluta por parte das emissoras de radiodifusão. Esta atualização passa pelo cumprimento da Lei, haja vista a flagrante ilegalidade em diversas emissoras, por maior transparência e agilidade nos processos e pela criação de critérios e mecanismos para que a população possa avaliar e debater não somente a concessão, mas também a renovação de outorgas. (…) O PT deve se juntar à luta da sociedade organizada para concretizar os preceitos da Constituição Federal de 1988 que estabelecem a proibição do monopólio na mídia e definem como finalidade do conteúdo veicular a educação, a cultura e a arte nacionais”.
A resposta firme dada pela presidenta Dilma Rousseff às inverdades publicadas pela revista Veja dá-nos um alento. Alimenta a esperança de que, finalmente, em seu segundo mandato a Lei de Meios seja posta em discussão e que o governo venha a se empenhar para transformá-la em realidade.
Sem essa interferência, a disputa poderia ter sido decidida no 1º turno. A escalada intensificou-se às vésperas do 2º turno e ganhou ares de guerra nos três dias que antecederam a eleição final, chegando ao seu ápice entre a noite de sábado e o domingo, depois da divulgação das últimas pesquisas.
Assim se explica o estreitamento da margem de votos entre os dois candidatos verificado nas urnas em relação ao que anunciavam os institutos de pesquisa. Os 4 ou 6% previstos foram reduzidos ao final para 3,2%.
Dois fatos alardeados pela mídia no sábado à noite e durante todo o domingo contribuíram para essa alteração. A manifestação diante do prédio da Editora Abril foi o álibi usado pelo Jornal Nacional para ampliar a denúncia de corrupção feita no dia anterior pela revista Veja, sem qualquer respaldo nos fatos. No domingo, ainda com um grande número de eleitores indecisos, rádios, TVs e internet não se cansavam de especular a respeito do doleiro delator que teria sido assassinado, com veneno, pelo PT. Chegava-se ao auge da irresponsabilidade.
Tudo isso não é novo na história do Brasil, variando apenas o seu grau de intensidade. Assumido como partido político de oposição, o conjunto dos meios de comunicação nunca poupou os governos populares de duros e constantes ataques, ao longo de todos os mandatos. Com a aproximação dos períodos eleitorais a prática se intensifica e a verdade, quase sempre, é deixada de lado.
Em 2014, no entanto, a mídia se superou. A campanha foi num crescendo ao longo do ano, tendo como tema a corrupção, sempre apresentada de forma seletiva, como se ela fosse um fato novo e existente apenas em nível federal.
Em qualquer democracia, propostas e mensagens partidárias chegam à população através dos meios de comunicação. Aqui dá-se o contrário: é a mídia que oferece à oposição os seus motes de campanha. Dão o tema e os partidos correm atrás. Exemplo maior foi o candidato do PSDB responder a uma pergunta sobre a corrupção, no último debate televisivo, dizendo que o problema se resolveria tirando o PT do poder.
A diversidade de opiniões e visões de mundo circulando pelos meios de comunicação é o principal déficit democrático existente hoje no Brasil. Sem superá-lo não chegaremos à democracia plena e seguiremos sujeitos a eleições onde a mídia interfere abertamente na decisão do eleitor.
Em 2007, o documento final do 3º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores propunha “a imediata revisão dos mecanismos de outorga de canais de rádio e TV, concessões públicas que vêm sendo historicamente tratadas como propriedade absoluta por parte das emissoras de radiodifusão. Esta atualização passa pelo cumprimento da Lei, haja vista a flagrante ilegalidade em diversas emissoras, por maior transparência e agilidade nos processos e pela criação de critérios e mecanismos para que a população possa avaliar e debater não somente a concessão, mas também a renovação de outorgas. (…) O PT deve se juntar à luta da sociedade organizada para concretizar os preceitos da Constituição Federal de 1988 que estabelecem a proibição do monopólio na mídia e definem como finalidade do conteúdo veicular a educação, a cultura e a arte nacionais”.
A resposta firme dada pela presidenta Dilma Rousseff às inverdades publicadas pela revista Veja dá-nos um alento. Alimenta a esperança de que, finalmente, em seu segundo mandato a Lei de Meios seja posta em discussão e que o governo venha a se empenhar para transformá-la em realidade.
- Publicado na Revista do Brasil, edição de novembro de 2014.
09/11/2014
https://www.alainet.org/pt/active/78682
Del mismo autor
- Cartunistas desmascaram governo e são ameaçados 17/06/2020
- País vive eleições inéditas 26/10/2018
- É preciso furar o bloqueio da mídia e lutar pela sua regulação e democratização 14/02/2018
- Censura editorial: não há outro nome para a omissão da Globo no 28 de abril 18/05/2017
- O apoio midiático à 'PEC da morte' 13/12/2016
- O jornalismo, do colapso à fraude 15/08/2016
- O jornalismo vive 09/06/2016
- Cuba: uma nação altiva 18/05/2015
- O frio na barriga teria sido evitado se houvesse lei de meios 10/11/2014
- As ideias dominantes 22/10/2014