Voz das ruas e das urnas

A Rede Globo deu uma cobertura ao evento digna de uma Copa do Mundo de Futebol na Europa ou nos EUA

15/03/2016
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 manifestacion mujer nino
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As manifestações deste domingo (13) levaram milhares de pessoas às ruas protestando contra o governo Dilma e a corrupção: 400 mil em São Paulo, segundo o Datafolha, e menos de 0,5% da população brasileira em todo o País. Na democracia é assim: todos têm liberdade de expressão e direito a se manifestar pacificamente. Na ditadura éramos proibidos: quem ousasse era censurado, preso, torturado ou morto, ou tudo isso.

 

Como em outros protestos anti-Dilma, os manifestantes eram, em sua imensa maioria, brancos, ricos, pessoas de média e alta renda e não eleitores de Dilma ou do PT. Mas isso não tira a expressividade das manifestações e o mérito dos protestos. Ao contrário, reforça a necessidade de governo e PT analisarem sem paixão o conteúdo de parte das razões que levam à insatisfação da população. Não basta culpar a Casa Grande egoísta.

 

Parcela significativa dos manifestantes, no passado, se não votou, pelo menos, não odiava o PT. Por que mudaram de posição tão radicalmente? A mídia tem cumprido um papel perverso de responsabilizar o PT por todos os males, em especial pela corrupção. Alguns servidores do alto escalão do Estado – juízes, procuradores e delegados, principalmente - têm se comportado mais como agentes da política do que da lei.

 

A maior novidade neste dia 13, apesar de uns pedindo intervenção militar, outros com saudação nazista e alguns com atitudes e gestos impróprios para crianças e adolescentes, houve um impulso racional imprevisto direcionado ao Alckmin e ao Aécio; ambos tiveram que se retirar vaiados por manifestantes na Avenida Paulista. O roubo da merenda no estado e as citações recorrentes ao Aécio na Lava Jato devem ter contribuído para um começo de despertar dos manifestantes “revoltados, mas sinceros”.

 

A Rede Globo deu uma cobertura ao evento digna de uma Copa do Mundo de Futebol na Europa ou nos EUA. Os seus telejornais têm ajudado bastante e estimulado o comportamento bestial de parcela da população e de agentes do Estado contra o governo Dilma, o PT e, agora, raivosa e ilegalmente, contra o Lula, o maior líder sindical e o presidente da República mais popular e mais bem avaliado da história do Brasil.

 

O ex-presidente Lula, eleito, reeleito e que elegeu a sucessora, é um dos mais respeitados e influentes líderes mundiais no combate à fome, à pobreza e às desigualdades. Têm o reconhecimento de todos os países de todos os continentes e de líderes mundiais como o presidente Obama, dos EUA, o ex-presidente Sarkozy, da França, e o ex-presidente Mujica, do Uruguai, como também teve de Nelson Mandela e tem de muitos outros estadistas. É referenciado por Eric Hobsbawm, o maior historiador marxista do século XX, e por intelectuais e universidades em todo o mundo.

 

As manifestações são legítimas, mas não podem substituir a maior e mais representativa manifestação da soberania popular – o voto universal, livre e secreto de todos os brasileiros - em cumprimento à Carta Maior: a Constituição da República Federativa do Brasil. A oposição, derrotada nas urnas, não pode valer-se de atalhos políticos para descumpri-la, violando a democracia tão duramente conquistada pelo povo brasileiro.

 

O Brasil passou a ser respeitado no cenário mundial como uma potência média emergente, com um mercado amplo e uma forte economia. As conquistas sociais, a partir de 2003, com a posse do Lula, ganharam destaque mundial sendo referência para os países pobres e em desenvolvimento, da África, Ásia e América Latina.

 

Com suas políticas sociais, o Brasil saiu do Mapa da Fome, reduziu a pobreza e as desigualdades sociais e promoveu a maior ascensão social da história brasileira. Salário Mínimo, Emprego, Luz para Todos, Bolsa Família, SUAS, Prouni, Fies, Minha Casa Minha Vida, PAA, Pronaf, Pronera, Fundeb, Enem, Creches, Pronatec, Mais Médicos, Brasil Sorridente etc e garantia dos direitos da mulher, dos negros, do segmento LGBT, dos idosos, da população de rua, dos catadores e de outros segmentos sociais excluídos.

 

É preciso ouvir o grito dos excluídos e dos movimentos sociais que lutam por uma vida digna para todos. É preciso preservar direitos e avançar com as nossas conquistas sociais, retomar o crescimento econômico com geração de empregos, sobretudo para os jovens, defender a democracia, as reformas estruturantes, como a política, a tributária e a agrária, e impulsionar o desenvolvimento sustentável com inclusão e equidade social.

 

É um imperativo constitucional e civilizatório defender a soberania nacional, o Estado Democrático de Direito e o voto nas urnas de 54,5 milhões de brasileiros que elegeram a presidente da República. É preciso, sobretudo, preservar e elevar a esperança de milhões de brasileiros que não querem o retrocesso político, social e econômico do Brasil.

 

Osvaldo Russo, estatístico, foi secretário nacional de Assistência Social e secretário de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do Distrito Federal.

 

Artigo publicado no Jornal Brasil Popular – 14/03/2016

 

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/176069?language=es
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