A desvalorização mundial
- Opinión
Estamos vivendo um momento singular na história das relações econômicas internacionais. Classicamente as relações comerciais internacionais sempre visavam a troca de mercadorias, que uns tinham, com outros que não tinham e vice-versa. Era, e é até hoje, uma relação de trocas. Diferente do que se faz no mercado interno de cada país. A cartilha inglesa ditada no século XVIII, conceituava que nestas trocas, - traduzidas em valor monetário, através de uma moeda representativa - fosse superavitária para cada país. Como era a nação dominante econômica e, até politicamente, esta condição seria sempre favorável a eles, e não as suas colônias sempre deficitárias. Isso dava uma condição de barganha comercial e por conseqüência uma vantagem no campo político. Para os ingleses era uma doutrina de manter sua hegemonia espoliadora sobre suas colônias. Trocavam produtos acabados com alto valor agregado pelas matérias primas de baixo valor dos outros países.
No século XX, particularmente após a Segunda Guerra Mundial, a força das exportações americanas para todos os países do mundo, - uma vez que todo seu sistema industrial estava intacto - permitiu transformar sua moeda o Dólar em moeda universal e hegemônica de troca e referência. Pela sua estabilidade institucional e consistência de sua economia, tornou-se por sua vez a âncora para todas as moedas do mundo, por excelência.
Estamos diante de um novo cenário. A interligação das nações pelo fenômeno da globalização gerou um mercado cambial ou de moeda, ativo. Quando um país começa ter grande volume de exportações, com baixa importação, sua moeda começa se valorizar significativamente. Numa contabilidade matricial perfeita, deverá haver países credores (superavitários) e haverá países devedores (deficitários) de forma que sua soma teoricamente será zero no longo prazo.
Acontece agora que todos desejam ser superavitários. Aí não fecha a conta. Sempre se considerou que uma moeda forte, ou seja, de alto valor externo, geralmente tem sido considerada como sinal de superioridade econômica. Pelo outro lado, as moedas fracas, pertencem a Estados perdedores ou deficitários e candidatos à queda no mercado internacional.
Encontramo-nos num contrasenso, a moeda forte dificulta as exportações o que pela outra ponta facilita as importações. No modelo globalizado, os países de moeda forte vivem em luta para que seus cidadãos não se atirem demais no pote estrangeiro pelas importações. Agora o que fazer?
Assim todas as nações torcem para que suas moedas não se tornem demasiadamente fortes. Isso é no mínimo estranho. Por sua vez, quando as moedas dos países (vamos chamar de periféricos), tornam suas moedas fortes (o Brasil é um caso), as moedas de referência como o Dólar e o Euro, pelo outro lado se tornam “desvalorizadas” em relação aquelas periféricas. Para os EUA e a Europa, detentoras do Dólar e do Euro é uma boa oportunidade para suas exportações, que para eles não é nada mau.
Pela cartilha da OMC todo o mercado deve ser livre, inclusive de moedas. Os países superavitários em regra terão suas moedas valorizadas, correndo o risco de sua desindustrialização, onde o Brasil é um caso. Por sua vez, a intervenção artificial pelos países no mercado de moedas na busca de sua proteção, pode gerar uma guerra cambial. Neste caso corre-se o risco de uma “paralisia comercial” de ordem mundial. Não será isso um sintoma da crise atual? Diante deste cenário, conforme diz o filósofo alemão Robert Kurz: estamos vivendo o que pode se chamar de “desvalorização competitiva”.
Christine Lagarde, Diretora-Geral do FMI, disse enfaticamente, que estamos a beira de um colapso do sistema ou mesmo da “Segunda Grande Depressão” (expressão nossa), tão profunda quanto a de 1930. Isto quer dizer, países em default, levará a bancos falidos, indústrias quebrando, desemprego em massa, baixíssima arrecadação, previdência quebrada, e por ai vai. Para sair deste atoleiro, poderá levar mais de 10 anos, se não houver um acordo geral, principalmente pela intolerância do mercado financeiro. O problema não se restringe somente a Europa, mas atinge todos os países do mundo. O atual modelo capitalista fracassou.
Sergio Sebold – Economista e Professor Independente
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