Também fui “rolezinho”
23/01/2014
- Opinión
Na minha adolescência tive a oportunidade da fazer o meu “rolezinho”. Claro muito mais ingênuo do que hoje se faz. Era brincadeira de irmos a um barzinho, nos sábados à noite, comer a vontade e outras arruaças. Depois dizíamos que não tinha dinheiro para pagar. Como nós éramos uns quinze, o proprietário fazia mil ameaças, mas nada conseguia. A cidade era pequena, repercutia mal por todos os cantos. Éramos vistos pelos “velhos” da época, de juventude transviada. No outro dia, nossos pais bem conhecidos na cidade eram chamados para pagarem a conta. Eram brincadeiras sem maldade, mas atrás dela estava o chamado desafio de uma geração contra o establishment. Felizmente nada mais danoso foi causado. Apenas pitos e alguma carraspana de nossos pais. Todos se tornaram cidadãos honrados.
Estamos no século XXI, os “rolezinhos” de hoje tem a sua disposição toda a parafernália tecnológica da Internet via redes sociais. Os números são hoje grandiosos. Mas pelo que vemos são também jovens adolescentes, que estão querendo fazer a mesma coisa que nós (geração passada) fazíamos. Na prática eles estão procurando seu lugar ao sol, querem visibilidade. A contestação nesta fase da vida é até salutar, desde que não venham prejudicar a outrem. Pelo que se está sendo propalado é apenas uma arruaça nos shoppings centers. Talvez uma forma de contestação pelo consumismo exagerado dos dias atuais.
É bem conhecido o episódio do dia do “pindura”, 11 de agosto em comemoração a criação da primeira Faculdade de Direito em 1827. Os acadêmicos de então já sentiam as agruras do dinheiro curto; neste dia simplesmente comiam nos restaurantes próximos a Faculdade e não pagavam, usando o refrão: pindura. Sem entrar em detalhes, houve muitos problemas, com a polícia por denúncia de muitos proprietários indignados. Na minha época de acadêmico, no Rio de Janeiro os restaurantes mudaram de estratégia; começaram a ver com simpatia o movimento, convidando-os a comerem de graça naquele dia, com o compromisso de divulgar o restaurante. Ou seja, um problema de caráter policial, se transformou numa oportunidade de negócio.
Para os shoppings de hoje talvez seja também uma oportunidade, de receberem bem estes jovens, com uma bela recepção, bem organizada para granjear a simpatia deles, fazendo os ver que a sociedade de hoje os veem com bons olhos, pois eles são o futuro desta nação. Pela leitura e adesões do Face, eles estão oferecendo o maior respeito para o evento, onde se comprometem a não fazerem depredação, apenas uma arruaça sem maiores consequências.
Esta é uma oportunidade de oferecer um mimo, um presentinho, até talvez um cachorro quente com refri, com o compromisso de divulgarem as belezas do shopping. Esta seria uma maneira simpática de recebê-los em vez da violência dos cassetetes. Felizmente, o próprio governo pelas palavras do Ministro Gilberto Carvalho, corrobora deste mesmo pensamento reconhecendo que se for encarado pelo lado da repressão seria como colocar gasolina na fogueira. E os shoppings dariam uma enorme fogueira.
Devemos ouvir a voz desta geração, com educação e não repressão.
Sergio Sebold
Economista e Professor Independente
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