ALBA: do sonho à realidade

06/05/2007
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Quando, em dezembro de 2004, Fidel Castro e Hugo Chavez lançaram a Alba – Alternativa Bolivariana para as Américas - a inciativa parecia representar o marco instuticional dos acordos que Cuba e a Venezuela estavam desenvolvendo. Representava um grande exemplo do comércio justo – que o Forum Social Mundial pregava há vários anos. Cada país fornece o que possui – petróleo venezuelano, náo a preços de mercado, mas recebendo em troca o que somente Cuba pode entregar: o melhor pessoal em saúde pública, em educaçáo, em esportes. Outros acordos – assinados em abril de 2005 – anunciavam a disposiçáo de integraçáo estrutural e estratégica entre os dois paises, na direçáo do anticapitalismo e do socialismo do século XXI.

Um ano depois triunfou Evo Morales na Bolivia e em abril de 2006 aderiu â ALBA. Em janeiro de 2007, foi a vez da Nicarágua, no momento da posse de Daniel Ortega como presidente. A reuniáo realizada na Venezuela – nas cidades de Barquisimeto e de Tintorero, na provincua de Lara, na Venezuela, em abril deste ano - contou com a participaçáo do presidente do Haiti, René Preval, que assinou varios acordos com os governos já aderidos â Alca, e com a Ministra de Relaçóes Exteriores do Equador, Maria Fernanda Espinosa, podendo-se dizer que estes dois governos estáo identificados com o espírito da Alba e sua adesáo è uma questao de pouco tempo.

Onde se situa a Alba e o que diferencia dos outros projetos de integraçáo regional? A linha divisória geral que divide o continente náo é aquela entre uma suposta “esquerda boa” e uma “esquerda ruim”. Esta é uma visáo da direita, que busca dividir o campo progressista no continente, para tentar cooptar governos mais moderados. A linha divisória fundamental é aquela que passa entre os paises que assinaram acordos de livre comércio com os EUA – México, Chile, além dos procedimentos avançados pela Colombia e pelo Perú -, que hipotecam su futuro e qualquer possibilidade de regular o que passe nos seus paises, em uma relaçáo radicalmente desigual com a maior potencia imperial do mundo e os que paises que privilegiam a integraçáo regional.

Entre estes estáo os que, apesar dessa opçáo, mantem o modelo econömico neoliberal – como sáo os casos do Brasil, da Argentina, do Uruguai – e os que se situam fora dele – Venezuela, Cuba, Bolivia, Equador. Este é um segundo divisor de águas, mas no marco de um processo de alianças que gera um espaço náo apenas de integraçáo – centrado no Mercosul -, mas além disso contribuem para um mundo multipolar, que enfraquece a hegomonia unipolar dos EUA.

Este processo se dá na América Latina, porque o continente havia sido o laboratório privilegiado das experiencias neoliberais, de que vive atualmente a ressaca. Aqui nasceu o neoliberalismo e aqui foi a regiáo em que mais se estenderam as experiencias neoliberais, assim como foi aqui que se deram de maneira mais concentrada as grandes crises neoliberais – México 1994, Brasil 1999, Argentina 2002.

A América Latina tornou-se o elo mais fraco da cadeira imperialista pela combinaçáo de varios fatores:

- o esgotamento do modelo neoliberal;
- o fracasso e o isolamento da politica do governo Bush no continente;
- a força acumulada pela resistëncia, especialmente dos movimentos sociais, na luta contra o neoliberalismo;
- o surgimento de lideranças e forças politicas que catalizaram esses fatores para promover rupturas com os TLCs e com o imperialismo.

O poder hegemônico no mundo se articula atualmente em torno de tres grandes monopólios:

- o poder das armas;
- o poder do dinheiro;
- o poder da palavra.

Os procesos de integraçáo regional trabalham na perspectiva de um mundo multipolar, colocando travas â hegemonia imperial estadunidense. Os países que romperam com o neoliberalismo se enfrentam ao reino do dinheiro. As iniciativas de imprensa alternativa – dentre as quais Telesur é o exemplo mais conhecido – trabalham pela democratizaçáo da mídia. Náo há nenhuma outra regiáo do mundo que apresente essas características.

Depois de muitos anos de resistentëncia ao neoliberalismo, em que os movimentos sociais foram os principais protagonistas, conquistou-se o direito, uma vez esgotado o modelo neoliberal, de passar â fase de luta por uma hegemonia alternativa, por governos posneoliberais. O neoliberalismo ainda continua a ser predominante no continente: basta dizer que o modelo segue vigente em paises como o México, o Brasil, a Argentina, a Colombia, o Chile, o Uruguai, entre outros. As sucessivas rupturas se deram nas zonas de menor resistëncia, menos centrais no continente, onde o capitalismo neoliberal se havia consolidado menos: Venezuela, Bolivia, Equador. A mesma característica pode ser aplicada à Nicaragua e ao Haiti, além do país que havia rompido há décadas com o capitalismo – Cuba,

Na reuniáo realizada na Venezuela foi criado um Conselho de Movimentos Sociais, integrado ä estrutura da ALBA, que conta também com um Conselho de Presidentes e um Conselho de Ministros. Os movimentos sociais de cada país do continente discutiráo esse e todos os outros temas que desejem incluir na pauta de debates e de construçáo de uma América Latina posneoliberal, definindo suas formas concretas de participaçáo, em reuniáo prévia ao próximo encontro de presidentes, previsto em princípio para dezembro, na Bolivia ou em Cuba.

Congregando a esses países e aos movimentos sociais, a ALBA se tornou o novo horizonte histórico da América Latina e do Caribe, a partir do qual todas as forças progressistas tëm que pensar sua identidade, seus objetivos e suas formas de açáo. Se constitui em um exemplo modelar da aplicaçáo do “comércio justo”, da solidariedade, da cooperaçáo. Um espaço alternativo ao livre comércio, ao dominio do mercado, revelando concretamente como é no intercambio entre necessidades e possibilidades, que se termina com o analfabetismo, que se fortalce a agricultura famliar e a segurança alimenticia, que se devolve o poder da visáo a milhóes de pessoas – em suma, onde se colocam as necessidades da populaçáo acima dos mecanismios de mercado e de acumulaçáo de capital.

Vivemos um periodo marcado pela passagem do modelo capitaista regulador para o neoliberal e do mundo bipolar para o unipolar, sob hegemonia imperial dos EUA. Na América Latina se decide grande parte do futuro do mundo no novo século e a Alba é o espaço mais avançado dessa luta.
https://www.alainet.org/pt/articulo/120946

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