Alegria e força no lançamento da Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade

16/03/2005
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O 8 de março foi um dia vitorioso para as mulheres. Eram várias, de todos os pontos da cidade de São Paulo, de caravanas do Pará, Rondônia, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul. Representantes internacionais da Marcha Mundial das Mulheres no Quebec e Burkina Faso também caminharam com as brasileiras. Este ato que levou para as ruas milhares de mulheres foi realizado graças à força de vontade e organização de várias entidades do Estado de São Paulo que conseguiram preparar toda a infra-estrutura necessária para um evento destas proporções. E dos comitês da Marcha e movimentos que mobilizaram as mulheres e conseguiram os recursos para a viagem até São Paulo. Tudo foi pensado e produzido para que o lançamento da Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade fosse um verdadeiro sucesso. E assim foi. Saindo do MASP em direção ao centro da capital paulistana, nas ruas a alegria e irreverência era mostrada a cada metro: trabalhadoras rurais, sindicalistas do campo e cidade, lésbicas, jovens, estudantes, mulheres com deficiência, aposentadas, indígenas, negras. Palavras de ordem e cantorias, batuque e capoeira, cada qual levando no rosto, nas roupas e faixas a força da militância feminista e das mulheres de diversos outros movimentos sociais. O batuque feminista ecoava pelo trajeto, as cores e formas que cada uma dava à leitura do texto da Carta foi apresentado ao mundo. Fotógrafos e cinegrafistas corriam atrás das melhores – e eram muitas – imagens. Discutida e redigida coletivamente por mulheres de todo o mundo, a Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade representa o mundo que querem as mulheres, com valores baseados na solidariedade, justiça, paz, igualdade e liberdade. Até o 8 de março acontecer foram várias atividades de formação, discussão, de aprofundamento de seu conteúdo político, que nas ruas de São Paulo foi apresentado por meio de alas, cada uma representando um valor. Nesta leitura brasileira da Carta foi possível, por exemplo, que a ala da igualdade apresentasse a campanha de valorização do salário mínimo, a luta pela reforma agrária, a ala da liberdade mostrasse a legalização do aborto, o respeito às lésbicas e o fim das imposições sobre o corpo das mulheres. Na ala da justiça foi apresentado o fim das discriminações raciais ou contra as pessoas com deficiência, o direito à moradia e reforma urbana. A ala paz e solidariedade mostrou nosso não à guerra, ao imperialismo, à Alca e por outra integração das Américas. Além do lançamento das ações internacionais da Marcha Mundial das Mulheres e da Carta, no dia 8 foi iniciada a construção da colcha da solidariedade feminista. No dia 12 de março, na fronteira do Brasil com Argentina ocorreu a primeira passagem da Carta, que começou então sua viagem por mais de 53 países. A entrega da Carta por brasileiras para as argentinas aconteceu na cidade fronteiriça de Porto Xavier, em atividade que contou com oficinas sobre temas variados, plantação de árvores, ato político e a presença de pelo menos três mil mulheres. Professoras, agricultoras e jovens de delegações da Grande Porto Alegre, das Missões, da Coordenação Nacional de Organizações de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Indígenas do Paraguai, da Via Campesina, CTA e Barrios de Pé, da Argentina atravessaram o rio Uruguai e deixaram sob a responsabilidade das companheiras argentinas a continuidade da viagem da Carta e da construção da colcha da solidariedade feminista. Mas a Carta, as ações da Marcha e o espírito de luta do 8 de março também estiveram em ações realizadas em outras cidades e pontos do país e do mundo (Rio Grande do Sul, Ceará, Pará, França, Grécia, Índia, Líbano e Peru), todas elas fazendo referência ao ato nacional de São Paulo, importante pela grandeza, mas também por ter tido capacidade de mobilizar mulheres de realidades tão diferentes, por ter conseguido trabalhar conjuntamente temas diversos como a questão da autonomia das mulheres, da terra, da saúde, moradia. O feminismo foi às ruas e falou com sociedade em geral e movimentos sociais por meio dos valores da Carta. A luta continua A jornada das ações internacionais da Marcha começaram em São Paulo e percorrerá vários países antes de chegar a Burkina Faso, um dos países mais pobres da África, em 17 de outubro. Ela terá pontos de parada nas Américas, Europa, Oceania, Ásia, Oriente Médio e África. Serão manifestações em grandes centros, zonas rurais, regiões de fronteira. Muitas vezes o revezamento do documento acontecerá em regiões de fronteira, não só pela questão de geográfica, mas principalmente para mostrar que há alianças possíveis entre as mulheres apesar das áreas de conflito e litígio. A ação feminista nestas regiões será uma maneira de disseminar a solidariedade internacional entre as mulheres. A agenda de mobilizações da Marcha para 2005 é intensa. Seguirá unida aos movimentos sociais manifestando-se contra a guerra (19 de março), contra o livre comércio (12 a 15 de abril). Uma vigília pela paz e desmilitarização em solidariedade às companheiras colombianas ocorre no dia 4 de abril. No dia 28 de maio a Marcha participa das manifestações pela legalização do aborto e também estará construindo uma proposta de ação contra o tráfico sexual, contra o livre mercado e as transnacionais e de solidariedade às camponesas em nossa luta comum pela soberania alimentar. * Fernanda Estima, Marcha Mundial das Mulheres, São Paulo.
https://www.alainet.org/pt/articulo/111612
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