Faroeste

18/11/2002
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Lembro de um filme estrelado por John Wayne no qual ele, no papel de justiceiro avulso, encontra afinal o bandido que procurava pelo Velho Oeste. O facínora divertia-se num bar, cercado por mulheres. Wayne apeou do cavalo e, confiante de que o mocinho quase nunca morre, entrou de sopetão no bar, deixando as abas da porta ventilhando-lhe os fundilhos. O dono do estabelecimento adiantou-se ao seu encontro e exigiu-lhe as armas. Ali ninguém entrava armado. Wayne obedeceu após conferir que, ali dentro, todos estavam de coldres vazios. (Não vou contar o resto do filme, mas vocês podem imaginar que o bandido trazia um pequeno Colt escondido no cano da botaŠ). Coisas do Velho Oeste? Ledo engano. Coisas do Brasil de hoje. No Canecão, no Rio, há um serviço como o daquele bar. Os clientes que chegam armados são convidados a deixar seus revólveres num cofre, até o fim do show. O mesmo ocorre no ATL Hall, casa de espetáculos da Barra. Está provado que o porte de arma torna o portador muito mais vulnerável que o cidadão desarmado. A maioria dos bandidos atira em quem ameaça reagir. E o lobby das fábricas de armas é tão forte que, até agora, o Congresso não conseguiu fechá-las, embora o Brasil seja, hoje, o 3º país em número de assassinatos: são cerca de 40 mil por ano, só perdendo para os índices da Colômbia e de Porto Rico. Há 2 milhões de armas registradas no país. E 20 milhões em circulação. Se o governo não decidir enfrentar o poder paralelo do narcotráfico nas suas raízes ­ educação, emprego, desfavelização e reforma agrária ­, em breve teremos cavalos amarrados na porta de casas de espetáculos e, lá dentro, o público batendo esporas para reforçar os aplausos. * Frei Betto é autor de "O Vencedor"
https://www.alainet.org/pt/articulo/106614
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