Formação e manipulação de expectativas econômicas e políticas
22/06/2014
- Opinión
Estado de confiança e as expectativas em relação ao futuro imediato ou de longo prazo são conceitos essenciais à compreensão do movimento do mundo dos negócios. Ciclos de expansão e contração longos da atividade econômica, assim como movimentos conjunturais de euforia ou pessimismo do mundo empresarial em relação à dinâmica dos mercados provocam na prática mudanças importantes na produção e no emprego, de sentidos opostos.
Esses conceitos, trazidos ao centro da teoria econômica pela “Teoria Geral” de Keynes são construções teóricas de raiz teológico-filosófica, ligados à crença e à esperança, que a economia moderna adotou sem maiores indagações de significado e sentido, deixando no ar um certo ar de mistério. Isto porque não é propósito da “Teoria Geral” explicar como se produzem os “estados de confiança” conectados a um dado movimento de expectativas em relação ao futuro dos fluxos econômicos, ambiente em torno do qual o “espírito animal” dos empresários se sente animado ou desanimado para expandir ou contrair a atividade econômica e o emprego. Mas é tão importante a crença do empresário sobre o rumo futuro da economia, vencida incerteza, que é a partir dela que tomará decisões de agir (investir) na expectativa de obter resultados favoráveis, sempre no estrito sentido utilitário estrito, que é a “ética” compulsória do mundo dos negócios.
Por outro lado, a manipulação das expectativas empresariais, seja com campanhas muito bem orquestradas de “marketing” para vender a ideia-força do ‘boom’ econômico; ou o seu inverso, operações ao estilo “banda de música” midiática, para criar ambiente de pessimismo econômico, tendo em vista destruir determinados arranjos de política econômica; não são eficazes, no primeiro caso, para criar um estado de confiança favorável e tampouco o são no segundo para autonomamente deprimir o sistema econômico. Mas a engenharia da “banda de música” do pessimismo, se não é eficaz para criar incerteza econômica dura no mundo dos negócios, o é para acentuar tendências niilistas no ambiente social e político, que fatalmente contaminam o ambiente econômico.
Aparentemente a “banda de música” midiática, orquestrada em sucessivas matérias de cadernos econômicos dos jornais e revistas de circulação nacional, repercutidas nas principais redes de TV e Rádio teria, depois de mais de um ano de campanha, derrubado a estratégia de crescimento brasileira, desenhada para expandir o Produto Interno Bruto (PIB) em patamar nunca inferior aos 3 no ano da Copa do Mundo e da eleição presidencial. Conquanto a tendência do crescimento fraco deste ano esteja se configurando pelos dados do primeiro semestre, não me parece que a causa eficaz seja a das campanhas de mídia.
Há evidente perda de fôlego do desenvolvimentismo, puxado pelos setores primário-exportadores, com certa distribuição de renda propiciada pela política social, forjado nos dois mandatos de Lula e continuado na gestão Dilma. Mas ao mesmo tempo o sistema político reage fortemente a quaisquer veleidades de continuação do experimento distributivo. E por sua vez o setor externo não está mais aberto à continuidade da expansão das “commodities”, como esteve na primeira década.
Diante desse quadro de certa reversão cíclica, o sistema de economia política dominante, pela voz das três candidaturas à eleição presidencial – Dilma, Aécio e Eduardo Campos, muito pouco se diferencia relativamente às estratégias de futuro. Reformas estruturais, ao estilo reformas agrária, tributária e urbana estão interditadas nas agendas desses candidatos e ao mesmo tempo não há espaço para repetir o percurso da década anterior.
A tentação de manipular sistematicamente, seja pela oposição midiática (verdadeiro partido político), seja pelo campo oficial, agora com seu “participacionismo social de fachada”, tendem a elevar o grau de incerteza geral e de certa irresponsabilidade social. E este caldo de cultura precisa ser revertido porque não é bom parteiro da história.
23/06/2014
https://www.alainet.org/pt/active/74823