Para onde vamos?

13/08/2013
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Dos limites conjunturais da economia em 2013, há farto material em circulação na mídia: pressões inflacionárias se deslocando da agricultura para o câmbio, baixo investimento, ambiente de semiestagnação, contas externas deficitárias etc. Na mesma linha imediatista também circula, à semelhança de um coro orquestrado, o receituário conservador – elevação de juros internos, corte na despesa pública dos chamados ‘gastos correntes’, elevação das exportações especializadas de bens primários etc.
 
Os limites conjunturais de 2013 efetivamente existem, mas precisam ficar situados na estrutura econômica que os reproduz. Sem isto a ‘solução’ conservadora também realimenta o constrangimento a que supostamente viria resolver.
 
Vejamos os três constrangimentos citados – pressão inflacionária, estagnação econômica e ‘déficit’ nas transações externas que se agravaram mais ainda em 2013.
 
A pressão inflacionária, aparentemente resolvida pelo previsível comportamento sazonal dos preços agrícolas na entrada da safra (meses de abril, maio junho), adquire agora um novo componente – a pressão cambial (dólar a 2,30 reais, sem chance de recuo). O receituário conservador para uma situação como esta é direto: corte na demanda interna, que deveria ser feito pela elevação dos juros (Selic), corte de gastos correntes ou de investimentos públicos, tendo em vista conter a pressão do câmbio sobre os preços internos.
 
Por outro lado, se temos uma economia semiestagnada e uma expectativa nada alvissareira de expansão do comércio externo, um corte ainda mais forte nos gastos correntes (manutenção da política social e pagamento dos servidores públicos principalmente), aprofunda a estagnação, sem necessariamente resolver a pressão infl acionária. Observe-se que a origem da tensão cambial atual, diga-se de passagem, muito desejada pelos vários setores industriais expulsos do comércio exterior em razão do dólar ultrabarato, é um movimento autônomo da economia norte-americana de redução da superemissão de dólares para quitar parcelas de sua dívida pública.
 
O terceiro componente da conjuntura que tem se agravado sobremaneira – o déficit nas transações externas, aparentemente ver-se-ia atenuado pela desvalorização do real (dólar mais caro). Mas aqui também não se aplica nenhuma regra mecânica à situação de desequilíbrio estrutural das contas externas. O ano de 2013, com déficit cumulativo comercial e de serviços, revela a absoluta inadequação de fazer depender o equilíbrio externo da especialização em exportações primárias. O ano deve terminar com um déficit externo ao redor de 80 bilhões de dólares, com provável redução das Reservas Externas, haja vista que não se pode esperar continuamente o ingresso de capital externo para supri-lo.
 
O que precisa ficar claro pra o leitor é que há pressões infl acionárias, por ‘déficit’ externo e por estagnação econômica que conquanto incidam nas conjunturas, são originários de fatores extraconjunturais. E que as políticas conjunturais precisam sinalizar mudança de rumos em relação à dependência externa e à estagnação econômica, sem o que retornaremos ao ciclo vicioso sempre que houver qualquer surto de crescimento econômico.
 
O Brasil de 2013 sinaliza por fora dos círculos empresariais, midiáticos e oficiais que ditam a linguagem da economia, uma clara necessidade por melhoria da qualidade de vida do ambiente urbano e de expectativas de estudo e emprego e para sua juventude. Sinaliza também no mundo agrário uma clara insatisfação com o modelo de economia hegemônico – o agronegócio. E na sociedade em geral há um ambiente difuso de intuição, mais que de consciência, da absoluta inadequação da ‘ordem política’ que nos governa a um preço extorsivo de superfaturamento, relativamente à confiança que lhe é atribuída pelo voto.
 
Dependência externa, estagnação econômica e instabilidade inflacionária, males conjunturais muito bem identificados empiricamente, não são independentes do ambiente de crise econômica, política e social que os acompanham. O enigma parece ser este: decifra-me e age com sabedoria ou te devoro.
 
- Guilherme Costa Delgado é doutor em economia pela Unicamp e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.
 
 
 
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