Participação popular na eleição presidencial

31/05/2002
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Toda eleição para Presidente da República é uma tomada de decisão nacional importante. A maioria dos eleitores não tem consciência disso, porque o sistema de propaganda eleitoral das classes dominantes faz com que o povo discuta detalhes sem importância para o que vai ser decidido. Por exemplo, um montão de papel está sendo gasto para discutir o grau de estudo do Lula, a religião ou o ateísmo de FHC, a combinação inconveniente dos nomes dos candidatos do governo que soa como Serrairrita. Nada disso tem a ver com a decisão que será tomada em novembro e no entanto esta decisão depende do resultado das urnas. Se um dos eleitos for Serra, Garotinho ou Ciro Gomes, a situação do país não vai mudar nada. Os três, em graus diferentes, pretendem continuar o projeto de modernização conservadora de FHC. Dizem que atraindo capitais estrangeiros; liberando a entrada e saída de produtos e investimentos; reduzindo a intervenção estatal na economia; pagando rigorosamente o que o FMI considerar como dívida externa do Brasil, será possível dar emprego, salário, moradia, reforma agrária, educação e saúde para todos os brasileiros. Em uma palavra: dizem que é possível modernizar o país sem alterar sua estrutura social e sem mudar o poder político. Serra declara esta posição explicitamente. O mote de sua campanha -"continuidade sem continuísmo" - significa que pretende introduzir modificações de forma e não de conteúdo na política de FHC. Mudanças no modelo econômico Se o Brasil vier a sofrer outros quatro anos de aprofundamento do neoliberalismo, será mais difícil e penoso reconstruir o que está sendo destruído. Daí a importância da proposta alternativa consistente no Programa do Lula. Esta proposta consiste em mudar o eixo da política econômica, colocando a prioridade na oferta de emprego, no crescimento do mercado interno e no pagamento da dívida social. Tudo o mais, inclusive a questão da dívida externa (cujo pagamento ou não vai depender de um plebiscito) e a modernização dos padrões de consumo das classes ricas, se subordinará às três grandes prioridades acima referidas. Para atende-las, será necessário realizar uma verdadeira reforma agrária, uma reforma urbana e um política decidida de retomada da industrialização. Terra, Teto e Trabalho sintetizam os objetivos desse Programa. O único dos candidatos que tem condições de implantar esse modelo alternativo é o Lula, pois as prioridades mencionadas constituem programa do PT, desde sua fundação. À medida, porém, em que as chances de vitória de Lula parecem aumentar, aumentam na mesma proporção as pressões para o rebaixamento dos objetivos e prioridades do programa petista. Quando os bancos estrangeiros fazem o alvoroço que estão fazendo sobre o "risco" Brasil, caso o Lula vença o pleito, eles estão testando a seriedade do programa petista, inclusive para calibrar o ataque que vão fazer na campanha ao candidato popular. Se o PT ceder a essas pressões e diluir seu discurso, perderá credibilidade. Mas, atenção! Se mantiver firme, precisa preparar-se para a campanha mais agressiva que o Brasil já conheceu. Participação popular O Lula só poderá resistir a esse ataque se contar com a participação ativa dos seus militantes e dos movimentos populares na campanha eleitoral. Mas esta participação precisa ser bem enfocada. Não se trata de sair a reboque do que os marketeiros querem que o Lula diga apenas aquilo que pode lhe dar pontos no eleitorado de classe média e entre os grandes empresários. Trata-se, isto sim, de levar aos eleitores os pontos básicos do Programa do Partido. Em outras palavras: completar a propaganda de caráter mais emocional que os marketeiros irão levar a cabo na TV, nos outdoors etc. com o esclarecimento do verdadeiro significado da eleição do Lula, em termos de transformação social, de mudança do poder e de substituição do programa político de FHC. Independência do MST Esta posição de independência do MST na campanha enquadra-se perfeitamente tanto na ideologia do partido como na ideologia dos movimentos populares. Desde a fundação do PT e do MST, lá no começo dos anos 80, ficou muito claro que um não é "correia de transmissão" do outro. Nem o PT comanda o MST e nem este comanda o PT. Nem para cá, nem para lá. Ambos, o partido e os movimentos são indispensáveis para fazer a transformação política e social do país, mas cada um deve atuar autonomamente no seu campo. Em certos momentos, as ações podem ser conjugadas; em outros, cada um tomará o rumo que considera fundamental para atingir seus objetivos. Com maturidade e inteligência política, porém, pois, nestas alturas, ninguém está aí para "dar ouro pros bandidos". Plínio de Arruda Sampaio é ex-Deputado Federal constituinte, Promotor Público, Consultor da FAO, Professor Universitário, ex-Secretário Agrário do PT e diretor do jornal Correio da Cidadania. Publicado no Jornal Sem Terra, edição de junho.
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