''Não deixe a Bolívia virar uma Argentina'':
- Opinión
“Você quer isso para a Bolívia?”. Essa pergunta aparece no encerramento do principal vídeo publicitário da atual campanha eleitoral do presidente boliviano Evo Morales, que busca sua reeleição, e que para isso adotou como uma de suas estratégias a utilização do exemplo argentino, a crise gerada pela direita no país vizinho, com os efeitos desastrosos das políticas de ajuste do governo macrista.
Morales tentará conquistar seu quarto mandato (se o fizer, igualaria a alemã Angela Merkel, que por ser de direita, não é considerada uma ditadora, e seu país não é visto como antidemocrático) nas eleições do dia 20 de outubro. Para mostrar que seu modelo de estabilidade social enfrenta nestas eleições a adversários cujas propostas neoliberais podem levar à perda dos direitos e do bem-estar conquistados nos últimos anos, ele mostrou os resultados da experiência que os argentinos tiveram durante o governo de Mauricio Macri.
O vídeo da candidatura do Movimento ao Socialismo dura pouco mais de um minuto, e começa com jovens bolivianos contando como o país mudou nesta última década e meia de governo progressista: “nos últimos anos, nós mudamos de vida (…) e hoje nossa maior preocupação é a estabilidade (…) sem dúvidas, são os problemas econômicos (…) como a inflação, o salário, o emprego e a renda (…) por isso, se você pensa como nós (…) preste muita atenção no que se contará à continuação”, dizem diferentes pessoas, fazendo a introdução do relato principal.
E o que veio a continuação foi a participação de uma espécie de correspondente em Buenos Aires, contando os resultados das políticas de Mauricio Macri na Argentina e fazendo um paralelo com as propostas de Carlos Mesa, principal candidato da direita na Bolívia.
A seu favor, o testemunho do vídeo traz imagens da miséria e informações sobre as cifras do desastre econômico argentino: “a Argentina adotou há três anos o mesmo modelo econômico que Carlos Mesa quer implementar aí na Bolívia, e os resultados na Argentina não são nada bons. Os reflexos do desastre econômico argentino são sofridos pelas pessoas em quase todo o país, principalmente no aumento do preço dos alimentos, e dos serviços básicos como a luz, a água e o gás. Cerca de 1,7 milhão de argentinos estão desempregados, o salário mínimo em queda, 32% dos argentinos estão na pobreza, e a inflação é de 48% ao ano”.
Após esse relato, os mesmos jovens do começo do vídeo regressam, para perguntar: “Você quer isso para a Bolívia? (…) Quer voltar a conviver com a inflação? (…) Estamos certos de que não”. E então, o vídeo se encerra com o slogan “Evo presidente, futuro seguro”.
Este é o vídeo da campanha de Evo Morales na íntegra:
A estratégia de Evo lembra muito o discurso antivenezuelano que prega “não deixe o país virar uma Venezuela”, usada por várias candidaturas de direita na América do Sul, como a do próprio Mauricio Macri em 2015 (presidenciais) e em 2017 (legislativas), a do chileno Sebastián Piñera em 2017 e a do brasileiro Jair Bolsonaro em 2018.
Faltando um mês para as eleições, Morales lidera todas as pesquisas eleitorais, com vantagem que varia entre 7% e 16%, dependendo do instituto medidor. Segundo um cálculo realizado pelo diário local El Deber, a média das pesquisas divulgadas entre os meses de julho e setembro mostra o atual presidente (que governa desde 2006) com 37,7% das intenções de voto, enquanto Carlos Mesa aparece com 24,6%. A média dos indecisos entre essas mesas pesquisas é de 8,4%.
No sistema boliviano, para vencer a eleição já no primeiro turno, é preciso ter mais de 50% dos votos válidos, ou mais de 40%, desde que a diferença para com o segundo colocado seja de mais de 10%. Caso isso não aconteça no dia 20 de outubro, o segundo turno acontecerá no dia 15 de dezembro.
25/09/2019
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