A turbulência cambial na América Latina e no mundo
28/01/2014
- Opinión
A turbulência não é só do peso argentino. Nos últimos sete meses a pressão do dólar sobre o valor das moedas da América Latina disparou. Em 2013, o real se desvalorizou 12,96%. No Chile, o peso caiu 8,97%; na Colômbia, 8,63% e no Peru o sol caiu 9,21%. Esta tendência se aprofundou este ano. O real, o peso mexicano e o sol peruano caíram quase 2% em janeiro, enquanto que o peso chileno caiu quase 3% e o da Colômbia mais de 3%. Enquanto isso, o preço das commodities também está caindo. Os metais acumulam uma queda de 12% nos últimos 12 meses, o cobre 10% e soja cerca de 22,30%.
A Carta Maior conversou com Oscar Ugarteche, autor de “A arquitetura financeira mundial” e professor do Instituto de Investigações Econômicas do México, da Universidade Autônoma do México (UNAM), sobre a atual situação da economia internacional.
Há turbulência em todos os mercados financeiros do mundo e o tema principal são as moedas dos países em desenvolvimento ou emergentes, desde a lira turca até o real brasileiro. Estamos diante de uma crise global?
Sim. Na minha avaliação estamos no décimo momento do estouro financeiro de 2007-2008. Tivemos o momento da queda da bolsa de Nova York, a contração de crédito, as medidas de estímulo monetário para enfrentar a crise, a queda do comércio internacional, a crise da zona do euro e avançamos assim até chegar a este momento. Hoje temos uma expectativa de alta da taxa de juro nos Estados Unidos. Este é o fio condutor da turbulência. Com a expectativa desta alta da taxa de juros, há um refluxo dos capitais de curto prazo que haviam ido para países emergentes para especular com as taxas de juros e a cotação das moedas. Mas também está se evaporando outra fonte de especulação, que havia com o preço das commodities.
Como havia uma rentabilidade negativa nos instrumentos de renda fixa como a dívida dos Estados Unidos, a banca de investimentos passou para o mercado das commodities entre outros produtos e com esta especulação os preços subiram. Esta tendência mudou agora com a expectativa de maior rentabilidade nos Estados Unidos. Isso acelerou desde janeiro a queda no preço dos metais, da soja, do cobre, etc. Há analistas que dizem que até 50% dos preços das commodities se devem a esta especulação e só os restantes 50% à oferta e à demanda. É uma medida da pressão de baixa que há hoje sobre o prelo destes produtos.
Dada a estagnação dos Estados Unidos, União Europeia e Japão, os países em desenvolvimento foram um dos polos mais dinâmicos da economia mundial desde o início da crise de 2008. Você acredita que essa etapa terminou?
Estamos ante um péssimo começo de ano. Os países em desenvolvimento vão perder capacidade importadora pela depreciação de suas moedas e a taxa de crescimento, que foi relativamente alta, vai se reduzir a níveis europeus, de 0,5% ou 1%. Em um sentido a crise de 2008 foi positiva para os mercados emergentes e para a América Latina em particular por causa das políticas monetárias dos Estados Unidos. Estávamos crescendo porque havia uma política monetária dos EUA que estava alimentando por um lado o mercado das commodities e, por outro, os fluxos financeiros que especulavam com as taxas de juros e os tipos de câmbio.
Além disso, esta política monetária também alimentou a criação de bolhas nos países desenvolvidos. Hoje os mercados estão desalinhados em relação ao crescimento do PIB, ou seja, estão vivendo uma bolha no mercado de ações.
Quais são os próximos capítulos. Porque nesta sexta, Janet Yellen substitui Bem Bernanke como chefe do Federal Reserve dos Estados Unidos.
Esta nomeação é parte da expectativa sobre uma mudança maior da política monetária. Os países com alta dívida externa pública ou privada terão, sem dúvida, um risco de default. Em nível nacional, a Grécia é o candidato mais óbvio a um default, mas a crise também atingirá Portugal, Espanha e Ucrânia. É possível que vejamos a quebra de alguns bancos. Na América Latina, Brasil e México receberão abalos muito fortes. Grandes empresas que estavam se financiando com crédito internacional se verão muito expostas porque com uma taxa de câmbio muito depreciada as dívidas custam muito mais. Em nossa região, estarão mais vulneráveis os países que dependem mais do preço das commodities e dos fluxos de capital de curto prazo, sobretudo os países em que estes fluxos estão perto de 100% em relação às reservas, como é o caso de Brasil, Chile e México.
A Argentina, neste sentido, não está tão exposta porque sua dívida em dólares não é tão alta e a dívida privada no exterior é quase inexistente. Mas o que é possível, sim, dados seus níveis de inflação, é que se intensifique a busca do dólar como moeda de refúgio. Apesar disso, há alguns economistas que acreditam que os países com exportações industriais podem tirar algum proveito desta desvalorização. Na minha avaliação, isso não acontecerá porque com a tendência deflacionária de Estados Unidos e Europa a demanda será fraca.
E o que acontece com a China e a Ásia em geral?
Eu acredito que a Ásia será a zona menos afetada porque 40% de seu comércio é intra-regional capitaneado pela China. A China está mudando seu modelo exportador para um de estímulo ao consumo doméstico, então tampouco sofrerá tanto um impacto em suas exportações. Além disso, para a China, uma queda do preço das commodities é benéfica e a reversão dos fluxos financeiros não os afeta tanto porque não estão tão envolvidos no mercado financeiro e tem um nível excepcional de reservas.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
https://www.alainet.org/pt/articulo/82707
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