Ataque de Uribe dificulta libertação de reféns
04/03/2008
- Opinión
Especialistas e o próprio presidente equatoriano, Rafael Correa, avaliam que governo colombiano tenta resolver o conflito no país pela saída militar, e não pela negociação política, mesmo em um cenário em que as Farc libertaram reféns de forma unilateral.
"Os cadáveres estavam de pijama, isto é, não houve nenhuma recepção quente. Foram bombardeados e massacrados enquanto dormiam, com uso de tecnologia de ponta, que os localizou na selva, seguramente com a colaboração de potências estrangeiras".
A descrição feita pelo presidente equatoriano, Rafael Correa, no domingo (2), é um indício que não há espaço para uma saída negociada para o conflito armado na Colômbia. A resposta do governo colombiano, de Álvaro Uribe, às Farc foi o combate, justamente dias após a guerrilha se empenhar em negociar a libertação de maneira unilateral de quatro ex-congressistas seqüestrados há seis anos (leia : Farc libertam quatro políticos colombianos).
A incursão militar do Exército da Colômbia, que resultou no assassinato do porta-voz das Farc, Raúl Reyes, e de mais 16 guerrilheiros em território equatoriano desencadeou uma crise diplomática sem precedentes na região andina e alertou os demais países da região, que condenaram a ação comandada por Uribe (Veja: Colômbia mata guerrilheiros das Farc no Equador e abre crise no continente).Mapa crise colômbia2.jpg
O ataque ao território equatoriano traz como consequência a interrupção das negociações para a libertação dos reféns da guerrilha e invoca o nacionalismo antes utilizado pelas ditaduras militares para preparar uma situação de guerra – pouco provável –, mas que favorecer a segunda reeleição do presidente colombiano.
Acordo humanitário
Com a morte de Reyes, principal interlocutor da guerrilha nas negociações de um acordo humanitário com o governo, congelam-se também as esperanças dos familiares de pelo menos 40 sequestrados que há anos estão mantidos em cativeiro. “ Lamento comunicar-lhes que as conversas estavam bastante avançadas para libertar doze reféns, entre eles, Ingrid Betancourt. Tudo foi frustrado pelas mãos belicistas e autoritárias”, afirmou Correa, na noite desta segunda-feira (3) no Palácio de Governo, em Quito.
Uma das consequências da incursão militar colombiana é o congelamento das negociações de um acordo humanitário, explica Ivan Cepeda, representante do Movimento de Vítimas dos Crimes de Estado (Movice). “O acordo entra em uma situação delicada e difícil”, avalia.
As Farc, em nota, disseram que a morte de Reyes não muda a disposição em realizar o acordo humanitário. No entanto, é incontestável o prejuízo. O fato interlocutor do lado da guerrilha era justamente Raúl Reyes, morto pelo exército colombiano. O acordo humanitário proposto pelas Farc prevê a libertação de 40 reféns em troca da liberdade de 500 guerrilheiros presos.
Para a socióloga Consuelo Ahumada, professora da Universidade Jauvariana de Bogotá, a rearticulação do acordo humanitário dependerá do perfil do sucessor de Raúl Reyes. “ É uma situação muito difícil. As posições podem se radicalizar e o acordo ficar estagnado”, disse. “Outra possibilidade é a do sucessor seguir a mesma linha de Reyes e acelerar negociações, mas isso ainda não está claro”, explica Consuelo.
Saída militar ou política?
O presidente equatoriano afirmou que a possibilidade de libertação de Ingrid Betancourt e de outros 11 reféns poderia ter motivado os ataques que resultou na morte de Reyes. “Não podemos descartar que essa foi uma das motivações para o ataque por parte dos inimigos da paz”, disse Rafael Correa.
Nesse raciocínio, a política de Segurança Patriótica do governo Uribe teria seguido a determinação que a saída para o conflito colombiano é militar - e não política. “Para Uribe, não há e não pode haver saída política para o conflito”, explica Cepeda do Movice, filho do senador comunista Manuel Cepeda - assassinado em 1994 por paramilitares das Autodefesas Colombianas (AUC).
Ao libertar seis reféns de maneira unilateral e continuar as negociações com os governos da Venezuela e França, as Farc estariam ampliando o espaço de diálogo no campo internacional. Deste modo, a guerrilha estaria contradizendo a principal linha de ação do governo colombiano. “Há um setor de ultra-direita, muito próximo ao presidente Uribe, que está abertamente contrário a uma saída política e nega a existência de um conflito armado”, explica Ivan Cepeda. “Esses setores afirmam que há uma ameaça terrorista contra um regime democrático”, acrescenta (leia: a ligação de Uribe com os paramilitares).
De acordo com o representante do Movice esses setores do governo colombiano “professam uma ideologia militarista e de total desconhecimento dos direitos humanos e do direito internacional”. Consuelo Ahumada afirma que Uribe não deseja uma negociação e que tampouco distingue o acordo humanitário – que teria efeitos pontuais – de um amplo processo de paz, que requer uma negociação com as guerrilhas e o fim da luta armada que já dura quase 60 anos. “Uribe ganha para que fazer a guerra e o reelegem para isso. Esse é o projeto”, afirma a socióloga.
- Claudia Jardim, Correspondente do Brasil de Fato em Caracas (Venezuela)
Fonte: Brasil de Fato http://www.brasildefato.com.br
"Os cadáveres estavam de pijama, isto é, não houve nenhuma recepção quente. Foram bombardeados e massacrados enquanto dormiam, com uso de tecnologia de ponta, que os localizou na selva, seguramente com a colaboração de potências estrangeiras".
A descrição feita pelo presidente equatoriano, Rafael Correa, no domingo (2), é um indício que não há espaço para uma saída negociada para o conflito armado na Colômbia. A resposta do governo colombiano, de Álvaro Uribe, às Farc foi o combate, justamente dias após a guerrilha se empenhar em negociar a libertação de maneira unilateral de quatro ex-congressistas seqüestrados há seis anos (leia : Farc libertam quatro políticos colombianos).
A incursão militar do Exército da Colômbia, que resultou no assassinato do porta-voz das Farc, Raúl Reyes, e de mais 16 guerrilheiros em território equatoriano desencadeou uma crise diplomática sem precedentes na região andina e alertou os demais países da região, que condenaram a ação comandada por Uribe (Veja: Colômbia mata guerrilheiros das Farc no Equador e abre crise no continente).Mapa crise colômbia2.jpg
O ataque ao território equatoriano traz como consequência a interrupção das negociações para a libertação dos reféns da guerrilha e invoca o nacionalismo antes utilizado pelas ditaduras militares para preparar uma situação de guerra – pouco provável –, mas que favorecer a segunda reeleição do presidente colombiano.
Acordo humanitário
Com a morte de Reyes, principal interlocutor da guerrilha nas negociações de um acordo humanitário com o governo, congelam-se também as esperanças dos familiares de pelo menos 40 sequestrados que há anos estão mantidos em cativeiro. “ Lamento comunicar-lhes que as conversas estavam bastante avançadas para libertar doze reféns, entre eles, Ingrid Betancourt. Tudo foi frustrado pelas mãos belicistas e autoritárias”, afirmou Correa, na noite desta segunda-feira (3) no Palácio de Governo, em Quito.
Uma das consequências da incursão militar colombiana é o congelamento das negociações de um acordo humanitário, explica Ivan Cepeda, representante do Movimento de Vítimas dos Crimes de Estado (Movice). “O acordo entra em uma situação delicada e difícil”, avalia.
As Farc, em nota, disseram que a morte de Reyes não muda a disposição em realizar o acordo humanitário. No entanto, é incontestável o prejuízo. O fato interlocutor do lado da guerrilha era justamente Raúl Reyes, morto pelo exército colombiano. O acordo humanitário proposto pelas Farc prevê a libertação de 40 reféns em troca da liberdade de 500 guerrilheiros presos.
Para a socióloga Consuelo Ahumada, professora da Universidade Jauvariana de Bogotá, a rearticulação do acordo humanitário dependerá do perfil do sucessor de Raúl Reyes. “ É uma situação muito difícil. As posições podem se radicalizar e o acordo ficar estagnado”, disse. “Outra possibilidade é a do sucessor seguir a mesma linha de Reyes e acelerar negociações, mas isso ainda não está claro”, explica Consuelo.
Saída militar ou política?
O presidente equatoriano afirmou que a possibilidade de libertação de Ingrid Betancourt e de outros 11 reféns poderia ter motivado os ataques que resultou na morte de Reyes. “Não podemos descartar que essa foi uma das motivações para o ataque por parte dos inimigos da paz”, disse Rafael Correa.
Nesse raciocínio, a política de Segurança Patriótica do governo Uribe teria seguido a determinação que a saída para o conflito colombiano é militar - e não política. “Para Uribe, não há e não pode haver saída política para o conflito”, explica Cepeda do Movice, filho do senador comunista Manuel Cepeda - assassinado em 1994 por paramilitares das Autodefesas Colombianas (AUC).
Ao libertar seis reféns de maneira unilateral e continuar as negociações com os governos da Venezuela e França, as Farc estariam ampliando o espaço de diálogo no campo internacional. Deste modo, a guerrilha estaria contradizendo a principal linha de ação do governo colombiano. “Há um setor de ultra-direita, muito próximo ao presidente Uribe, que está abertamente contrário a uma saída política e nega a existência de um conflito armado”, explica Ivan Cepeda. “Esses setores afirmam que há uma ameaça terrorista contra um regime democrático”, acrescenta (leia: a ligação de Uribe com os paramilitares).
De acordo com o representante do Movice esses setores do governo colombiano “professam uma ideologia militarista e de total desconhecimento dos direitos humanos e do direito internacional”. Consuelo Ahumada afirma que Uribe não deseja uma negociação e que tampouco distingue o acordo humanitário – que teria efeitos pontuais – de um amplo processo de paz, que requer uma negociação com as guerrilhas e o fim da luta armada que já dura quase 60 anos. “Uribe ganha para que fazer a guerra e o reelegem para isso. Esse é o projeto”, afirma a socióloga.
- Claudia Jardim, Correspondente do Brasil de Fato em Caracas (Venezuela)
Fonte: Brasil de Fato http://www.brasildefato.com.br
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