O mundo está em jogo na eleição francesa
22/04/2007
- Opinión
A eleição francesa sacode o planeta. Pois está em jogo um pouco do destino do mundo, e não somente da França, nos próximos cinco anos. Concluído o primeiro turno, a população está inquieta, dividida entre passado e futuro.
Nicholas Sarkozy obteve 31,1%. Ele representa o fascismo engravatado, que só recorre à farda e às armas em casos extremos. Olhos frios, pálpebras semifechadas e sobrancelhas em arco lhe dão um ar de arrogância e convicção de que a sua é a única verdade. Ele é um político do pensamento único. Sua vitória no primeiro turno surpreende, ainda mais em se tratando de um país que deu à luz a tríade Liberdade-Igualdade-Fraternidade. Neste momento, ele se disfarça atrás do discurso da união (ensemble é o logo da sua campanha). Unir a França em torno de um projeto conservador, neoliberal, alérgico ao mundo de imigrantes que compõe uma parcela crescente da população francesa. Mas sem a mordacidade do candidato da extrema direita, Jean-Marie Le Pen, que obteve mais de 10% dos votos do primeiro turno. Curioso é que o batalhão de Le Pen esteja agora mobilizado, segundo a imprensa, para a derrota de Sarkozy, que roubou de Le Pen a possibilidade de vencer. Sarkozy, cujo programa de direita, como o de Le Pen, pretende aprofundar a demolição dos serviços públicos, debilitar o papel do Estado como regulador do capital, aprofundar a focalização nos valores do sistema centrado no indivíduo abstrato e no conceito egocêntrico de nação.
Ségolène Royal tem a difícil tarefa de apresentar um PS unido e orientado para a mudança. Um PS que se mostrou avançado no discurso e conservador na ação política e econômica, durante os longos anos de liderança do Estado francês. Ségolène pode se tornar a primeira Mulher - Presidente da França. Este é um ponto forte da sua presença na política francesa. Ela representa um projeto de mudança, mas as falsas promessas dos seus antecessores levantam suspeitas e enfraquecem sua imagem. Contudo, ela tem um projeto coerente e uma visão abrangente. Ela consegue articular a diversidade e preencher os interstícios o que parece sem nexo. Ela simboliza a possibilidade do fim das dominações, de classe, de sexo, de raça. Estará ela à altura deste potencial?
Bayrou, o "centrista radical", obteve uma votação surpreendente. Ele é afável e convincente, tem o sorriso fácil e o discurso oportuno. Sua votação triplicou em relação a 2002. Diz ser contra o sistema. Mas q sistema... O da propriedade excludente? O das desigualdades sociais? O das tropas no Afganistão? O da corporatocracia voraz, que só existe se crescer, e crescendo empobrece a gente e destroi o Planeta? Hoje ele está numa posição curiosa. É o fiel da balança. Com seus 18 mais por cento de votos, ele pode decidir o segundo turno daqui a 15 dias. É a encruzilhada para onde se dirigem os dois candidatos vencedores. Ségolène adiantou-se, propondo um diálogo público com Bayrou por qualquer meio que a ele aprouver. Excelente ocasião de ambos testarem suas propostas. É provável que Sarkozy exija o mesmo direito. Bayrou está com as cartas do jogo nas mãos.
Os demais candidatos e candidatas de esquerda tiveram votações inexpressivas, apesar de mensagens vigorosas e promissoras. O voto útil esteve presente, levando o velho PCF a uma esmagadora derrota.
No plano internacional, as energias da nação francesa têm barrado a agressiva expansão do Império estadunidense. Uma possível vitória de Sarkozy tende a aprofundar as divisões do povo da França. Duas voluntárias francesas no Afganistão, uma mulher e um homem, sequestradas pelo Talibã, talvez tenham seu destino selado pela eleição presidencial da França. A tendência com Sarkozy será de um maior envolvimento no Afganistão e, talvez mesmo, no Iraque, ao lado de Bush e de Blair; uma redução dos recursos destinados à cooperação internacional; um aumento do investimento bélico e do comércio de armas; uma aliança mais forte com governos autoritários e subservientes dos países do Sul, a começar pela área de influência francesa na África. Sarkozy no poder pode ter por consequência o endurecimento da posição da França na União Européia e nas instituições multilaterais, e uma competição econômica ainda mais acirrada entre os sáurios corporativos de diferentes bandeiras nos espaços financeiro e comercial. A equação Sarkozy + George W. Bush pode resultar numa ameaça ainda mais grave contra a vida no Planeta.
Durante as duas semanas que nos separam do segundo turno, o Planeta prende a respiração e reza para que prevaleça o bom senso do povo francês.
- Marcos Arruda / PACS
Fuente: Correio Caros Amigos, www.carosamigos.terra.com.br
Nicholas Sarkozy obteve 31,1%. Ele representa o fascismo engravatado, que só recorre à farda e às armas em casos extremos. Olhos frios, pálpebras semifechadas e sobrancelhas em arco lhe dão um ar de arrogância e convicção de que a sua é a única verdade. Ele é um político do pensamento único. Sua vitória no primeiro turno surpreende, ainda mais em se tratando de um país que deu à luz a tríade Liberdade-Igualdade-Fraternidade. Neste momento, ele se disfarça atrás do discurso da união (ensemble é o logo da sua campanha). Unir a França em torno de um projeto conservador, neoliberal, alérgico ao mundo de imigrantes que compõe uma parcela crescente da população francesa. Mas sem a mordacidade do candidato da extrema direita, Jean-Marie Le Pen, que obteve mais de 10% dos votos do primeiro turno. Curioso é que o batalhão de Le Pen esteja agora mobilizado, segundo a imprensa, para a derrota de Sarkozy, que roubou de Le Pen a possibilidade de vencer. Sarkozy, cujo programa de direita, como o de Le Pen, pretende aprofundar a demolição dos serviços públicos, debilitar o papel do Estado como regulador do capital, aprofundar a focalização nos valores do sistema centrado no indivíduo abstrato e no conceito egocêntrico de nação.
Ségolène Royal tem a difícil tarefa de apresentar um PS unido e orientado para a mudança. Um PS que se mostrou avançado no discurso e conservador na ação política e econômica, durante os longos anos de liderança do Estado francês. Ségolène pode se tornar a primeira Mulher - Presidente da França. Este é um ponto forte da sua presença na política francesa. Ela representa um projeto de mudança, mas as falsas promessas dos seus antecessores levantam suspeitas e enfraquecem sua imagem. Contudo, ela tem um projeto coerente e uma visão abrangente. Ela consegue articular a diversidade e preencher os interstícios o que parece sem nexo. Ela simboliza a possibilidade do fim das dominações, de classe, de sexo, de raça. Estará ela à altura deste potencial?
Bayrou, o "centrista radical", obteve uma votação surpreendente. Ele é afável e convincente, tem o sorriso fácil e o discurso oportuno. Sua votação triplicou em relação a 2002. Diz ser contra o sistema. Mas q sistema... O da propriedade excludente? O das desigualdades sociais? O das tropas no Afganistão? O da corporatocracia voraz, que só existe se crescer, e crescendo empobrece a gente e destroi o Planeta? Hoje ele está numa posição curiosa. É o fiel da balança. Com seus 18 mais por cento de votos, ele pode decidir o segundo turno daqui a 15 dias. É a encruzilhada para onde se dirigem os dois candidatos vencedores. Ségolène adiantou-se, propondo um diálogo público com Bayrou por qualquer meio que a ele aprouver. Excelente ocasião de ambos testarem suas propostas. É provável que Sarkozy exija o mesmo direito. Bayrou está com as cartas do jogo nas mãos.
Os demais candidatos e candidatas de esquerda tiveram votações inexpressivas, apesar de mensagens vigorosas e promissoras. O voto útil esteve presente, levando o velho PCF a uma esmagadora derrota.
No plano internacional, as energias da nação francesa têm barrado a agressiva expansão do Império estadunidense. Uma possível vitória de Sarkozy tende a aprofundar as divisões do povo da França. Duas voluntárias francesas no Afganistão, uma mulher e um homem, sequestradas pelo Talibã, talvez tenham seu destino selado pela eleição presidencial da França. A tendência com Sarkozy será de um maior envolvimento no Afganistão e, talvez mesmo, no Iraque, ao lado de Bush e de Blair; uma redução dos recursos destinados à cooperação internacional; um aumento do investimento bélico e do comércio de armas; uma aliança mais forte com governos autoritários e subservientes dos países do Sul, a começar pela área de influência francesa na África. Sarkozy no poder pode ter por consequência o endurecimento da posição da França na União Européia e nas instituições multilaterais, e uma competição econômica ainda mais acirrada entre os sáurios corporativos de diferentes bandeiras nos espaços financeiro e comercial. A equação Sarkozy + George W. Bush pode resultar numa ameaça ainda mais grave contra a vida no Planeta.
Durante as duas semanas que nos separam do segundo turno, o Planeta prende a respiração e reza para que prevaleça o bom senso do povo francês.
- Marcos Arruda / PACS
Fuente: Correio Caros Amigos, www.carosamigos.terra.com.br
https://www.alainet.org/pt/articulo/120809
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