Lideranças exigem do Bid
Assegurar o direito dos povos indígenas ao
23/08/2005
- Opinión
Lideranças indígenas de diferentes povos e organizações indígenas do
Brasil, reunidos durante o Seminário sobre Instituições Financeiras
Multilaterais (IFM's), organizado pela Rede Brasil e a Coiab, em
Brasília, nos dias 17 e 18 de agosto de 2005, remeteram ao Banco
Interamericano de Desenvolvimento (Bid) documento em que observam
limitações das consultas promovidas por esta instituição e
reivindicam o direito dos povos indígenas ao consentimento prévio
informado, bem como à participação das comunidades de forma justa na
repartição de benefícios e/ou compensações. O documento foi
encaminhado ao Bid por ocasião da Consulta a lideranças indígenas
realizada em São José de Costa Rica, nos dias 21 e 22 de agosto de
2005.
Leia a íntegra do documento.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL E O PROCESSO DE CONSULTA DO BANCO
INTERAMERICANO
O Brasil é habitado por mais de 230 povos indígenas, com população de
aproximadamente 400 mil pessoas, que falam 180 línguas.
Os povos indígenas vivem em 626 terras, totalizando 104.932.650
hectares, que correspondem a 12, 33% do território nacional. A
Constituição Federal Brasileira determinou que todas as terras fossem
demarcadas até o ano de 1993, porém o prazo constitucional não foi
cumprido e ainda há diversas terras que não foram demarcadas. Das
terras demarcadas, a maioria encontra-se invadida.
Nas décadas de 70 e 80 foram implantados projetos desenvolvimentistas
com suporte das agencias financeiras multilaterais, tais como
rodovias e hidrelétricas, que prejudicaram o meio ambiente, as terras,
a organização social e a cultura dos povos indígenas.
Nos preocupa a atual Iniciativa de Integração Regional da América do
Sul - IIRSA que tem como objetivo a implantação de infraestrutura
para grandes projetos de desenvolvimento econômico e que
inevitavelmente causarão impactos significativos aos territórios e
povos indígenas.
No ano de 2004 o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID
realizou junto com a Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira - Coiab reuniões de consulta para a elaboração
das novas diretrizes do Banco relacionadas aos povos indígenas.
A Coiab considerando a extensão do país e a diversidade de povos
indígenas propôs a realização de no mínimo três reuniões regionais e
uma nacional. O Banco alegando falta de recursos só apoiou as
reuniões regionais no norte, nordeste e sul do Brasil. Tais reuniões
regionais foram realizadas em pouco tempo e com pouca participação de
lideranças. Além disso, houve dificuldades na comunicação uma vez que
um dos consultores do BID não falava a língua portuguesa. Desta forma
a consulta foi limitada. Entendemos, portanto, que é necessário que a
consulta seja mais ampla e esclarecedora.
Geralmente as diretrizes políticas e operacionais do Banco, bem como
os estudos de impacto ambiental e cultural dos projetos são
apresentados em linguagem bastante técnica e conseqüentemente pouco
compreensíveis. Por isso é necessário que os processos de consulta
incluam a contratação de assessores técnicos de confiança das
comunidades indígenas.
Com relação às consultas especificas sobre os projetos que afetam os
povos indígenas, as despesas devem ser assumidas pelo empreendedor e
que este custeio não implique em condicionar a manifestação final das
comunidades. O que significa que deve ser assegurado o direito dos
povos indígenas ao consentimento prévio informado.
Quando houver o consentimento das comunidades é necessário garantir a
participação das mesmas na elaboração, implementação e monitoramento
dos projetos. Deve também ser garantido a participação das
comunidades de forma justa na repartição de benefícios e/ou
compensações.
O BID deve suspender os empréstimos nos casos de projetos que venham
causar impactos que atentem contra o meio ambiente e a integridade
territorial, física e cultural dos povos afetados.
O BID deve criar um fundo específico para incentivar e apoiar o
desenvolvimento sustentável dos povos indígenas visando superar a
situação de pobreza que afeta muitos povos e o fortalecimento de seus
sistemas tradicionais de proteção da biodiversidade, dos recursos
hídricos e o meio ambiente em geral. Esse fundo deve ser gerido e ter
suas diretrizes estabelecidas em conjunto com as organizações e
lideranças desses povos.
Finalmente, é necessário que sejam avaliados os passivos ambientais e
culturais dos empreendimentos que impactaram povos indígenas e que
estes sejam devidamente compensados.
Brasília, 19 de agosto de 2005.
- Assessoria de comunicação da Coiab
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