Xeque mate ao regime
03/06/2014
- Opinión
O regime desmorona-se, morre, e na sua agonia, o rei abdica. Nunca o regime surgido da Transição tinha sido tão questionado como agora. Os pilares que o sustentam, a monarquia, o poder judicial e o bipartidarismo, estão há muito tempo fortemente deslegitimados. Não acreditamos já nas suas mentiras, que procuram sustentar um regime que cai em pedaços. O que até há muito pouco tempo parecia impossível, agora torna-se uma realidade. Empurremos com força, para abrir ainda mais essa brecha que a crise económica, social e política tornou possível.
Desde a caça de elefantes de “sua majestade” no Botswana, passando pela imputação do seu genro Iñaki Urdangarín no caso Nóos, o envolvimento da Infanta Cristina na teia, até às múltiplas, e milionárias, operações à anca do monarca, faturadas ao erário público, a Casa Real converteu-se numa caricatura de si própria. Um dos principais defensores desta “democracia” foi atingido, muito atingido, mas não foi afundado.
O anúncio da abdicação real é uma última tentativa, desesperada, para salvar a situação, uma tentativa de “make up” para relegitimar não só a monarquia mas também todo o seu séquito de juízes, políticos, comentadores… que durante tantos anos, demasiados, têm vivido à custa dessa falsa Transição, tentando apagar ou mascarar o passado coletivo. O nosso esquecimento, foi o substrato da sua vitória, não só moral mas também política e económica.
A crise económica convertida numa profunda crise social e, também política, pôs em xeque o rei e o regime de 78. As pessoas disseram “já basta”. Vimo-lo com a emergência do 15M, há três anos atrás, com a extensão da desobediência civil, com a ocupação de casas vazias, casas que estão nas mãos dos bancos, com um amplo apoio popular, apesar da criminalização do protesto. A mais pobreza, mais dor, corresponde, graças a essa mobilização, a mais consciência de quem ganha com esta situação, banqueiros, políticos, e de quem perde.
O auge do soberanismo na Catalunha também encostou o regime às cordas. Assinalando o carácter profundamente antidemocrático de uma Constituição que não permite aos povos o direito de decidirem. Agora, as eleições europeias deram “o golpe de misericórdia” num regime em decomposição. A perda de mais de cinco milhões de votos por parte do PP e do PSOE. A emergência do Podemos, com cinco mandatos. O regime fica nervoso, muito nervoso.
A abdicação real é a última tentativa de salvação. No entanto, recordemos, o sistema tem capacidade de manobra. A abdicação do rei mostra a debilidade dos pilares do regime, e a força popular. Mas, não queremos nem Juan Carlos nem Felipe. É hora de sair à rua, exigir a abertura de um processo constituinte em todo o Estado, poder decidir que futuro queremos. Passar à ofensiva: xeque mate ao regime.
- Esther Vivas é ativista e investigadora em movimentos sociais e políticas agrícolas e alimentares. Licenciada em jornalismo e mestre em sociologia.
Artigo publicado a 2 de junho de 2014 em publico.es. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net
04/06/2014
https://www.alainet.org/pt/articulo/86106
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