Por que o Fórum Social Mundial se esgotou
14/11/2013
- Opinión
O Forum Social Mundial foi a primeira reação internacional à onda neoliberal que passou a devastar o mundo nas ultimas décadas do século passado. Era uma onda tão devastadora, que o lema do FSM era minimalista: Um outro mundo é possível. Estava buscando afirmar a desconformidade com as teses do fim da história e o Consenso de Washington.
Essas teses, nascidas na direita – Reagan e Thatcher – tinham se propagado para outras correntes – social democracia, nacionalismos -, revelando sua capacidade hegemônica. O FSM nasceu na contramão dessa onda e teve um sucesso imediato, demonstrando o potencial que a resistência a essa onda despertava.
Seu auge foram as mobilizações contra a guerra do Iraque, a maior das manifestações conhecidas até aqui, em que o FSM teve um importante papel convocador. A partir dali se iniciou um declínio do FSM, até sua intranscendência atual.
O próprio fato de não se fazer um balanço das manifestações e discutir a forma de dar continuidade à luta pela solução pacífica e não violenta dos conflitos mundiais, já revelava uma debilidade fundamental do FSM. A hegemonia de ONGs e de alguns teóricos ligados à concepção dessas entidades foi responsável pela decadência do FSM.
O FSM tinha nascido no marco de uma ambígua reação ideológica e política no fim da guerra fria e a posição frente ao Estado foi determinante para essa ambiguidade. É preciso recordar que o lema central de Reagan foi de que o Estado não era a solução, mas o problema.
Essa afirmação fez parte da nova hegemonia liberal, com sua vertente econômica do Estado mínimo – com a correspondente centralidade do mercado – e política, de promoção de uma chamada “sociedade civil”, com contornos imprecisos e fortemente permeáveis a interpretações ambíguas. ONGs e interpretações teóricas dentro do próprio FSM pregavam contra o Estado. Nesse campo ambíguo se confundiam ONGs, visões teóricas e o próprio campo neoliberal.
Não por acaso as ONGs tomavam como uma questão de princípio que os partidos não estivessem no FSM. O que chegou ao absurdo que presidentes latinoamericanos como Hugo Chavez, Evo Morales, Rafael Correa, Lula – tiveram que fazer atos paralelos nos FSM, fora da programação oficial.
Era uma representação gráfica de como o FSM se desguiava dos caminhos reais de superação do neoliberalismo. Que se dava pela ação dos novos governos, que rompiam com a centralidade dos ajustes fiscais do neoliberalismo e impondo a prioridade das políticas sociais. Que priorizam os processos de integração regional e os intercâmbios Sul-Sul, ao invés da proposta da globalização neoliberal dos Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos.
E, além disso, resgataram o papel do Estado, como indutor do crescimento econômico e como garantia dos direitos sociais. As próprias propostas do FSM, entre outras, de recuperação dos direitos sociais expropriados pelo neoliberalismo e a regulação da circulação do capital financeiro, só poderiam ser realizadas através de Estados. Renegando o Estado em favor de uma “sociedade civil”, as ONGs e intelectuais – em geral europeus ou latino-americanos, mas com uma visão eurocêntrica – perderam a pista de por onde avançava concretamente a superação do neoliberalismo.
Enquanto a América Latina, que havia sido vítima privilegiada do neoliberalismo, elegia e consolidava governos antineoliberais, o FSM, ao perder a sintonia com a história real, foi se esvaziando. As ONGs caracterizam os Foros como lugar apenas de troca de experiências entre distintos movimentos. Não passaram a ser sequer um lugar de debate entre os governos posneoliberais e os movimentos sociais.
As ONGs e os teóricos da “sociedade civil” tiveram seu paradigma liberal, anti-Estado, superado pela realidade. Vários deles passaram a tomar governos progressistas latinoamericanos, como os de Evo Morales, de Rafael Correa, do Lula ou da Dilma, como seus inimigos fundamentais, prestando-se a servir à direita desses países.
Os erros teóricos são pagos de forma grave pela realidade, relegando o FSM à intranscendência e as visões equivocadas que se articularam em torno dele, aos graves erros políticos, eurocentristas e liberais.
Essas teses, nascidas na direita – Reagan e Thatcher – tinham se propagado para outras correntes – social democracia, nacionalismos -, revelando sua capacidade hegemônica. O FSM nasceu na contramão dessa onda e teve um sucesso imediato, demonstrando o potencial que a resistência a essa onda despertava.
Seu auge foram as mobilizações contra a guerra do Iraque, a maior das manifestações conhecidas até aqui, em que o FSM teve um importante papel convocador. A partir dali se iniciou um declínio do FSM, até sua intranscendência atual.
O próprio fato de não se fazer um balanço das manifestações e discutir a forma de dar continuidade à luta pela solução pacífica e não violenta dos conflitos mundiais, já revelava uma debilidade fundamental do FSM. A hegemonia de ONGs e de alguns teóricos ligados à concepção dessas entidades foi responsável pela decadência do FSM.
O FSM tinha nascido no marco de uma ambígua reação ideológica e política no fim da guerra fria e a posição frente ao Estado foi determinante para essa ambiguidade. É preciso recordar que o lema central de Reagan foi de que o Estado não era a solução, mas o problema.
Essa afirmação fez parte da nova hegemonia liberal, com sua vertente econômica do Estado mínimo – com a correspondente centralidade do mercado – e política, de promoção de uma chamada “sociedade civil”, com contornos imprecisos e fortemente permeáveis a interpretações ambíguas. ONGs e interpretações teóricas dentro do próprio FSM pregavam contra o Estado. Nesse campo ambíguo se confundiam ONGs, visões teóricas e o próprio campo neoliberal.
Não por acaso as ONGs tomavam como uma questão de princípio que os partidos não estivessem no FSM. O que chegou ao absurdo que presidentes latinoamericanos como Hugo Chavez, Evo Morales, Rafael Correa, Lula – tiveram que fazer atos paralelos nos FSM, fora da programação oficial.
Era uma representação gráfica de como o FSM se desguiava dos caminhos reais de superação do neoliberalismo. Que se dava pela ação dos novos governos, que rompiam com a centralidade dos ajustes fiscais do neoliberalismo e impondo a prioridade das políticas sociais. Que priorizam os processos de integração regional e os intercâmbios Sul-Sul, ao invés da proposta da globalização neoliberal dos Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos.
E, além disso, resgataram o papel do Estado, como indutor do crescimento econômico e como garantia dos direitos sociais. As próprias propostas do FSM, entre outras, de recuperação dos direitos sociais expropriados pelo neoliberalismo e a regulação da circulação do capital financeiro, só poderiam ser realizadas através de Estados. Renegando o Estado em favor de uma “sociedade civil”, as ONGs e intelectuais – em geral europeus ou latino-americanos, mas com uma visão eurocêntrica – perderam a pista de por onde avançava concretamente a superação do neoliberalismo.
Enquanto a América Latina, que havia sido vítima privilegiada do neoliberalismo, elegia e consolidava governos antineoliberais, o FSM, ao perder a sintonia com a história real, foi se esvaziando. As ONGs caracterizam os Foros como lugar apenas de troca de experiências entre distintos movimentos. Não passaram a ser sequer um lugar de debate entre os governos posneoliberais e os movimentos sociais.
As ONGs e os teóricos da “sociedade civil” tiveram seu paradigma liberal, anti-Estado, superado pela realidade. Vários deles passaram a tomar governos progressistas latinoamericanos, como os de Evo Morales, de Rafael Correa, do Lula ou da Dilma, como seus inimigos fundamentais, prestando-se a servir à direita desses países.
Os erros teóricos são pagos de forma grave pela realidade, relegando o FSM à intranscendência e as visões equivocadas que se articularam em torno dele, aos graves erros políticos, eurocentristas e liberais.
13/11/2013
https://www.alainet.org/pt/articulo/80840
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