Bits e microchips de guerra

19/10/2013
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Dilma Rousseff, em seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas em Nova York em 24 de setembro de 2013, manifestou seu receio de que a Internet transforme-se no “novo campo de batalha entre os Estados”. Há unanimidade de que algo precisa ser feito para coibir que a privacidade dos 7 bilhões de habitantes da Terra não se guarde num microchip do escritório do Facebook e noutro da Agência de Segurança Nacional (NSA, da sigla em inglês National Security Agency) de USA Fora da Lei.
 
Entretanto, nossa preocupação com a privacidade no uso da Internet não se deve radicalizar a ponto de levar a sério um “controle social da mídia” rigoroso em vez de simplesmente navegar noutro website com o qual temos afinidade ou desligar o televisor quando discordamos da programação de algum canal. Muito menos desejável seria o modelo de controle de informação que o Partido Comunista da China impõe aos seus usuários da Internet; naquele país, proíbe-se o acesso a vários domínios (endereços virtuais) de que o governo chinês suspeite que haja conteúdo impróprio.
 
Evidentemente, os meios de comunicação e informação (sobretudo a Internet) trazem benefícios inéditos ao processo globalizador, que surgiu muito antes mas se nota claramente a partir dos anos 1990. Porém, os países que se prejudicam com a desindustrialização e a falta de investimentos em tecnologia têm menos influência sobre eles. Desta forma, a confissão de Edward Snowden provoca repúdio generalizado a USA Fora da Lei e seus aliados, como se comprova pela retenção do companheiro do jornalista Glenn Greenwald num aeroporto de Cool Britannia por agentes migratórios.
 
Naturalmente, a atenção das autoridades diplomáticas brasileiras voltou-se a este episódio e ao desespero dos cúmplices nórdicos de punir os responsáveis pelo vazamento de informação procedente de espionagem. E não é à toa que o vale-tudo vem à tona. Reportagem do Fantástico de 6 de outubro de 2013 indica que espiões de USA Fora da Lei não só escutaram telefonemas do Palácio do Planalto como também os do Ministério de Minas e Energia. As ligações de burocratas deste Ministério com os de outros países sobre assuntos energéticos estratégicos permite a espiões de USA Fora da Lei (e possivelmente do Canadá) fazer mapeamentos para prever atitudes em negociações.
 
Tendo em vista alguns destes desafios da era da comunicação e da informação, o Ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, fez uma proposta em 11 de outubro de 2013 durante sua palestra a estudantes de Relações Internacionais na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É a da criação da Escola Nacional de Defesa Cibernética, malgrado a restrição orçamentária do governo federal em defesa e a dificuldade de reunir profissionais altamente capacitados para trabalhar no Brasil nos setores público e privado.
 
Uma grande preocupação de gestores do governo brasileiro, neste momento, é a de organizar seus setores de desenvolvimento estrategicamente em regiões diversas do país, de investir na formação acadêmica de brasileiros no exterior (Programa Ciência sem Fronteiras), e de educar bem os jovens no Ensino Básico. Certamente um investidor estrangeiro no Brasil está mais interessado em vender seu produto enquanto desfruta de suas férias no satélite Elysium que em reforçar nossa consciência de cidadania.
 
A Internet, que se criou por USA Fora da Lei como instrumento militar, continuará sendo-o enquanto não se estabeleçam regras mais claras de convivência e interação neste meio de comunicação. Por isso, as políticas públicas lançam um novo olhar sobre as tecnologias de comunicação e informação. Embora eu opine que a Internet traz mais benefícios que malefícios, todo usuário precavido evitará que os bits e microchips que usa em sua educação e seu entretenimento convertam-se em instrumentos de uma guerra cibernética.
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/80270

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