Quem ganha e quem perde com os acordos da Síria
13/09/2013
- Opinión
Quando um não quer, dois não brigam. E quando nenhum quer briga, aí sim que não há briga.
Por razões distintas, ninguém – salvo os opositores internos – queriam os bombardeios prometidos pelos EUA sobre a Síria. O governo sírio, pelos danos incalculáveis que os bombardeios – mesmo se prometidos como de curta duração e pouco alcance – poderia ter. A Rússia, porque colocaria um dilema difícil de responder e se envolver diretamente em um conflito com os EUA ou assisti-lo e se desmoralizar. Os EUA, porque o governo Obama não tinha apoio nem da Grã Bretanha, nem da ONU, nem do Congresso, nem da opinião publica e nem dos militares.
Dois deslizes verbais condicionavam o conflito. O da “linha vermelha” de Obama, há um ano, marcando o limite do uso de armas de gás, que levaria os EUA a intervir, caso fosse ultrapassado. E a afirmação recente de John Kerry de que a única alternativa aos bombardeios seria se o governo da Síria submetesse seus armamentos de gás a uma inspeção internacional.
O primeiro obrigava Obama a agir, senão se desmoralizaria, até porque seu governo, o da Grã Bretanha e o da França, embora não exibindo, diziam ter provas insofismáveis que esse tipo de armamento tinha sido utilizado pelo governo de Assad. Não havia, portanto, alternativa senão atacar, salvo que o faria sem apoios políticos mínimos.
O segundo deslize foi tomado ao pé da letra pelo governo da Rússia, que imediatamente consultou o governo sírio e formulou as bases de um plano de paz. A proposta veio a calhar para o impasse em que se encontrava o governo Obama, e este aceitou, mesmo se tentando disfarçar o recuo, alegando que a proposta fora possível pelas suas ameaças de bombardeios.
Mas, concretamente, não haveria punição à Síria, nem tentativa de dissuasão de que voltasse a usar as mesmas armas. Algumas bravatas continuaram a pairar nas declarações, para dissimular que os EUA recuavam de suas posições.
Do acordo, todos saem contentes, menos os opositores internos, que contavam com o enfraquecimento do governo de Assad para tentar reverter uma situação de guerra em que claramente estão sendo derrotados. Alguns aliados da região – como a Turquia, a Arábia Saudita, o Kuait – também não viram com bons olhos, mas não têm autonomia para agir por conta própria, dependem em tudo do que façam os EUA.
Das negociações sai fortalecida a Rússia – que aparece não apenas como o grande pacificador, como também como o grande operador diplomático, que tem diálogo com todos os agentes do conflito, especialmente Síria e EUA. Sai ganhando também o governo da Síria, que não apenas evita os bombardeios, como pode dar continuidade ao conflito interno, em que vai claramente levando vantagem.
Sai fortalecido também o novo Papa, que se jogou numa campanha contra a guerra – incluindo denúncia da indústria bélica, que seria a grande vitoriosa de um novo conflito.
O governo Obama sai chamuscado, não conseguiu gerar as condições políticas – internas e externas – para usar sua superioridade militar. As ambiguidades e contradições das declarações de Obama e Kerry demonstram como a vontade de exercer seu papel de “polícia do mundo” não conta com simpatia nem no povo norte-americano, nem de seus tradicionais aliados.
Por razões distintas, ninguém – salvo os opositores internos – queriam os bombardeios prometidos pelos EUA sobre a Síria. O governo sírio, pelos danos incalculáveis que os bombardeios – mesmo se prometidos como de curta duração e pouco alcance – poderia ter. A Rússia, porque colocaria um dilema difícil de responder e se envolver diretamente em um conflito com os EUA ou assisti-lo e se desmoralizar. Os EUA, porque o governo Obama não tinha apoio nem da Grã Bretanha, nem da ONU, nem do Congresso, nem da opinião publica e nem dos militares.
Dois deslizes verbais condicionavam o conflito. O da “linha vermelha” de Obama, há um ano, marcando o limite do uso de armas de gás, que levaria os EUA a intervir, caso fosse ultrapassado. E a afirmação recente de John Kerry de que a única alternativa aos bombardeios seria se o governo da Síria submetesse seus armamentos de gás a uma inspeção internacional.
O primeiro obrigava Obama a agir, senão se desmoralizaria, até porque seu governo, o da Grã Bretanha e o da França, embora não exibindo, diziam ter provas insofismáveis que esse tipo de armamento tinha sido utilizado pelo governo de Assad. Não havia, portanto, alternativa senão atacar, salvo que o faria sem apoios políticos mínimos.
O segundo deslize foi tomado ao pé da letra pelo governo da Rússia, que imediatamente consultou o governo sírio e formulou as bases de um plano de paz. A proposta veio a calhar para o impasse em que se encontrava o governo Obama, e este aceitou, mesmo se tentando disfarçar o recuo, alegando que a proposta fora possível pelas suas ameaças de bombardeios.
Mas, concretamente, não haveria punição à Síria, nem tentativa de dissuasão de que voltasse a usar as mesmas armas. Algumas bravatas continuaram a pairar nas declarações, para dissimular que os EUA recuavam de suas posições.
Do acordo, todos saem contentes, menos os opositores internos, que contavam com o enfraquecimento do governo de Assad para tentar reverter uma situação de guerra em que claramente estão sendo derrotados. Alguns aliados da região – como a Turquia, a Arábia Saudita, o Kuait – também não viram com bons olhos, mas não têm autonomia para agir por conta própria, dependem em tudo do que façam os EUA.
Das negociações sai fortalecida a Rússia – que aparece não apenas como o grande pacificador, como também como o grande operador diplomático, que tem diálogo com todos os agentes do conflito, especialmente Síria e EUA. Sai ganhando também o governo da Síria, que não apenas evita os bombardeios, como pode dar continuidade ao conflito interno, em que vai claramente levando vantagem.
Sai fortalecido também o novo Papa, que se jogou numa campanha contra a guerra – incluindo denúncia da indústria bélica, que seria a grande vitoriosa de um novo conflito.
O governo Obama sai chamuscado, não conseguiu gerar as condições políticas – internas e externas – para usar sua superioridade militar. As ambiguidades e contradições das declarações de Obama e Kerry demonstram como a vontade de exercer seu papel de “polícia do mundo” não conta com simpatia nem no povo norte-americano, nem de seus tradicionais aliados.
https://www.alainet.org/pt/articulo/79333
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