Horizontalidade na luta de classes
03/07/2013
- Opinión
Desde o início que cobravam a diminuição das tarifas do transporte público, o Movimento Passe Livre (MPL) não demonstrou interesse em se destacar como o protagonista dos protestos que se alastraram pelo país. Pelo contrário. Em todas as entrevistas concedidas à imprensa, integrantes do movimento disseram que “essa luta quem faz é o povo”.
Diferentemente de outros movimentos sociais, o MPL se organiza de maneira horizontal, ou seja, na busca pela igualdade de participação política. A comunicação se dá entre todos do grupo, e a adesão a uma proposta se faz por convicção, como declara Matheus Preis, integrante do movimento
“Todo mundo tem espaço para participar das deliberações coletivamente. Nesse sentido, a gente acaba tomando decisões mais acertadas por terem mais pessoas participando do processo da discussão da linha política do coletivo,” declara.
Apartidarismo
O apartidarismo também está na base do movimento, mas isso não significa que ele seja antipartido. Os partidos políticos são bem-vindos nas manifestações, mas não participam do MPL enquanto organizações. Pessoas filiadas a partidos podem aderir ao movimento enquanto indivíduos.
Preis acredita que a adesão popular, tanto nas ruas quanto no movimento, tenha sido motivada por conta da não ligação partidária do MPL e das decisões tomadas coletivamente.
“Nós achamos que nenhum militante deve participar mais do que outros de maneira determinada. A gente estabelece uma relação muito forte devido à horizontalidade, por isso, construímos sempre com o coletivo, todo mundo junto.”
Para Ruivo Lopes, membro do coletivo Sarau Perifatividade, da zona sul de São Paulo, o MPL deu um grande exemplo de organização que permitiu maior participação nos debates.
“Quanto mais essa horizontalidade politizada e afinada, sobretudo com os princípios coordenados coletivamente [for posta em prática], sem dúvida, os movimentos sociais e populares serão ainda mais fortalecidos. A gente não pode desperdiçar esse exemplo”, avalia.
Grazi Massoneto, integrante do movimento Ocupa Sampa, que atuou em manifestações em São Paulo no ano de 2011 e 2012, avalia que a horizontalidade permite mais diálogo por ser mais aberta.
“Com a horizontalidade, ninguém precisa se preocupar em aceitar o que alguém de cima falou, pois não existe esse ‘de cima’. As pessoas são mais livres para manifestar seu pensamento”, explica.
Atuante em movimentos sociais há 30 anos, Givanildo Manoel (Giva), hoje militante do PSOL, diz que sindicatos e partidos de esquerda sempre lutaram para que as relações fossem as mais horizontais e democráticas possíveis. No entanto, ele explica que o processo de burocratização e institucionalização foi dando espaço para uma estrutura mais verticalizada, retirando parte do protagonismo dos trabalhadores.
“O êxito das lutas [do MPL] nesse último período oxigenará, possibilitando mudanças importantes nas organizações de forma geral.”
Atuação nas periferias
Além da luta contra o aumento das tarifas, o MPL realiza atividades sobre o transporte público em bairros afastados do centro da cidade. Além disso, também apoia outras lutas de movimentos sociais, como, por exemplo, as organizações que lutam por moradia.
Fernando Ferrari, militante do Luta Popular, movimento que atua nas periferias de São Paulo e em outras regiões, reconhece a participação do MPL como fundamental para dar continuidade nas ruas. “O MPL foi um movimento que deu um ponta pé inicial para a retomada das ruas. O MPL foi primordial para lutar por um movimento que é de todos”, afirma.
Preis aponta que o movimento sempre busca a participação popular para que todos tenham maior apropriação da pauta. Para ele, é mais produtivo quando as pessoas participam das discussões. “Então a gente não chega lá [nas periferias] para dar palestra. A gente chega para discutir mesmo, de uma forma mais horizontal”, conclui.
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