John Pilger e Roger Waters em Londres:

“Libertem Assange já!”

“Não é exagero dizer que o tratamento e a perseguição de Julian Assange são a maneira como as ditaduras tratam um prisioneiro político”.

06/09/2019
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“Liberdade para Assange”: protesto em frente a prisão de Belmarsh em Londres
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O ex-líder da banda Pink Floyd, Roger Waters, e o jornalista e cineasta John Pilger conclamaram em Londres pela imediata libertação do jornalista Julian Assange, encarcerado em uma prisão de segurança máxima britânica e sob ameaça de extradição para os EUA de Trump, em ato na segunda-feira que culminou com uma apresentação da canção “Wish You Were Here” (‘Gostaria que você estivesse aqui’), com seus versos transformados em declaração de solidariedade ao fundador do WikiLeaks.

 

Também falou no ato o irmão de Assange, Gabriel Shipton, Uma multidão se juntou diante do Ministério do Interior, aos brados de “só há uma decisão: sem extradição!” e “libertem Julian Assange!”

 

A rua do Ministério do Interior foi tomada pela manifestação pela liberdade de Assange e contra a sua extradição para os EUA

 

Pilger, também australiano como Assange e amigo dele, abriu o evento com um discurso vibrante, em que denunciou sua condição de preso político.

 

“O comportamento do governo britânico em relação a Julian Assange é uma vergonha. Uma profanação da própria noção de direitos humanos”, afirmou, apontando para o prédio do Ministério do Interior britânico.

 

“Não é exagero dizer que o tratamento e a perseguição de Julian Assange são a maneira como as ditaduras tratam um prisioneiro político”, apontou.

 

Pilger relatou que estivera visitando o jornalista na prisão no fim de semana e que quando perguntou a este o que gostaria que fosse dito no ato, a resposta de Assange fora: “Diga que não sou só eu. É muito mais amplo. Somos todos nós, todos os jornalistas e editores que fazem seu trabalho estão em perigo”.

 

“O perigo que Julian Assange enfrenta pode facilmente se estender aos editores presentes e passados do The Guardian, The New York Times, Der Spiegel, El País, The Sydney Morning Herald, e muitos outros jornais e mídias que publicaram as revelações do WikiLeaks sobre as mentiras e os crimes de nossos governos”, continuou Pilger.

 

Não poderia ser mais claro “o significado da extradição de Assange”, destacou o cineasta.

 

Como ele assinalou, Assange não é um cidadão norte-americano, é australiano; o WikiLeaks não é uma organização de notícias norte-americana e a publicação das denúncias que fez não foi em solo norte-americano nem por um site sediado nos EUA.

 

“Não importa quem você é ou de onde você é, se expuser os crimes dos governos, você será caçado, sequestrado e enviado aos EUA como espião”, advertiu.

 

Pilger destacou que “17 das 18 acusações que Julian enfrenta nos Estados Unidos se referem ao trabalho rotineiro de um jornalista investigativo, protegido pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA” – e inclusive as denúncias do WikiLeaks foram reproduzidas nos maiores jornais do mundo.

 

Ele denunciou, ainda, que Assange está sendo impedido de preparar adequadamente a defesa diante do processo de extradição.

 

“A coisa toda é uma farsa. Os promotores dos EUA sabem que é uma farsa, o governo britânico sabe que é uma farsa, o governo australiano sabe que é uma farsa”, afirmou Pilger.

 

Ele acrescentou que é por isso “que Julian fica trancado por 21 horas por dia em uma prisão de segurança máxima e tratado pior do que um assassino”. Trata-se de que ele deve ser feito “de exemplo”. “O que acontece com Julian Assange e Chelsea Manning é para nos intimidar, para nos assustar e silenciar”, advertiu.

 

“Ao defender Julian Assange, defendemos nossos direitos mais sagrados”, enfatizou Pilger, que concluiu com uma conclamação a todas as pessoas de bem: “fale agora ou acorde uma manhã com o silêncio de um novo tipo de tirania. A escolha é nossa”.

 

Calorosamente recebido, o irmão de Julian, Gabriel Shipton, contou sua visita à prisão de Belmarsh no mês passado. “Eu o abracei, e ele me disse que esse lugar em que ele estava era um inferno.”

 

“Depois, minha filha quis saber por que seu tio foi preso. ‘Ele fez algo ruim, pai?’, ela perguntou”, relatou Gabriel, acrescentando ter buscado “explicar de uma maneira que uma criança de cinco anos pudesse entender”.

 

E concluiu “como irmão de Julian, e em nome de seus filhos, outros irmãos e irmãs, sobrinhas e sobrinhos, mãe e pai”, exortando o ministro do Interior do Reino Unido “a bloquear a extradição para os EUA”.

 

“Ver todos vocês aqui hoje é profundamente emocionante”, afirmou Waters ao subir ao palco acompanhado do guitarrista Andrew Fairweather Low. “Como nos colocamos na posição de Julian Assange em confinamento solitário? Ou daquele garoto na Síria, ou na Palestina ou um Rohingya sendo destruído por essas pessoas nesse edifício aqui [o Ministério do Interior]?”

 

Antes de apresentar a faixa-título de um dos álbuns mais celebrados do Pink Floyd, Waters se referiu ao significado da letra da canção “Wish You Were Here”: “você trocaria um papel de coadjuvante na luta, por um papel principal em uma gaiola?”

 

Em resposta à própria questão, Waters respondeu: “Bem, não, eu não trocaria. Esta é a minha parte nesta luta [novamente apontando para o Ministério do Interior], e eu prefiro estar aqui com todos vocês, que também estão participando da luta, em vez de aceitar um papel de protagonista dentro da gaiola”.

 

“Wish You Were Here” foi acompanhada por uma multidão, que sentou na rua, interrompendo o trânsito. Ao concluir a apresentação, Waters agradeceu a todos e gritou: “Julian Assange, estamos com você! Libertem Julian Assange!”, com um coro de resposta, “Libertem Julian Assange! Libertem Julian Assange!”

 

A ideia do ato foi de Waters, que disse a Pilger que estava disposto a fazer um show diante da penitenciária de segurança máxima em que Assange está encarcerado, e como não era possível, decidiu-se pelo ato diante do Ministério em Londres. Também estava presente o atual editor do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, que se disse tocado pela quantidade de gente que apareceu em solidariedade a Julian.

 

“Apesar da hostilidade da mídia, o apoio é crescente”, ressaltou Hrafnsson, que apenas há dez dias conseguiu superar os obstáculos para poder ver Assange na prisão. Ele acrescentou que para o jornalista encarcerado essa mensagem é muito importante, traz “esperança e otimismo”. Emmy Butlin, do Comitê de Defesa Julian Assange, estava radiante com a manifestação e solidariedade a Julian. Ela anunciou que a ideia é, no próximo dia 28, um sábado, fazer uma manifestação pela libertação de Assange na porta da penitenciária de Belmarsh em que ele está encarcerado.

 

6 de setembro de 2019

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