Sinal de vida: Brasil sai do estado de coma com protestos estudantis contra Bolsonaro
- Opinión
Em estado comatoso desde a posse de Bolsonaro, o Brasil deu sinal de vida na segunda-feira contra o processo de destruição das instituições.
Os meios de comunicação tentaram minimizar as grandes manifestações estudantis no Rio, em Salvador e outras capitais, mas agora não dá mais para esconder que o país acordou.
Nas mesmas redes sociais em que militares e olavetes se estapeiam sem parar, num espetáculo degradante para as Forças Armadas, imagens das mídias alternativas de várias partes do país mostraram durante todo o dia que tudo tem um limite.
O corte de 30% das verbas das universidades e institutos federais foi o estopim para mobilizar pais, estudantes e professores em defesa do ensino público, tomando as ruas para denunciar o que está acontecendo.
Assim como aconteceu em 2013, nas jornadas de junho contra o aumento dos 20 centavos nas tarifas de ônibus, em que pequenos protestos se multiplicaram rapidamente pelo país, em escala crescente, num rastilho de pólvora, a classe política foi mais uma vez surpreendida.
O governo paramilitar bolsonarista convocou logo a Polícia do Exército, com metralhadoras e uniformes de campanha, e a oposição ficou só assistindo de longe, sem dar um pio.
Desta vez, não teve, nem terá, a Rede Globo com suas intermináveis transmissões ao vivo para convocar a população a protestar contra o governo Dilma, que passou a ser o principal alvo das manifestações “apartidárias e espontâneas” dos paneleiros com camisas da CBF, que acabaram desaguando no impeachment da presidente eleita.
A grotesca troca de ofensas entre generais e o desvairado guru da Virginia, com a participação especial dos filhos do presidente, condecorados e elogiados por Bolsonaro pelo seu combate ao “comunismo”, não foi suficiente para distrair a platéia.
O estrago feito pelo bolsonarismo na vida real dos brasileiros, em apenas quatro meses de governo, com o país parado à espera da reforma da Previdência, é de tal ordem que levará muitos anos para consertar.
Só os idiotas de raiz nas redes sociais ainda defendem o indefensável e tentam justificar os desatinos do capitão, que fugiu ao controle dos generais e do mercado, e ganhou vida própria.
Como piloto de um trem-fantasma desgovernado, ele ataca em várias frentes, e agora avança sobre o IBGE para demolir o censo programado para 2020.
No estatuto da veneranda instituição, que o capitão nem deve conhecer, está definido o objetivo do censo:
“Retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania”.
Pois é exatamente o “exercício da cidadania” plena que Bolsonaro quer combater, para impor suas ideias amalucadas de liberar as armas nos campos e nas cidades para transformar o país num grande faroeste em que ele será o único xerife.
Em sua escalada de regressões e retrocessos, ele quer agora baixar o preço dos cigarros para combater o contrabando e desregulamentar a publicidade voltada para as crianças.
Estão ameaçadas conquistas sociais como o combate ao tabagismo e a proibição de comerciais prejudiciais a crianças e adolescentes.
Em lugar das mamadeiras de piroca, que seus seguidores inventaram na campanha suja do ano passado, em breve poderemos ter propaganda de mamadeiras de cachaça na TV e de cigarros infantis com gosto de chocolate.
É até injusto acusar o capitão de não ter ideias. Ao contrário, ele tem muitas, uma nova a cada dia _ todas nocivas à saúde e à vida em sociedade.
Sem ter qualquer programa de governo, ele vai desfiando este varejão de insanidades e demolindo programas de saúde, de educação, de moradia, de direitos trabalhistas e previdenciários, como bem ilustra a genial charge de Laerte na segunda página da Folha desta terça-feira.
Neste cenário fúnebre, a reação dos estudantes dá um alento a quem já estava desistindo do Brasil.
Como em outros momentos críticos da vida nacional, a juventude mostra a coragem que falta aos nossos políticos.
Vida que segue.
7 de maio de 2019
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