Mais do que nunca, a quarta-feira de cinzas
- Opinión
No mundo cristão, a quarta-feira de cinzas representa o encerramento de um ciclo com o reconhecimento da fragilidade humana [“lembre-se que você é pó e ao pó voltará”] e reflexão dos atos, sendo um momento de autoconsciência para mudança, em busca de uma condição humana mais evoluída.
A data é emblemática, mas, devido ao último acontecimento, ela passou a ser, também, urgente. Isto porque, no dia 05 de março, terça-feira de carnaval, assistimos a um dos fatos políticos mais bizarros e vexatórios da vida pública brasileira.
Um presidente da República Federativa do Brasil posta um vídeo de cunho altamente sexual para rebater as críticas que vinha sofrendo no decorrer do mais importante evento cultural do País. Ao fazer isto, o presidente não cometeu apenas o CRIME CONTRA A PROBIDADE NA ADMINISTRAÇÃO previsto na Lei do Impeachment 1.079/50, Artigo 9º, item 7: “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”, ele também postou conteúdo impróprio a menores de idade e expôs de forma inadequada a imagem do País para o exterior.
Ao ver o vídeo postado pelo representante do cargo mais alto da República, o correspondente do The Guardian escreveu em seu Twitter: “someone take away his phone”.
Lembremos que Bolsonaro é fruto de um golpe de Estado que, além de representar a volta do “Brasil Miséria”, resultou no mais profundo processo de imbecilização da população. Alçaram ao poder um sujeito completamente desequilibrado que prejudica o País e nos envergonha publicamente.
Óbvio que isso jamais teria acontecido se não houvesse o apoio irrestrito da grande mídia (grandes empresários) em conluio tácito com o Judiciário e Exército (ver “Radiografia do Golpe e A Democracia Impedida”), que encontraram legitimidade na classe média “coxinha”, para interromper a democracia vigente no País.
Está claro que não se trata de corrupção, mas do entreguismo em curso no País. Essa suposta bagunça facilita ao grande capital internacional a se apropriar das riquezas do País.
Só o Pré-Sal vale US$ 10 trilhões de dólares, algo em torno, aproximadamente, de R$ 40 trilhões de reais, que somado à entrega da Embraer, por R$ 4,5 bilhões, destruição da Petrobras, deterioração, ainda mais, dos serviços públicos e as supostas reformas, elevam o nível de pobreza da sociedade brasileira.
Os EUA não conseguiriam isto sem a presença no País de uma elite arcaica e uma classe média tosca, sem brio e subserviente aos interesses alheios do mundo desenvolvido.
E pensar que num passado recente alcançamos a inédita marca de 4,5% de taxa de desemprego; conseguimos, depois de mais de 40 anos, realizar uma Copa e Olimpíadas no País e tínhamos orgulho de ser exemplo no mundo no combate à miséria e fome. Pela primeira vez na história, o Brasil saiu do mapa da fome da ONU.
Por isso, mais do que nunca, a quarta-feira de cinzas.
Marcha da quarta-feira de cinzas
[..] A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida
Feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe […]
(Música composta por Carlos Lyra e Vinícius de Moraes)
Referência
IPEA. Pré-sal representaria lucro de US$ 10 trilhões para o País. Brasília. Disponível em < http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?id=1464&option=com_content&view=article>. Acesso em 28 fev. 2019.
SOUZA, Jessé. A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enganado. Rio de Janeiro: Leya, 2016.
WANDERLEY, Guilherme. A Democracia Impedida. O Brasil no século XXI. Rio de Janeiro: FGV, 2017.
- Rafael da Silva Barbosa é economista, doutor em Desenvolvimento Econômico (IE-UNICAMP) e pós- doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). É colunista do Brasil Debate.
07/03/2019
http://brasildebate.com.br/mais-do-que-nunca-a-quarta-feira-de-cinzas/
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