Os "mercados" perderam o pudor
- Opinión
O candidato Geraldo Alckmin, em suas andanças em campanha, tem prometido cuidar da geração de empregos, o problema central dos brasileiros das classes pobres onde está a maioria dos eleitores. Essa promessa não combina com o guru econômico do candidato, o banqueiro Persio Arida.
A promessa ou atenção ao problema, sem o qual não há como governar o Brasil, não foi combinada com o assessor econômico do candidato Persio Arida que disse alto e bom som em entrevista-sabatina na Central de Eleições da GLOBONEWS que o “emprego não é um problema do Estado”, desmentindo Lord Keynes e o Presidente Roosevelt, para quem o desemprego causado pela recessão era não só um problema, era “ O PROBLEMA” do Pais, do Estado e do governo.
Com relação a Arida, se ele está bem o resto que se dane. O candidato Alckmin fez mal em escolhe-lo. Arida não é um “craque” para o Brasil como disse Alckmin, é um “craque” para ele mesmo. Ele entrou no grupo de economistas do Real em 1994 com um fusquinha velho e saiu milionário sócio do Banco BBA, ficou rico como todos os economistas do Real, à custa do Estado. Ficaram milionários “com o Estado”, esse mesmo Estado que eles querem reduzir ao mínimo quando se trata de ajudar os pobres, mas não era mínimo quando ajudou a eles, economistas do Real, ficarem ricos porque estavam “dentro do Estado”. O Estado foi a fonte de riqueza através do manejo de moedas podres e privatizações.
Nestas eleições os “mercados” perderam o pudor e põem a cara diretamente para tomar o Estado como se fosse um "takeover" de uma empresa moribunda, dessas galinhas mortas que os fundos abutres compram por um dolar assumindo as dividas.
Sem nenhum pudor, os "mercados" apresentaram até seu próprio candidato pessoa física, um típico operador de mercado sem outra qualificação, que atende pelo sobrenome lisboeta de Amoedo, saído diretamente de um conto de Eça de Queiroz para defender o sagrado direito dos rentistas ao juro máximo que será possível extrair da economia brasileira após o mais rigoroso ajuste fiscal em cima dos ambulatórios e das creches, do SUS, das escolas elementares, da merenda escolar, do apoio à velhice, da derrubada do crédito agrícola, do fechamento do BNDES, do fim da PETROBRAS.
Essa expressão do núcleo rentista Gavea-Leblon, que enriqueceu com as privatizações da Era FHC, tem uma única visão de Brasil, a de plataforma para daqui extrair riquezas e gastá-las em Miami ou Lisboa. O destino dos 180 milhões de pobres, o lugar da riquíssima cultura brasileira, o espaço estratégico único desse grande País continental não lhes interessa minimamente. Aliás, nem têm consciência disso. Na cabeça uma cartilhazinha ideológica neoliberal dos anos 90, já desmoralizada em todo o mundo e só, não tem mais nada, nem uma nova visão, nem uma análise mais sofisticada.
O incêndio e destruição do emblemático Museu Nacional, que fica na própria cidade desses neoliberais, mostrou o descaso das fortunas com a sorte do Brasil. Recursos mínimos, que se gasta em seis prestações de jatinho, seriam suficientes para uma base de manutenção em um edifício que é ele mesmo, só o prédio, símbolo da História do Brasil e tudo na cara desses operadores de mercado que, com absoluta certeza, jamais pisaram no Museu Nacional.
Os privatistas cariocas não estão interessados em Brasil, o interesse deles é no JURO do Brasil e nada mais, dai a necessidade do ajuste fiscal no ANDAR DE BAIXO para garantir a divida publica.No andar de cima não porque lá tem parentes e amigos e medo de incomodar quem pode atrapalhar seus negocios.
A grandeza dos EUA se deve à contribuição moral e financeira de suas elites de raiz às instituições públicas, museus, filarmônicas, centros de pesquisa, universidades, hospitais, com imensas doações de fortunas e contribuições, sob o domínio do espírito cívico.
Só o fundo de investimentos da Universidade de Yale, constituido por doações, tem 38 bilhões de dólares, o do Metropolitan Museum of Art de Nova York tem 2 bilhões de dólares de reserva, formada por doações, há museus americanos que recusam doações porque já as tem em excesso.
Já os financistas brasileiros, especialmente os cariocas, têm como único objetivo seu enriquecimento, pouco se lhes dá a situação dos carentes, a grande maioria da população, desamparada por condicionantes históricas seculares e jamais resgatada de sua baixa condição, esse esforço depende do Estado e não do mercado, que tem seus próprios interesses onde, por definição, não se inclui construir a nação pela base, pelo atendimento de carências, eles são filosoficamente contra programas sociais, um dos maiores alvos do neoliberalismo 'a la Thatcher'.
O AJUSTE FISCAL NA VISÃO NEOLIBERAL
A boa ordem das finanças públicas é um processo que pode ser manobrado de várias formas.
Na visão progressista significa corrigir aberrações em salários e aposentadorias em total desalinho com os padrões racionais de mercado, sem referência com o nivel internacional, onde um notável excesso de cargos nas áreas jurídicas e burocráticas é remunerado em padrão 60 ou 70% acima do mercado privado, conforme pesquisa do Banco Mundial. Enquanto isso, médicos e engenheiros da mesma idade, com até maior escolaridade, ganham um décimo do que ganham advogados a serviço do Estado. Sem falar em professores do ensino elementar e médio, ganhando muito menos que motoristas do Senado, distorções absurdas que deveriam ser o verdadeiro alvo de ajustes necessários tanto sob o ponto de vista financeiro como de justiça social, eficiência, bom uso dos contribuintes, lógica racional de serviço público. Para quê pagar 40 mil para cargos que valem 15 mil?
Para os neoliberais o ajuste tem outro foco, são os apoios que se dá às carências pelo bolsa família, pelo SUS, pelo seguro desemprego, às aposentadorias rurais, esse é o foco neoliberal.
Não se vê reclamação desses ”ajustistas” com as vastas mordomias congressuais e judiciárias, com os jatinhos para Ministros voltarem para casa no fim de semana, quase 60 anos após a inauguração de Brasilia, quando morar na capital deveria ser exigência. Como os juízes da Suprema Corte americana moram em Washington e não se “deslocam” para casa no fim de semana à custa do Estado, os Reis britânicos dão o tom de ciclos de austeridade no Reino Unido, nos pós-guerras, dando o exemplo, o simbolismo do ajuste em cima é fundamental para quem quer pregar a necessidade de ajuste geral, austeridade começa no Palácio.
Então há mais de um tipo de ajuste, depende de quem maneja a tesoura. O ajuste precisa ser aplicado no andar de cima, o que é mais lógico mas mais difícil, ou no andar de baixo, mais injusto mas mais fácil. Esta última fórmula é a que está na cabeça dos neoliberais brasileiros.
Há outro tipo de ajuste que os neoliberais jamais farão, no lucro obsceno dos bancos conseguidos em grande Parte à custa do Banco Central, com remuneração dos depósitos compulsórios, com swaps cambiais desnecessários, com ausência de parâmetros, limites e práticas mínimas de proteção ao consumidor na limitação de taxas de juros. NÃO HÁ MERCADO LIVRE com o nível de concentração bancária no Brasil, não só contra as pessoas físicas, também contra empresas pequenas , médias e grandes no famoso “cartel do cambio”, apontado pela Associação dos Exportadores Brasileiros e objeto de um processo no CADE, com escassa chance de sucesso porque os bancos fazem parte do pacto de poder politico.
A base do cartel é a cobrança de um spread de câmbio dez vezes maior do que se cobra nos EUA e Europa, transferindo aos bancos boa parte dos lucros da exportação.
O caquético candidato Amoedo prega a privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, instituições bicentenárias e símbolos do Estado brasileiro e repete o realejo de Pedro Malan, gasto há 20 anos, “ vamos trazer bancos estrangeiros para aumentar a competição”. Papo gasto, Malan fez exatamente isso e o resultado foi zero, entregou o BAMERINDUS, banco popular de 600 agências para o HSBC, não aumentou competição alguma e nenhum juro baixou com essa conversa boba que agora o banqueiro Amoedo repete para novos crédulos.
NÃO HÁ NENHUM CAMINHO NEOLIBERAL PARA O CRESCIMENTO
Os economistas neoliberais continuam com o mesmo coro, não mudam, não atualizam, não adequam ao momento, ao ciclo, ao mundo. Um Pais com os recursos e as carências do Brasil precisa do Estado e dos mercado nos seus respectivos terrenos. Hoje, com o tenebroso desemprego, o Estado é fundamental para relançar o crescimento. O mercado sozinho não conseguirá jamais realizar essa tarefa. Há espaço para os dois, mas só o Estado pode criar demanda e poder de compra rapidamente para disparar o arranque do crescimento.
ECONOMIA NÃO TEM IDEOLOGIA
O que significa o candidato Amoedo anunciar a privatização do BANCO DO BRASIL e da CAIXA ECONÔMICA? São duas instituições altamente lucrativas, de enorme importância estratégica.
O Banco do Brasil é o grande operador do crédito agrícola, base do agronegócio brasileiro que, por sua vez, é FUNDAMENTAL para nossa economia. O crédito agricola é uma OPERAÇÃO ESTATAL no Brasil e nos Estados Unidos. Lá, onde SEMPRE foi uma tarefa do governo central através da Commodity Credit Corporation, toda a agicultura americana é estruturada através do CRÉDITO AGRICOLA ESTATAL e do SEGURO AGRICOLA ESTATAL. Então o Sr.Amoedo quer eleminar esse elo fundamental da agricultura brasileira? Por toda a União Europeia e EUA a agricultura é ALTAMENTE SUBSIDIADA, não é "mercado".
A CAIXA ECONÔMICA é o centro, a base do financiamento da moradia popular, que é uma tarefa do ESTADO, no Brasil e nos Estados Unidos, onde todo o Sistema de Financiamento (Federal National Mortgage Association, Federal Home Loan Mortgage Corp, Federal Housing Finance Agency, carteiras de financiamento que somam US#12 trilhões) é estatal. No Brasil, o financiamento de moradia popular é ESTATAL, na sua historia e operação. Privatizada a Caixa Econômica vai continua a financiar a moradia popular? È claro que não, é tarefa de Estado aqui e nos EUA e também na maioria dos países do mundo, bancos privados só financiam classe média para cima.
Porque privatizar o BANCO DO BRASIL e a CAIXA ECONÔMICA? Qual o objetivo?
Arranjar dinheiro para cobrir rombos no orçamento federal? VENDER A MOBILIA PARA PAGAR O ALMOÇO? Paga o rombo de um ano, e depois?
A razão do Sr.Amoedo é IDEOLÓGICA e ideologia não cabe na economia, esta deve ser gerida pelas CIRCUNSTÂNCIAS, pelo ciclo, pelo momento, pelas necessidades, não cabem modelos ideológicos teóricos na complexa administração da economia de um grande Pais.
Há momentos onde o setor privado pode ser a locomotiva e há momentos onde o Estado é que reativa a economia, depende do momento histórico.
Invocar ideologia na economia é uma aberração, o Brasil é maior que isso, um Pais complexo, não é um laboratório para experiências de modelos.
06/09/2018
https://jornalggn.com.br/noticia/os-mercados-perderam-o-pudor-por-andre-araujo
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