Nós e as desigualdades

07/12/2017
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Foto: Arquivo EBC
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Passado um período histórico no qual dedicamos boa parte da atenção pública ao combate à pobreza, nos vemos em meio ao desafio estrutural das inaceitáveis desigualdades sociais brasileiras. Além de serem um problema em si, as desigualdades são barreiras ao acesso a direitos básicos, fomentam a violência e impedem a própria superação da pobreza no longo prazo. Diferenças extremas entre grupos sociais jogam contra a nossa economia, e são solo fértil para instabilidades políticas.

A Oxfam Brasil tem seu foco central de trabalho nas desigualdades do nosso país. Por aqui, a concentração de renda, o patrimônio e os serviços essenciais nas mãos de poucos chegam a níveis extremos, nos colocando como o 10º pior país no mundo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Esta condição é resultado de escolhas feitas ao longo de nossa história, via de regra, pelas elites políticas e econômicas que compõem o topo de nossa pirâmide social.

Em setembro de 2017, a Oxfam Brasil lançou o relatório “A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras”. Nele, nos debruçamos sobre o estado das diferenças nos níveis de renda, riqueza e acesso a serviços no país, bem como nas políticas públicas que combatem ou retroalimentam estas desigualdades. Entre as principais conclusões do estudo, estão os fatos de que 5% da população têm a mesma fatia de renda que os outros 95%, e os seis maiores bilionários brasileiros possuem o mesmo patrimônio que a metade mais pobre da população.

Contribuem para isso nosso injusto sistema tributário, nossos ainda insuficientes investimentos em saúde e assistência social, e, em particular, nossos desafios históricos para ampliar o acesso à educação pública. Da mesma forma, a discriminação contra mulheres e a população negra representa barreira estrutural na superação de desigualdades, algo que nem mesmo boas políticas do passado recente – como as cotas raciais – deram conta de superar. Por fim, há lacunas profundas em nossa democracia, que representam empecilhos para que ela trabalhe em prol de toda a sociedade e não de setores privilegiados.

A pesquisa Oxfam Brasil/Datafolha aqui apresentada se apoia nestes temas para investigar como pensam as brasileiras e brasileiros quando o assunto é desigualdades. Ela aponta que, via de regra, a população percebe o tema, suas causas e soluções. A imensa distância entre pessoas muito ricas e o restante da sociedade é sentida pelo brasileiro médio, que, ao mesmo tempo, apresenta posições sintonizadas com o que tem apontado diversos estudos aplicados sobre saídas para esse imenso desafio – reversão de injustiças no sistema tributário, aumento do gasto social, aumento de oferta de trabalho e correção das desigualdades educacionais, entre outras.

Esta percepção é condição fundamental para a mudança. A priorização pública do problema, como visto na pesquisa, é o primeiro passo para que os atores políticos (sobretudo parlamentares e tomadores de decisão diversos na sociedade) se movam para propor e aprovar medidas que reduzam as distâncias que marcam nossa sociedade.

Mas esta pesquisa também revela grandes desafios para a agenda da redução de desigualdades. O primeiro deles diz respeito à subestimação das diferenças sociais no País – não obstante enxerguemos a existência das desigualdades, ainda não a dimensionamos corretamente, julgando-a menor do que realmente é. Por conta disso, uma parcela grande da sociedade não consegue se localizar na pirâmide social nem perceber o tamanho da concentração de renda e riqueza que existe no país.

 

Nós e as desigualdades, by Oxfam Brasil y Datafolha
https://www.alainet.org/pt/articulo/189712

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