O esquema de 170 milhões do PMDB de Temer e o 'bunker' de Geddel
- Opinión
Em sua denúncia contra Michel Temer, o procurador-geral Rodrigo Janot apresenta diversos trechos da delação de Lúcio Funaro, operador do PMDB da Câmara. Baseado na colaboração, Janot aponta que o ex-ministro Geddel Vieira Lima liberou em torno de 5 bilhões de reais da Caixa Econômica Federal em créditos e empréstimos quando ocupava duas vice-presidências do banco entre 2011 e 2013.
Em troca, Janot afirma que foram arrecadados por volta de 170 milhões de reais em propina pelo grupo formado por Geddel, o ex-deputado Eduardo Cunha, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves e Temer, apontado como líder da organização criminosa do PMDB da Câmara.
O atual presidente e Henrique Alves, diz Janot, eram os responsáveis por sustentar Geddel no cargo. A denúncia ressalta ainda que Geddel, Cunha e Funaro teriam recebido apenas da J&F, holding da JBS, 90 milhões em propina no esquema.
A denúncia de Janot procura relacionar os desvios no banco com os 51 milhões de reais em dinheiro vivo encontrados em um "bunker" mantido por Geddel, atualmente preso em Brasília. Na acusação contra o PMDB da Câmara, o procurador-geral cita Funaro ao afirmar que o esquema no banco continuou mesmo após a saída de Geddel da Vice-Presidência da Caixa. Em sua delação, o operador do PMDB afirmou que "tem certeza de que até a presente data Geddel continua a ter influência na área de crédito da Caixa Econômica Federal".
Com base nesse relato, o procurador-geral ressalta a apreensão dos 51 milhões de reais e afirma: "Esse valores certamente guardam relação direta com os esquemas ilíticos operados pelos denunciados". Em seguida, Janot destaca uma foto das caixas e malas recheadas de notas encontradas no apartamento atribuído a Geddel.
A denúncia menciona também um trecho do relatório conclusivo da Polícia Federal, apresentado ao STF na segunda-feira 11, contra o PMDB da Câmara. Os agentes afirmam que valor encontrado no "bunker" de Geddel é superior aos 20 milhões em propina supostamente pagos por Funaro ao ex-ministro no esquema. A PF levanta a hipótese de o valor estar relacionado a outros ilícitos do grupo de Temer, inclusive envolvendo a ciência de Geddel e seu irmão, o deputado Lucio Vieira Lima.
Para gerar dinheiro em espécie, Lúcio Funaro relata em sua delação que se valia dos serviços do doleiro Cláudio Fernando Barbosa. Cláudio Fernando fornecia boletos bancários, como de supermercados e lotéricas, para pagamento por parte do operador, que recebia o equivalente em espécie.
Segundo Janot, os valores em espécie eram destinados majoritariamente a Geddel, Cunha, Henrique Alves e Temer, mas afirma que as parcelas do presidente "nem sempre eram de conhecimento dos empresários", pois a propina era acertada com os dois primeiros, que então se acertavam com os dois últimos.
O procurador-geral ressalta ainda que parte da propina do esquema da Caixa foi paga por meio de doações eleitorais. Uma dessas doações, de acordo com o Funaro, seria o pagamento pelo empresário Natalino Bertin, sócio do pecuarista José Carlos Bumlai, de 1,5 milhão de reais em 2010 a Temer. Janot destaca a agenda apreendida do empresário, que mostra três parcelas de 500 mil reais a serem destinadas ao atual presidente, além de valores reservados ao ex-petista Cândido Vaccarezza.
Outro lado
Em nota, Temer classificou a nova denúncia como "realismo fantástico em estado puro". O peemedebista disse que Janot "ignora deliberadamente as graves suspeitas que fragilizam as delações sobre as quais se baseou para formular a segunda denúncia".
"O procurador-geral da República continua sua marcha irresponsável para encobrir suas próprias falhas", diz. "Finge não ver os problemas de falta de credibilidade de testemunhas, a ausência de nexo entre as narrativas e as incoerências produzidas pela própria investigação, apressada e açodada.
15/09/2017
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