Bizarra eleição presidencial francesa
- Opinión
Na eleição francesa, apesar de mau tempo, os eleitores escolherão entre a candidata da extrema direita neofascista e o candidato que representa a ideologia neoliberal
Paris.- Nestes tempos conturbados, precisamos de muito impulso para melhorar o moral, e, ao mesmo tempo, entender melhor os rumos da França, da Europa e do mundo. Principalmente, se olhamos as previsões do tempo… Nada de bom se apresenta para este primeiro domingo de maio. Acordamos hoje com o tempo nublado e muita chuva… Nada de melhoria no horizonte! A previsão não é boa, todavia, precisamos nos acostumar com os maus presságios do tempo.
Apesar de mau tempo, os eleitores franceses escolherão entre a candidata da extrema direita neofascista e o candidato que representa a ideologia neoliberal. Emmanuel Macron, provavelmente o futuro presidente, o candidato do mundo mediático é a nova “oferta política” rotulado pela mídia como nem de esquerda, nem de direita.
Híbrido Macron
O próprio candidato, por oportunismo político terminou optando por ser de direita e, por vezes, de esquerda. A política na ideologia neoliberal tornou-se um produto econômico, objeto de marketing com uma linguagem formatada para produzir impacto e construir a oferta de um candidato e um programa, tendo em conta os desejos (a demanda) dos principais setores da economia, do sistema financeiro e, finalmente, em último lugar dos eleitores. Estamos diante de um estranho mundo, o modelo neoliberal se transforma em ideologia.
Dentro desta nova concepção da política é que os franceses, neste domingo cinzento, estão indo votar. Eles irão escolher o novo presidente ou a nova presidenta. Alguns certamente não comparecerão às urnas, irão aproveitar do feriado de 8 de maio (segunda feira); outros anularão seu voto, muitos votarão em branco, apesar deste voto não ser contabilizado. A maioria votará no jovem candidato híbrido Emmanuel Macron. Todavia, a maioria não aprova o seu programa de governabilidade, eles apenas irão barrar a ascensão da extrema direita ao poder.
Ao escolher a cédula Macron, os eleitores de esquerda, certamente, não irão abandonar a luta radical para restabelecer a democracia moribunda, enferma há muitos anos e, certamente, continuarão na busca utópica para resgatar o senso comum da política nesse último tempo confiscada pela ideologia neoliberal. Há 30 anos, esta ideologia tenta ofuscar as diferenças ideológicas. Com o apoio do quarto poder, a ideologia neoliberal promoveu a despolitização como estratégia de destruição dos opositores.
Hoje, esta ideologia é dominante e empurra o mundo para uma sociedade individualista, cada vez mais competitiva. O voto Macron deste domingo representa sua vitória!
‘Voto útil’
A França, a terra dos grandes intelectuais, de grandes filósofos e políticos, que marcou o Século das Luzes, que fez a revolução, que estabeleceu os princípios dos direitos humanos, que venceu o nazismo pela organização da resistência de seus cidadãos, hoje a França republicana vive um momento trágico de sua historia política. Seus eleitores irão às urnas, certamente sem o mesmo brio que marcou a história desta grande nação, onde a resistência foi sua marca. Eles irão tentar salvar a democracia, gravemente enferma. Serão obrigados a depositar um voto para barrar o fascismo e os nazistas, que tanto mal fizeram à Europa.
Hoje, a maioria dos eleitores franceses opta pelo menos ruim! Marine Le Pen é a inimiga da emancipação, da liberdade e Emmanuel Macron é apenas um adversário. Este jovem tecnocrático-banqueiro é um típico fruto da ideologia neoliberal. O voto do primeiro turno representou apenas 24 % do eleitorado francês, uma grande parte dos eleitores foi manipulada pelo chamado “voto útil” promovido pelos meios de comunicação.
O futuro da governabilidade francesa é incerto, talvez seja a morte definitiva quinta república, a coabitação entre a direita e a esquerda nunca funcionou e os franceses nunca permitirão de enterrar definitivamente seu modelo social. A especificidade francesa dentro do espaço europeu é a sua originalidade.
- Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil, em Paris.
Publicado por CdBem: 07/05/2017
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