Diálogos: Perspectivas do cenário politico e social do Brasil
- Opinión
O evento organizado pela Associação Pesquisadores e Estudantes Brasileiros (APEB) teve como objetivo discutir as perspectivas políticas para o cenário tórrido que o Brasil enfrenta a partir da visão do Ex-Governador do Ceará que dividia a mesa com o também conhecido na área jurídica Prof. da FDUC (Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra) Vital Moreira e o Prof. Elísio Estanque que é da Faculdade de Economia e que visita o Brasil com certa regularidade devido a ligação com os acadêmicos da Unicamp.
Ciro Gomes falou cerca de 50 minutos em uma linguagem muito voltada para a Economia, que nos fez recordar a Escola Austríaca cujo grande nome, Hayek, foi o economista influenciador do liberalismo no século XX. Ciro não postulou o debate nesse formato, se colocou como militante e como o político que pretende colocar o Brasil em outro patamar, caso Luís Inácio Lula da Silva (LULA), que ainda lidera as pesquisas no Brasil, não seja candidato. Não falou da linhagem de pensamento muito clivada pelo pensamento da escola supracitada e não esclareceu as questões concernentes à liberalização da economia em sua fala, tampouco, explicou como vamos competir no mercado com indivíduos assolapados e uma sociedade dividida há séculos.
Nesta toada, Ciro Gomes falou pouco do cenário social e atual da população brasileira, reduzindo à política em números, preços, câmbios, inflações, corrupção e o que não foi feito neste “desgoverno” Dilma-Temer tão logo adentrou no que acredita ser a possibilidade de engenhar um novo – nada original - projeto de Brasil. Falou como um quase candidato que acredita naquilo que diz e julga conseguir colocar em prática seu chamado de Socialismo Democrático em uma definição quase que incompreensível perante as afirmações que pretende controlar o mercado, o agronegócio e afirmou ser o setor privado uma parte colaborativa para o nosso desenvolvimento.
Acostumado a ser deveras confrontado, Ciro Gomes respondeu com galhardia ao público, dentre todas a polêmicas possíveis acerca do seu projeto para educação caso seja candidato, falou sobre possibilidades de alianças em seu governo. Falou sobre sua fama explosiva em um Brasil que já possui os nervos acirrados e se colocou a disposição para enfrentar tudo e todos para concretizar o projeto que acredita ser o melhor para a sociedade brasileira neste momento.
A meu ver, Ciro Gomes sempre pareceu muito coerente com o discurso que faz, embora a história tenha demonstrado que nada que fora afirmado nesta tarde de sábado tenha algo de inaudito. Para àqueles que conhecem a vida para além do pleito eleitoral achar que o Brasil vai se modernizar baseando-se na nossa “vontade” e disto alçará uma competitividade em âmbito internacional, é uma grande falta de senso crítico além de fortalecimento para o nosso esquecimento histórico de todo um passado colonial que forma o Brasil bem como toda América Latina, com suas especificidades.
Por fim, Ciro pode ser uma possibilidade de candidato para pensarmos que tipo de parlamento queremos para o Brasil em 2018. Todavia, tendo em vista que as Instituições pertencem a um Estado que possui um critério de classe e que não agrada gregos e troianos por muito tempo, fato que já foi demonstrado por quase todos os candidatos que passaram na nossa história de golpes, pequenos avanços e retrocessos.
No final quem pagou e paga a conta das supostas crises e projetos erróneos é a população que trabalha e muito. Posto isto, pensemos um candidato, mas pensemos também nos limites institucionais, tendo um horizonte de que somos nós que temos que arrancar do Estado as transformações que queremos, como fizeram as Cangaceiros, os Quilombos, os Movimentos Sociais, os muitos “Antônios Conselheiros”, as Dandaras, os Josés, Marias e todos os outros e outras que são naturalmente militantes e que se negam a trocar a vida pela sobrevida. Tal horizonte não é e não será abarcado pela via eleitoral, embora não iremos abandonar esta ferramenta, tenhamos consciência que não há neutralidades neste mundo capitalista e é tempo de conter as expectativas perante aos pré ou já candidatos
Elaine Santos
Socióloga, Doutoranda do Centro de Estudos Sociais – CES – Universidade de Coimbra
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