Multinacionais pressionam contra regras do pré-sal
- Opinión
Brasília (DF) Poucas vezes o petróleo esteve com um preço tão baixo. O barril mais comum tem variado próximo a 29 dólares nas cotações mais recentes. Cenário drasticamente oposto ao de anos anteriores, quando a cotação girava acima dos 100 dólares. Esse cenário tem sido o combustível para que a imprensa comercial brasileira estampe em suas capas o fim do pré-sal brasileiro, cuja produção teria deixado de ser vantajosa. Será isso mesmo?
O Brasil de Fato conversou com trabalhadores e especialistas do setor para entender os interesses envolvidos. De um lado, setores empresariais atuam no país para rever regras do setor. Eles querem acabar com o modelo de partilha. Esse modelo tornou a Petrobrás a operadora única dos consórcios que atuam nas reservas, além de estabelecer um Fundo Social soberano.
Esse fundo aumenta a arrecadação do Estado e destina esses recursos para gastos sociais, principalmente saúde e educação, áreas subfinanciadas no Brasil e alvo das principais reclamações da população. O contrato de partilha ainda favorece compras e encomendas de produtos fabricados e desenvolvidos no país, impulsionando a indústria local e gerando empregos.
As multinacionais querem mudar esse cenário. Representantes do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) se reuniram nessa semana com a presidenta Dilma Rousseff. Na pauta, um pacote de medidas para estimular o setor, que incluem pedidos de isenção de impostos e flexibilização das regras que obrigam as empresas a comprarem parte de seus produtos da indústria brasileira. As medidas negociadas só devem ser anunciadas nas próximas semanas.
“O que existe é um movimento que, aproveitando que o petróleo está em baixa, pedem mudança nas regras do pré-sal diante da vulnerabilidade do Brasil. Ora, se o pré-sal não está mais vantajoso, por que eles querem que a Petrobrás deixe de ser operadora única? No fundo, eles sabem que o preço do petróleo não vai ficar muito tempo nessa faixa dos 20 dólares e voltará a subir no médio prazo”, aponta Paulo Metri, conselheiro do Clube de Engenharia e especialista no tema de petróleo e gás.
O coordenador da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Emanuel Cancella, destaca que não só a Petrobrás, mas todas as petroleiras estão vendo suas ações caírem nesse momento. “Nos EUA, a indústria do petróleo de rocha, que seria uma alternativa, está parada porque ela só se viabiliza com barril de petróleo a 60 dólares. O Brasil consome 2,2 milhões de barris de petróleo por dia. Já os EUA consomem nada menos do que 22 milhões por dia. Nos próximos 50 anos, o petróleo continuará sendo a principal matriz energética”, analisa.
Enfraquecendo a Petrobrás
O outro lado da moeda tem a ver com a atual gestão da Petrobrás. A opção de vender parte de suas empresas, como a Gaspetro, a BR Distribuidora e a Braskem – para fazer caixa em uma empresa endividada –, pode ser um tiro no pé, avalia Metri. “Com o mercado em crise, esses ativos serão vendidos a preços muito baixos. Com isso, o preço do barril de petróleo tende a se valorizar muito depois, já na mão de outras multinacionais”, explica.
Os trabalhadores do setor também defendem outras saídas para a crise financeira da Petrobrás. De acordo com Cancella, uma opção seria a obtenção de empréstimo junto ao banco do Brics, instituição que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Outra alternativa seria vender petróleo numa chamada conta futuro para a China. Ela importa muito petróleo e daríamos garantia de fornecimento do petróleo do pré-sal a preços de mercado, sem necessidade de desafazer do patrimônio da Petrobrás. A China adiantaria um dinheiro para a Petrobrás voltar ao patamar financeiro de outubro de 2014”, argumenta.
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