Direita, volver!: O retorno da direita e o ciclo político brasileiro

19/01/2016
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Sumário

 

Apresentação

 

Elementos de reflexão sobre o tema da direita (e esquerda) a partir do Brasil no momento atual

Sebastião Velasco e Cruz

 

Regressando ao Regresso: elementos para uma genealogia das direitas brasileiras

André Kaysel

 

O direito regenerará a República? Notas sobre política e racionalidade jurídica na atual ofensiva conservadora

Andrei Koerner e Flávia Schilling

 

A direita e os meios de comunicação

Venício A. de Lima

 

A nova direita brasileira: uma análise da dinâmica partidária e eleitoral do campo conservador

Adriano Codato, Bruno Bolognesi e Karolina Mattos Roeder

 

Bancada da Bala: uma onda na maré conservadora

Marco Antonio Faganello

 

Velhas e novas direitas religiosas na América Latina: os evangélicos como fator político

Julio Córdova Villazón

 

Classe média e conservadorismo liberal

Sávio Cavalcante

 

Protestos à direita no Brasil (2007-2015)

Luciana Tatagiba, Thiago Trindade e Ana Claudia Chaves Teixeira

 

Direita nas redes sociais online

Sergio Amadeu da Silveira

 

A organização das células neoconservadoras de agitprop: o fator subjetivo da contrarrevolução

Reginaldo C. Moraes

 

Buckley Jr., Kirk e o renascimento do conservadorismo nos Estados Unidos

Alvaro Bianchi

 

Direitas em rede: think tanks de direita na América Latina

Camila Rocha

 

O golpe parlamentar no Paraguai. A dinâmica do sistema de partidos e o poder destituinte do Congresso

Fernando Martínez-Escobar e José Tomás Sánchez-Gómez

 

Sobre os organizadores

Sobre os autores

 

Apresentação

 

O passado condena. Foi assim com a extrema-direita na Europa no pos- -guerra. Manchada pela exibicao mundial dos horrores do nazismo e pela vergonha da colaboracao com os invasores, a extrema direita encolheu por toda Europa, e desceu aos subterraneos da vida publica. E certo, desde entao a politica nos paises europeus foi estruturada em termos de um embate ainda travado entre dois campos, a direita e a esquerda. Mas a competicao entre eles se fazia agora de forma civilizada, no ambito do grande consenso que calcava o chamado Estado de Bem-Estar Social. A direita pura e dura, que desempenhara papel tao relevante na politica desses paises em passado recente, parecia ter se esvanecido. No universo da politica institucional, ela estava banida.

 

Algo parecido aconteceu no Brasil e, de maneira geral, na America Latina no fi nal do seculo passado, quando a derrocada do bloco socialista e a desagregacao da Uniao Sovietica encerraram a Guerra Fria e instauraram um periodo inedito, que muitos imaginaram de paz e prosperidade, sob a fi rme conducao da superpotencia solitaria, os Estados Unidos (EUA). Nessa fase, acreditava-se, toda a politica seria pautada pelo binomio economia de mercado e democracia. No mundo globalizado esses dois vetores surgiam como imperativos. Eles ditavam os rumos da politica economica e social adotados na regiao, como em outras partes do mundo. Nesse contexto, entre nos, tambem, o passado proximo tornava-se incomodo. Com diferencas sensiveis de um pais a outro, assistimos na America Latina a consagracao da democracia representativa como regime politico incontornavel e dos direitos humanos como seu alicerce. Em tais circunstancias, a vinculacao com os regimes militares convertia-se em onus para os individuos e grupos que disputavam posicoes na arena politica. Mesmo naqueles paises em que a transicao foi muito complacente com o patrimonio simbolico das ditaduras preteritas, seus herdeiros civis eram compelidos a inventar credenciais democraticas e ajustar o seu discurso.

 

O passado condena, mas o tempo corroi a memoria. Na oitava decada do seculo passado, 40 anos transcorridos desde o fi nal da Segunda Guerra Mundial, a extrema direita estava de volta ao proscenio da politica europeia. E desde entao vem aumentando paulatinamente o seu espaco nela. Nao caberia inventariar aqui os fatores que levam a tal resultado – alguns deles sao obvios: a crise do Estado de Bem-Estar, a mare montante do desemprego, a xenofobia despertada pelo aumento da populacao imigrante. Seja qual for a combinacao exata entre esses e outros condicionantes, o certo e que a Europa convive ha muito com o fenomeno da chamada Nova Direita. Uma direita que se expande e hoje parece ter chances de empalmar o governo em um pais emblematico como a Franca.

 

O passado ditatorial no Brasil e mais recente, e a Nova Direita tambem. Mas ela esta ai e se agita com estridencia, para que ninguem disso duvide.

 

Nao se trata de fenomeno nacional. Por toda America Latina, assistimos ao reagrupamento de forcas no campo do conservadorismo, com a emergencia de novas caras, a atualizacao do discurso e o emprego de estrategias e taticas novas. Como na Europa, a reemergencia da direita assumida se da depois de longo processo de adaptacao, e num contexto de difi culdades economicas que lhe abre um novo campo de oportunidades. Em ambos os casos, a direita poe em questao as conquistas sociais alcancadas no periodo precedente. Mas ha uma diferenca que precisa ser frisada. Na Europa, onde a sociedade civil e mais robusta e as instituicoes mais solidas, a direita trava uma guerra de posicao. No Brasil e na America Latina, a direita se mostra frequentemente mais afoita: ela opta pela guerra de movimento, e busca o poder a qualquer custo, mesmo que para tanto precise transformar, como no passado, em mero arremedo os principios do Estado de direito e as normas do regime democratico.

 

* Texto completo em PDF

 

- Sebastião Velasco e Cruz, André Kaysel, Gustavo Codas (organizadores)

https://www.alainet.org/pt/articulo/174848
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