Não há a menor dúvida sobre a honestidade da presidenta Dilma, ao contrário dos principais oposicionistas que tramam o golpe. Se cometeu erros, não foi por se locupletar com dinheiro alheio. Por isso, os brasileiros e brasileiras que apoiam o impeachment da presidenta, que não venham dizer que é em nome do combate à corrupção. Essa máscara já caiu, há muito tempo.

A intolerância não é por causa da corrupção, mas por razões inconfessáveis ou ódios que poderiam ser melhor analisados em sessões de psicanálise. Frustrações misturadas com preconceito e discriminação. Ódio de classe, de quem não tolera um governo que, com todos os equívocos, está longe de entregar nossas principais riquezas ao capital internacional e seus sócios na elite brasileira, e que promoveu a ascensão das classes mais pobres, abriu as universidades para os negros, investiu em escolas técnicas, acabou com as cenas de nordestinos fugindo da seca e morrendo de fome e sede, garantiu direitos às empregadas domésticas, apoiou as lutas das mulheres e dos direitos humanos, elevou substancialmente o poder aquisitivo do salário mínimo, – entre outras conquistas, agora ameaçadas.

Portanto, quem quiser apoiar os políticos mais reacionários do país, da bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia), aliados dos magnatas da mídia, dos governantes que batem em professores e estudantes, de setores do judiciário e do empresariado que sempre mandaram no Brasil e o transformaram num dos países mais desiguais do planeta, que o façam de acordo com as suas consciências. Só não digam que é em nome da ética e contra a corrupção. Os álibis já foram desmascarados, inclusive os argumentos toscos das “pedaladas fiscais”, da “crise” ou da “ingovernabilidade”.

Assumam que querem dar um golpe na democracia, porque não aceitam o resultado das eleições. Assumam, sem disfarces, que estarão ao lado dos setores mais retrógrados da sociedade brasileira (com raras exceções, que incluem ingênuos e desinformados). Dos Bolsonaros, dos Malafaias, dos Caiados, dos Bonners, dos Gilmares, dos Jabores et caterva. E assumam, finalmente, as consequências dessa perigosa aventura que pode levar o país a uma convulsão social e a retrocessos políticos, econômicos e sociais que vão comprometer as próximas gerações.

http://celsovicenzi.com.br/2015/12/um-golpe-a-democracia-sem-alibis-por-favor