O ensaio desenvolvimentista no primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014)
- Opinión
Resumo: Diferentes razões apontam para a dissolução da coalizão produtivista e a formação de uma frente única burguesa antidesenvolvimentista. Com a intenção de acelerar o passo do lulismo, Dilma cutucou muitas onças com varas curtas. O ativismo estatal teria alienado camadas de empresários, resultando na unidade abrangente antidesenvolvimentista. Sustentar a ofensiva demandaria sólida aliança interclassista e/ou intensa mobilização dos trabalhadores, o que não foi feito.
Palavras-chave: Desenvolvimentismo, Partido dos Trabalhadores, Lulismo
Este artigo apresenta os primeiros resultados da pesquisa “Lulismo e aliancas de classe em meio a crise capitalista”, realizada no bojo do projeto coletivo do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) para o periodo 2014‑2016 (edital MCTI/CNPq No 14/2013). O conteúdo beneficiou‑se de entrevistas, das quais somos muito devedores, com participantes dos acontecimentos, mediante garantia de anonimato. Tres debates, realizados entre 2014 e 2015, no Cenedic e no Centro Brasileiro de Analise e Planejamento (Cebrap), cujo convite agradecemos a Marcos Nobre, foram decisivos para o desenvolvimento das ideias aqui expostas. Agradecemos a todos os que neles fizeram criticas as versões preliminares e aos economistas Luiz Carlos Bresser‑Pereira, Pedro Paulo Zahluth Bastos, Leda Paulani e Fernando Rugitsky pela ajuda especializada. O autor, no entanto, assume a plena responsabilidade pelas falhas, defeitos e erros remanescentes.
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A política desenvolvimentista continua. A presidente Dilma não fará uma política neoliberal, uma política conservadora. Sabemos que foi praticada no passado e não deu certo.
Guido Mantega, 2 de outubro de 2014
Introdução: do céu ao inferno em 36 meses
Na noite de 30 de abril de 2012, o tradicional discurso dos presidentes lulistas aos trabalhadores por ocasião do Primeiro de Maio veio com sabor diferente. Em lugar do cardápio algo insosso de avanços lentos sem confronto político, a primeira mandatária mulher ofereceu ao público prato apimentado. Dilma Rousseff dedicou o pronunciamento a atacar os bancos. “É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo”, asseverou em rede nacional de rádio e TV. Do alto dos 64% de aprovação de que então dispunha, concluiu confiante: “Não vamos abrir mão de cobrar com firmeza de quem quer que seja que cumpra o seu dever”. No caso, o dever era a redução dos juros para garantir o crescimento da economia. O gesto presidencial funcionava como ponta do iceberg da guerra desenvolvimentista, centrada naquele momento na “batalha do spread”, etapa decisiva da conflagração.
De 2011 a 2012, em iniciativa de audácia inesperada, os desenvolvimentistas invadiram a cidadela sagrada das decisões monetárias e avançaram aos saltos, pressionando instituições privadas para reduzirem os próprios ganhos, com o apoio das divisões pesadas dos bancos públicos e de ousada mudança nas regras da poupança. Quando a refrega parecia ganha, abrindo caminho para horizontes rooseveltianos, o poderoso Banco Central (BC) voltou a elevar a taxa Selic (abril de 2013) e, na prática, devolveu ao mercado financeiro controle sobre parte fundamental da política econômica. A decisão tornava manca a perspectiva de retomada do desenvolvimento nacional e paralisava o avanço progressista quando ele soava irresistível.
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