Crítica à lógica do curtoprazismo
- Opinión
As notícias, debates e orientações sobre economia e política em curso no Brasil convergem fundamentalmente para o curto prazo, seguindo a lógica indutora dos mercados financeiros e bursátil que se concentram nos movimentos especulativos diários em torno da alta e baixa de títulos e ações empresariais. Acontece que as pessoas, famílias, instituições, empresas, entre outros agentes, não funcionam pela lógica de curto prazo.
As decisões de investimento de uma empresa, de uma família ter filhos, de um jovem em escolher uma profissão, entre outros exemplos, constituem perspectivas de realização no médio e longo prazos. O mesmo ocorre como governos que deveriam operar com base em planejamento de maior duração.
A hegemonia atual do pensamento curtoprazista solapa as perspectivas de futuro no Brasil enquanto nação. Duas são suas razões principais que remontam à década de 1980.
A começar pelo desmanche da maioria política desenvolvimentista que governava o país até a crise da dívida externa nos anos de 1981 e 1983. Entre as décadas de 1930 e 1970, os efeitos das crises geradas no exterior eram contrapostas por respostas governamentais de defesa e sustentação da industrialização e, por consequência, do mercado interno.
Com a adoção do programa de ajuste exportador no último governo militar (general João Figueiredo, 1979-1985), uma nova fase de subordinação das políticas econômicas às determinações externas passou a vigorar no Brasil. Frente ao acúmulo da dívida externa de maior monta concentrada no setor privado, o governo a estatizou e aprisionou a condução da economia nacional ao esforço de gerar excedentes comerciais como forma de atender aos interesses do banqueiros internacionais.
Na sequência, a transição democrática constituída pelo conjunto de forças sociais que se reuniram em torno da Nova República se mostrou fracassada em termos da reconstituição de uma nova maioria política desenvolvimentista. A secundarização das propostas contidas no documento Esperança e Mudança no início da década de 1980 evidenciou o realinhamento do país às exigências impostas pelo exterior.
Apenas para lembrança, o documento Esperança e Mudança apresentou um importante e inédito diagnóstico a respeito do Brasil herdado da ditadura militar. Também ofereceu um conjunto de propostas desenvolvimentistas para o país passar a ser justo e democrático.
A opção por políticas neoliberais pelos governantes a partir de 1990 explicitou o ingresso passivo e subordinado do Brasil à globalização financeira. O receituário adotado que se mostrou proveniente do Consenso de Washington esvaziou consideravelmente a autonomia da política econômica governamental.
Na crise de dimensão global iniciada em 2008, o Brasil alterou o padrão de resposta governamental às determinações externas. Em vez de aumentar juros e impostos, cortar gastos públicos e direitos sociais, ocorreu justamente o contrário.
A redução na taxa de juros, a desoneração fiscal, a elevação nos gastos públicos e nos direitos sociais e trabalhistas impediram que os efeitos maléficos da crise internacional se transmitissem para o conjunto da população, sobretudo a base da pirâmide social. O Brasil se transformou num dos poucos países do mundo com a redução significativa do desemprego, pobreza e desigualdade social.
Sete anos depois, quando uma terceira onda da mesma crise global iniciada em 2008 atingiu países como China, Rússia, África do Sul, Brasil, entre outros, o padrão de política econômica interna foi revertido. Ou seja, diante da crise que segue vindo de fora, o governo resolveu aumentar conjuntamente juros, tributos e preços administrados, bem como reduzir gastos públicos e direitos socioeconômicos, o que resultou em grave recessão.
Os resultados negativos são evidentes. Sem a libertação do país da lógica do curtoprazismo, os interesses especulativos derivados dos mercados financeiros e bursátil continuaram a governar o país, deslocando dos compromissos de garantir um futuro melhor para todos.
27/09/2015
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