Os vetos diretos e retos

O governo com um ajuste para ser feito, o Congresso com uma pauta bomba, ou saía o ajuste ou a bomba iria destruir as finanças públicas.

23/09/2015
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 gabinete dilma
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Em meio às crises políticas e econômicas pelas quais passa o país, quando muitos torciam para a vaca ir para o brejo, outros suspirando sem ter o que fazer e os demais por conta de salvar a pele, empregos e salários, não é que uma luz apareceu no fim do túnel.

 

Como dizem os nordestinos, por uma peínha de nada, ou os mineiros, por um tantim assim, assim. O governo com um ajuste para ser feito, o Congresso com uma pauta bomba, ou saía o ajuste ou a bomba iria destruir as finanças públicas e de roldão as privadas.

 

Uns dizem que Dilma venceu, outros que foram os parlamentares que ajudaram para não serem julgados mais tarde, a mídia tergiversou e deixou no ar mais uma vez a sombra da crítica ao governo.

 

Não vamos perder o tempo com a mídia. Todos nós já sabemos de quem se trata e como tratam o governo.  Os jornaletes dos jornalões, os globelezas da vida, entre outros, a gente imagina que, podem até entender alguma coisa do que dizem, mas dizem somente o que interessa à emissora, a eles e a turma deles. 

 

Os telespectadores e ouvintes que se entulhem, se quiserem, da visão única deles. Quando parece que enfim vão dizer realmente do que se trata, tratam de desinformar logo em seguida para dar ideia de um contrassenso, absurdo ou incompetência do governo.

 

Por que será que os vetos da presidenta foram mantidos na sessão de ontem à noite do Congresso? Certamente não foi por apoio ao governo, tampouco por torcer pelo país, até mesmo para que dê certo o ajuste econômico. Até mesmo porque este ainda não foi à votação.

 

De duas uma. Ou votaram a favor dos vetos a troco de outros trocos posteriores acenados por representantes do governo, o que infelizmente é o que ocorre nas negociações políticas. Aqui, na Cochinchina e na Casa da Mãe Joana.

 

Ou foi porque devem ter imaginado: se voto contra vou criar um buraco sem tamanho que vai ser difícil escapar de cair nele e depois ter pernas para dele sair. Se voto a favor tenho pelo menos a chance de continuar criticando até mesmo afirmando que assim votei para evitar mal maior.

 

Puro jogo de aparências e de interesses. A grande maioria dos parlamentares têm o dom de iludir, tergiversar, voltar atrás e manter a mesma postura, enfim dizer nada e coisa nenhuma porque são parlamentares, apenas falam pois não podem agir como o governo.

 

Poucos os que entendem do assunto e podem dizer alguma coisa com começo, meio e fim. Embora alguns deles entendam mas não dizem, guardam ou para si ou para momentos em que sua palavra possa vir a ser o pêndulo central que mostre que ele é importante ou até mesmo imprescindível.

 

No final das contas, do Congresso sobram poucos os que são realmente representantes do povo pelo qual foram eleitos. Os demais não são parlamentares, mas “paramentares”, isto é, os que apenas usam seus paramentos de parlamentares, nada mais.

 

Mas a presidenta teve uma atuação determinante sim. Ela se reuniu, argumentou, esbravejou, bateu nas mesas de negociações para mostrar aos seus interlocutores que ou aprovam meus vetos ou vocês e os demais serão responsáveis por jogar o país no abismo. Não eu, teria dito.

 

Não poderia dizer outra coisa. Gostando ou não do ajuste do governo anunciado há dias, o país tem de ser salvo do descontrole das contas públicas. O caixa começa a fazer água. O barco poderia ir ao fundo fossem os vetos derrubados.

 

O mérito do ajuste é outro departamento. Já comentamos aqui que essa foi a opção do governo. Existe no mínimo outra que penaliza os mais ricos e salvam os mais pobres. A conta seria entregue aos que não pagam tributos sobre seus lucros e demais vantagens fiscais.

 

Importa ressaltar aqui é que parece ter o Congresso, mal ou bem, seguido a opção dura da presidenta. Ajuste goela abaixo agora ou, caso contrário, o país pode não ter alimento para aliviar a goela mais tarde.

 

As coisas chegaram a um ponto que se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. A saída pode vir a ser se unir o bicho some. Uma união mesmo que frágil, estratégica, por enquanto ajuda a economia voltar a caminhar sem sobressaltos, as instituições cumprirem seus papeis, o povo saber que existe uma saída, mesmo que não goste. Com o tempo dá tempo para corrigir os erros e mal feitos.

 

Simples assim. Vetos a gastos excessivos e exorbitantes. Diretos e retos. Sem mas, porém, todavia, contudo. Como aprovar despesas muito acima das possibilidades de caixa? Esta a questão principal que foi julgado no Congresso. Gostemos do resultado ou não.

 

Vamos lá. As crises não precisavam ter chegado tão longe. Boa parte delas criadas pelos “paramentares” e mantidas, repetidas e ampliadas pela velha imprensa velha. Por conta deles o país se arrastou deixando a Presidência isolada do Congresso e dos criadores de caso que saíram às ruas com bandeiras de uma oposição derrotada, mas golpista.

 

Os eleitores do governo perplexos, insatisfeitos e aturdidos. Sem saber o que pensar, avaliar e fazer. Afinal os votos válidos foram dados para isso? Para uma situação sem eira nem beira? Onde se tem a impressão pela mídia que todos estão contra?

 

Pois bem, o rombo maior foi evitado pelos vetos ontem mantidos pelo Congresso. Mas o ajuste ainda vai ser avaliado em sessões próximas. Voltar a colocar o país nos trilhos depende da aprovação do pacote de ajuste. Agora é que vamos ver quem é quem. Vamos ver quem tem coragem de votar sim ou não. E qual justificativa que vão dar. Quem entende alguma coisa ou coisa alguma.

 

O governo ganha tempo. Pode negociar melhor. Uma breve trégua para ver como prosseguir. E bem. Como diria o grande Manoel de Barros: “repetir, repetir, até ficar diferente; repetir é o dom do estilo”. Que o estilo da negociação volte a imperar com consequência, grandeza, verdade e democracia.

 

- José Carlos Peliano é colaborador da Carta Maior 

 

Créditos da foto: Roberto Stuckert Filho / PR

 

23/09/2015

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Os-vetos-diretos-e-retos/4/34574

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/172582
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