A barbárie de Beto Richa (PSDB) contra os professores do Paraná
- Opinión
“Até quando o mundo será governado pelos tiranos?
Até quando nos oprimirão com suas mãos cobertas de sangue?
Até quando se lançarão povos contra povos numa terrível matança?
Até quando haveremos de suportá-los?”
Bertolt Brecht
De acordo com o dicionário da língua portuguesa, chama-se de “Barbárie” uma conduta humana primitiva e agressiva, que desconsidera valores fundamentais da ética e do direito, da ciência, da Democracia pluralista e da organização da sociedade.
A violência desproporcional e desmedida das formas de segurança do estado é um exemplo típico de barbarismo, de falta de civilidade, e de capacidade de estabelecer um diálogo equilibrado com os semelhantes.
É por isso que não existe nenhuma outra palavra para classificar o massacre de professores em greve, realizado pelo Governo do Estado Paraná, sob o comando de Beto Richa (PSDB), do que “Barbárie”! As imagens que correram o mundo e, mais uma vez, envergonharam o país, são grotescas, criminosas, especialmente se considerarmos que 17 policiais, que se recusaram a atirar nos manifestantes, foram imediatamente presos, demonstrando que a preocupação do comando da operação não era com a dignidade dos grevistas, mas de impor o medo através da violência gratuita.
Mais de 200 pessoas, entre professores, sindicalistas e jornalistas, ficaram feridas pelo uso intensivo de cassetetes e balas de borracha pelo batalhão de choque, das quais 8 ficaram em estado extremamente grave.
Pior ainda, a violência praticada pelas forças policiais, segundo parte da imprensa paranaense, chegou a ser comemorada pelo staff da administração estadual, incluindo pelo Secretário Estadual de Segurança Pública, Fernando Francischini (SD), que fez parte da “bancada da bala” e anda armado sem a menor cerimônia, inclusive em programas de televisão.
A situação observada no Paraná é extremamente grave em vários sentidos, e não apenas pela violência desmedida do Governo Estadual. Os professores estão em greve desde 09 de fevereiro motivados pela política de arrocho salarial e pela ameaça de corte de direitos imposta pela gestão tucana. O Estado também possui o segundo maior déficit público do país, perdendo apenas para o Rio de Janeiro, crise que foi construída no primeiro mandato de Richa.
De acordo com o economista Eric Gil, do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos, e que se debruçou sobre as contas paranaenses, foi necessário um grande esforço do tucano para atingir esta situação, na medida em que a receita corrente líquida do Paraná cresceu 49,53% entre 2011 e 2014, seguindo uma tendência nacional observada nos demais estados.
Assim, sob o ponto da capacidade de arrecadação do Estado, não existe nenhuma explicação para o problema financeiro, motivo pelo qual as tentativas de Richa de transferir a origem da crise para o seu antecessor, Roberto Requião (PMDB), ou para o Governo Federal, não possuem e menor base real. Ao contrário, todos os indicadores demonstram que a crise de gestão foi instaurada pelo modelo neoliberal adotado pelo governo do PSDB na administração do Paraná que, se mantida, poderá levar o Estado que já foi considerado como “celeiro do país” à bancarrota.
Outro aspecto importante é que o crescimento da receita líquida não teve repercussão correspondente na folha de pessoal. Os gastos com pessoal tiveram uma queda proporcional de 49,89% em 2011, para 42,77% em 2014. Portanto, não são os servidores estaduais responsáveis pela crise financeira do Paraná, na medida em que a folha perdeu peso na composição da despesa pública.
Por outro lado, Gil identificou um crescimento de 376,4% nos gastos com publicidade pelo governo paraense, o que, talvez, contribua para a proteção que Beto Richa tem recebido da grande mídia monopolista, e de 349% nos gastos com cargos comissionados apenas durante os quatro anos de administração do PSDB, valores estes que extrapolam qualquer fundamentação razoável e fornecem uma pista para os problemas enfrentados pelo Estado.
Ou seja, enquanto o gasto geral com os servidores caiu em mais de 7% em quatro anos, a despesa com Secretariado e cargos de confiança cresceu quase 4 vezes, demonstrando que as prioridades da administração estadual estão muito longe da qualidade dos serviços públicos.
Ocorre que, ao contrário de atacar os problemas criados por sua própria gestão, como despesas com publicidade e redução dos cargos de confiança, seguindo as determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal, Richa resolveu eleger os servidores como alvo. Além do já citado arrocho salarial, o Governador iniciou um ataque à previdência dos servidores, não estabelecendo nenhum canal de diálogo.
Além disso, o Governo do Paraná segue envolvido em diversos escândalos de corrupção que, mesmo com a complacência da mídia, não tem passado em branco. Lembro da patética cobertura da Rede Globo sobre a prisão do primo de Beto Richa (PSDB), Luiz Abi Antoun, considerado homem forte do tucanato no Estado e acusado de fraudar licitações. Em reportagens dos Jornais Hoje e Nacional, os apresentadores classificaram o parente preso do Chefe do Governo Paranaense apenas como “primo distante”, numa clara tentativa de manipular a informação e abandar a situação do governador tucano.
Aliás, nenhum jornal da grande mídia chegou a noticiar o canto uníssimo “Fora Beto Richa” das torcidas do Operário e do Coritiba na decisão do campeonato paranaense de futebol, e cujo vídeo está disponível no canal YouTube (https://luizmullerpt.wordpress.com/2015/05/03/25-mil-torcedores-dos-dois-times-da-final-do-paranaense-gritam-em-coro-fora-beto-richa/).
Assim, o corte de direitos e garantias de servidores públicos é apenas uma “cortina de fumaça” para esconder a incompetência administrativa e os escândalos de corrupção que cercam a gestão estadual. E com o apoio da mídia, Richa segue a falida cantilena do corte dos gastos públicos elegendo as vítimas como réus.
Portanto, os injustificáveis atos de barbárie observados no Centro Cívico de Curitiba contra os professores no último dia 29 de abril são apenas uma parte da total falência do governo paranaense, que chegou a ser apresentado pelo insonso Aécio Neves (PSDB-MG) e pela sua parceira Rede Globo, contrariando a verdade dos fatos como modelo de gestão.
- Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado no Rio Grande do Sul, mestre em ciências sociais.
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