O novo ALCAP e a banca chinesa
06/01/2015
- Opinión
O ascenso da China na América Latina é inquestionável. A América Latina possui duas dinâmicas comerciais: por um lado a da Bacia do Caribe, centrada nos Estados Unidos e, por outro lado, a da América do Sul, mais vinculada à China. Uns crescem pouco, os outros crescem mais rapidamente. A China perfila-se como o segundo parceiro comercial da América Latina para o ano 2015, desalojando assim a União Europeia para o terceiro lugar e ficando cada vez mais próxima dos Estados Unidos.
A fragilidade da recuperação económica das economias líderes a partir de 2009 impeliu a China a procurar novos parceiros comerciais e reforçar acordos de integração produtiva na área Asia-Pacífico para dinamizar o seu comércio exterior, de acordo com o XII Plano Quinquenal 2011-2015. Dentro deste esquema, a sua política exterior consiste em reforçar as relações de cooperação no comércio, nas finanças e no desenvolvimento, com a possibilidade de avançar no sentido da integração comercial com base nas complementaridades com a América Latina[1].
Por outro lado, a China garante o seu papel estratégico na região apoiando-se no China Development Bank e no Export-Import Bank of China, que actuam de duas formas: 1) outorgam empréstimos a longo prazo para a compra de equipamento e infra-estrutura de origem chinesa; 2) empréstimos pagáveis em commodities - principalmente hidrocarbonetos -. A maior parte dos seus empréstimos entre 2005 e 2013 foram outorgados aos governos da Venezuela (50.6%), Argentina (14.1%), Brasil (13.3%) e Equador (10%), que contam com abundantes jazidas de hidrocarbonetos. O volume creditício do período foi de 98,000 milhões de dólares face aos 163 mil milhões de dólares outorgados na região pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento juntos[2].
As relações da China com o MERCOSUR tomaram um maior impulso este ano com a renovação da linha de swap (permuta de divisas) com a Argentina por 70,000 milhões de yuans (11,000 milhões de dólares) para fortalecer as suas reservas internacionais, o que constitui um segundo passo a favor da internacionalização do renminbi na América Latina. A Argentina converte-se assim no segundo país latino-americano a manter uma linha swap com a China, depois do Brasil, que tem uma por 190,000 milhões de yuans (31,000 milhões de dólares) desde 2013. Além disso, a China tem uma estratégia para os países da Aliança do Pacífico ao estabelecer escritórios do China Construction Bank no Chile e do Industrial and Commercial Bank of China no México e no Peru, em finais de 2014.
A recente cimeira do Fórum de Cooperação Económica Asia-Pacífico (APEC), realizada em Novembro de 2014, culminou com a criação da Área de Livre Comércio de Asia-Pacífico ALCAP (FTAAP, na sua sigla em inglês), que arrebatou aos Estados Unidos a iniciativa do livre comércio na bacia do Pacífico. O FTAAP é constituído por todos os países do Acordo Estratégico Trans-Pacífico de Associação Económica (TPP, na sua sigla em inglês), mais os estados não incluídos no TPP da bacia do Pacifico, basicamente a China. O confronto hegemónico do Pacifico está a ser ganho pela China com esta iniciativa e com os bancos estabelecidos nos países que eram bastiões de Washington na AdelP.
O ALCAP consolida a importância que a América Latina tem para a China e a importância que lhe os membros da Aliança do Pacifico lhe atribuem, já que se antecipa que o investimento estrangeiro chinês na região no seu conjunto se expandirá dez vezes em relação ao seu nível actual, de 108,000 milhões de dólares a 1.25 milhares de milhões de dólares na próxima década, disse o primeiro-ministro chinês na cimeira da APEC.
Finalmente, a China criou este ano um fórum permanente com a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) com o objectivo de consolidar as suas relações na região mediante uma base estável de negociações. Com isto assistimos a uma nova etapa das relações entre a América Latina e a China, onde a partir de 2015 os trinta e três países poderão negociar simultaneamente com o gigante asiático. Isto é conceptualmente diferente da posição dos Estados Unidos de negociar na base do um a um, base em que a assimetria não pode ser resolvida.
Tradução: Odiario.info
- Oscar Ugarteche Economista peruano, trabalha no Instituto de Investigações Económicas da UNAM, México. Membro do SNI/Conacyt. Coordenador do Observatório Económico de América Latina (OBELA) www.obela.org e presidente de ALAI www.alainet.org
Ulises Noyola RodríguezMembro do projecto OBELA, IIEc-UNAM. Contacto: ulisesnoyola1@gmail.com
[1]Veja-se China´s Policy Paper on Latin America and the Caribbean 2012 em http://bit.ly/1FgCDWy.
[2]Veja-se “China: the financial player in Latin America” em Deutsche Bank Research, em http://bit.ly/1qVvpEz.
https://www.alainet.org/pt/articulo/166546
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