Estabilidade democrática x alternância de poder: Derrubando mais um mito midiático

26/10/2014
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festa da militância do Partido dos Trabalhadores na Avenida Paulista, em São Paulo/SP, em 26 de outubro de 2014.
 
Fico imaginando como Thomas Jefferson e Franklin Delano Roosevelt, dois grandes ícones da Democracia norte-americana, classificariam os discursos de setores da direita brasileira, especialmente da mídia, contra a reeleição de Dilma Rousseff.
 
Jefferson, em 1801, inaugurou um período de 28 anos de mandatos dos Democratas-Republicanos no comando dos Estados Unidos, encerrado apenas com o fim de mandato de John Quincy Adams, em 1829.
 
Já o Democrata Franklin Delano Roosevelt, era tão popular, que sozinho comandou o país da América no Norte durante 12 anos ininterruptos, de 1933 até a sua morte, em 1945. Além disso, reelegeu o seu sucessor Harry Truman, que governou o país de 1945 até 1953, o que significou 20 anos de mandato do mesmo partido.
 
Ainda nos EUA, os Republicanos governaram o país de forma corrida por 12 anos pelo menos duas vezes, de 1863 a 1885, e de 1981 a 1993.
 
A continuidade de governos também pode ser observada no Reino Unido, considerado como um dos berços da Democracia Ocidental. Cito dois períodos deste século, ambos sob a liderança dos conservadores. O primeiro começou com Winston Churchill, em 1951, e se encerrou com Alec Douglas-Home, em 1964, totalizando 14 anos. Mais recentemente, a dama de ferro Margaret Hilda Thatcher, em 1979, deu início a um mandato de 19 anos do seu partido, encerrado apenas em 1997, com a derrota de John Major para o Trabalhista Tony Blair.
 
Como se observa, nenhum dos países citados pode ser considerado como uma ditadura. Logo, afirmar que a reeleição de Dilma Rousseff para o quarto mandato do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República, é uma forma de bolivarianismo ou de cubanização do Brasil, é um verdadeiro absurdo!
 
Primeiramente, a Venezuela não enfrenta nenhum tipo de ditadura, ao contrário, o Partido Bolivariano venceu todas as eleições em processos democráticos acirrados, com amplo monitoramento da comunidade internacional. Não há qualquer suspeita de fraude nas eleições, como ocorre, por exemplo, no Iraque monitorado pelos EUA.
 
Num segundo momento, a construção do Partido dos Trabalhadores – PT seguiu um caminho diferente do Partido Comunista Cubano. Se Cuba optou pela ditadura do proletariado, o PT sempre levantou como bandeira a radicalização da democracia, do fortalecimento da participação popular, e da ampliação das liberdades e dos direitos fundamentais.
 
O terceiro elemento importante reside no fato de, apesar da popularidade sem precedentes de Lula, não existir hoje um culto à personalidade do Presidente. Os insights foram cotados pelo próprio líder político. O PT possui uma base social muito forte, e diversas lideranças políticas destacadas e com brilho próprio, como a própria Presidenta reeleita Dilma, Jaques Wagner, Miguel Rosseto, dentre outros.
 
Por fim, a proposta de reforma política apresentada pelo Partido dos Trabalhadores, com constituinte exclusiva, democracia participativa, voto em lista (fechada ou preferencial) e financiamento público de campanha, derruba qualquer possibilidade de culto à personalidade, reforçando a importância do partido e da transparência na política.
 
Na política, como já ensinava Max Weber, o carisma do político é um capital fundamental. Mas existe uma diferença entre carisma e culto à personalidade. No culto à personalidade os demais atores políticos, inclusive o partido, são secundários. Assim, podemos verificar uma tendência autoritária na construção da imagem de outros candidatos, especialmente no arquétipo de Marina Silva, “a candidata dos sem partido”, e no modelo de “machão de mídia” sustentado por Aécio Neves.
 
A continuidade política de um projeto pode, isto sim, ser fundamental para a consolidação da Democracia e, especialmente, para a implementação de um projeto inclusivo e de fortalecimento das políticas sociais.
 
A história mundial tem exemplos significativos e positivos de continuidade, onde se destaca a atuação do Partido Operário Social-Democrata, da Suécia, fundado em 1989, e que governou o país por 44 anos, de 1932 a 1976. Não por acaso o país nórdico possui uma das melhores qualidades de vida do planeta, fruto de uma política social que foi sendo desenvolvida neste país durante todo o período do seu Governo.
 
Outro exemplo significativo é o da Noruega, onde o Partido Trabalhista teve maioria absoluta no Parlamento de 1936 a 1964, governando aquele país. A dose foi repetida com o retorno ao poder da Primeira Ministra Gro Harlem Brundtland, em 1986 (a mesma do Relatório “Nosso Futuro Comum”), terminando no governo do seu sucessor Thorbjon Jagland, em 1997.
 
Até mesmo a Alemanha, tão elogiada pela imprensa durante a Copa, mantém a Ministra Angela Merkel, do CDU (Partido Democrata Cristão), no comando desde 2005.
 
Sendo assim, o discurso da mídia e da direita contra a continuidade do PT no governo é apenas mais uma forma de racionalização do preconceito contra a inversão programática que o país vem atravessando desde 2003. Há incontestável seletividade analítica, já que o PSDB governa São Paulo desde 1995.
 
A vitória de Dilma demonstrou que país, de fato, vem passando por grandes transformações. Portanto, a sua vitória é uma absoluta prova de estabilidade da Democracia Brasileira, e não o contrário.
 
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/165073
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