Kadafi: “Imperialismo é igual à escravidão”

20/10/2011
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“Nunca enfrentei nenhuma luta que não fosse por meus princípios, ajudando o povo, o povo líbio e os povos africanos. E os imperialistas? O que têm a dizer? Nada! São aves de rapina!”
Muamar Kadafi
 
O líder líbio Muamar Kadafi está morto e “a comunidade econômica ficará muito feliz” asseguram as agências de notícias que, cantando o jingle dos seus patrocinadores, comemoram o assassinato como um gol. Bombas e mísseis da OTAN com tecnologia de ponta, made in USA – e talvez alguma contribuição israelense - atingiram Kadafi em sua terra natal, Sirte, depois de heróicos e árduos meses de resistência.
 
“Ele foi capturado. Ele está ferido em ambas as pernas… Ele foi levado de ambulância”, declarou Abdel Majid, chefe militar dos mercenários da OTAN à agência Reuters nesta quinta-feira, 20 de outubro. Logo depois, o mesmo Abdel acrescentou que Kadafi “também” tinha um tiro na cabeça e... havia morrido. Certamente um insignificante detalhe, entre tantos que esclarecem o naipe e a credibilidade de tais “informações”.
 
Tão covarde quanto os mísseis e as armas químicas - como fósforo branco – que continuam sendo jogados sob os patriotas que defendem seu país do invasor estrangeiro e do auto-intitulado Conselho (Anti) Nacional de Transição, é o bombardeio midiático que tenta legitimar o morticínio de civis e o assalto às imensas riquezas líbias.
 
É impressionante o número de “doutores”, “filósofos” e “especialistas” escolhidos a dedo para repetir o script delineado pelos apóstolos do terrorismo de Estado. Sem se atentar ao ridículo da missão, tentam dar ares de “libertação” à partilha do país africano, que até bem pouco tempo ostentava os melhores índices de desenvolvimento humano, expectativa de vida de 75 anos, vigoroso sistema de saúde e educação estatais, garantidos pela gestão nacionalista da oitava maior reserva de petróleo do planeta.
 
Ignorando olimpicamente a realidade, emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas dos barões da mídia fantasiam e tergiversam da forma mais abjeta, oferecendo propaganda como “notícia”, visivelmente abatidos diante da altivez e da coragem de um líder que não abandonou seu povo. Como sublinhou o presidente venezuelano Hugo Chávez, “lembraremos de Kadafi durante toda a vida como um grande lutador, um revolucionário e um mártir".
 
Manipulação
 
“Poderemos retomar nossos negócios. Estamos gratos aos EUA, à França e ao Reino Unido por sua ajuda", teria afirmado uma “fonte”, apontada simplesmente como “residente de Trípoli”, em entrevista à Reuters, BBC e AP - casualmente agências de notícias dos países agraciados pelas polpudas receitas petrolíferas líbias, entregues pelos golpistas em troca do “reconhecimento político”.
 
Para não deixar sombra de dúvida a quem serve, o “primeiro ministro do CNT”, Mahmud Jibril, “confirmou” o assassinato de Kadafi em frente às bandeiras estadunidense e da monarquia deposta, que agora retorna amparada pelos democratas de latrina.
 
Como se seus governos ainda valessem algo e não estivessem cambaleando diante das gigantescas mobilizações populares que tomam as ruas da Europa e dos EUA contra o parasitismo dos banqueiros, rechaçando os pacotes de arrocho que turbinam o desemprego e lançam milhões à miséria, os “líderes” da agressão se apressam em pontificar sob o futuro da Líbia. Como se o relógio corresse a seu favor.
 
A secretária de Estado americana Hillary Clinton defende o assassinato do ex-presidente como “claro avanço”; o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, fala em “futuro firme e democrático" – talvez o mesmo que a sua tropa de choque reserve ao povo inglês; o ministro de Exterior da França, Alain Juppe, diz que “é o início de uma nova era”; enquanto o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, dando-se ares de imperador, proclama: "sic transit gloria mundi".
 
Atuando como correia de transmissão do imperialismo, vestindo a camisa de força da alienação em massa, as agências noticiosas escolhem a dedo imagens e depoimentos de “pessoas do povo” que aplaudem a presença dos assassinos e torturadores que vieram para “libertar o país” e “instaurar a democracia” à ponta de baioneta. Assim, montam um cenário ao bel prazer dos anunciantes para legitimar seus hediondos crimes, construindo um mundo paralelo, onde a única linguagem que ecoa é a da submissão e a única verdade é a do cifrão.
 
Aos que sonham varrer a soberania e a auto-determinação do povo líbio para debaixo das profundas jazidas de ouro negro, vale lembrar um dos últimos comunicados de Kadafi. O inferno para os ladrões do petróleo alheio está apenas começando...
 
Comunicado de Kadafi de fins de agosto de 2011
 
“Aos meus compatriotas
 
Os assaltantes imperialistas que querem usurpar a terra de vocês, querem ver-me morto e já ofereceram um prêmio pela minha cabeça. Não sabem que minha cabeça, minha alma e o martírio pertencem a Alá, o grande deus. Mostrei ao mundo onde está o ninho da maldade.
 
Pensam vocês, meu irmãos, que o que acontece ao meu país acontece por minha culpa? Não. Por isso lhes digo que defendam a liberdade de vocês. Ganhamos essa batalha e outras ganharemos. Deus é grande. Vocês têm casa, saúde e escola gratuitos.
 
Ajudei o Chifre da África e, aqui, nenhum imperialismo imperou. Mas não fiz o bastante. Agora, vocês sofrem. Lutei muito para que, agora, vocês percam tudo. Lutem, lutem, não descansem nem se acovardem.
 
Somos milhões no mundo que já vimos que as coisas são como eu sempre disse que eram: imperialismo é igual a escravidão. Não nos submeteremos. Meu legado há de servir também a outras nações. Não estou morto, porque muitos ainda me querem vivo.
 
Estou com vocês nesses dias e nas noites escuras. Estamos com Alá.
 
Meus irmãos, levem a guerra a cada rincão da opulência, da vaidade, da vida lasciva. Não se deixem seduzir pelos dólares de sangue. Os líbios são seres luminosos. Tenham todos a certeza de que vocês estão do lado da grandeza.
 
Deixem passar o tempo. Há forças no interior de vocês. Libertem-se dos demônios do mundo, vivam e deixem viver.
 
Todos sabem onde estou. Nos oásis mais belos de nosso país. Não destruam a Líbia. Já sobrevivemos a seis meses de martírio e dor. Mas essa é a terra de vocês. Não a vendam.
 
Minha alma está com vocês. Temos democracia participativa na Líbia. O povo, para o povo. E por que dizem que não? Porque eu estou aqui. Uma voz de revolução? Não. Nem pensam nisso. É tudo pelo petróleo.
 
O imperialismo está acabado. Irmãos da Revolução Verde, não caiam na mentira capitalista. Para que algum império sobreviva hoje, precisa de guerra eterna.
 
Vocês não veem que ainda estando eu vivo e combatendo essa batalha infernal, eles já brigam entre eles, disputando o butim da nossa Líbia amada?
 
Os dissidentes supõem que os colonialistas lhes darão o que eu lhes dei? Pois esperemos, para ver.
 
Minha família e eu estamos bem, lutando pela verdade. Sofro, apenas, por haver líbios matando líbios. Mas foi o que conseguiram os sediciosos. Eu nunca lutei luta que não fosse por meus princípios, ajudando o povo, o povo líbio e os povos africanos. E eles? O que têm a dizer? Nada! Todos os capitalistas racistas são iguais. São aves de rapina!
 
Eles e seus slogans de caridade: Ajudem as crianças da África? E que criança da África ganha deles alguma coisa? As doações vão para banqueiros e multinacionais e para as empresas que eles criam para lucro deles. Algum africano alguma vez foi beneficiado pelas empresas que eles criam? Não.
 
O Chifre da África sofre o que sofre por causa do imperialismo. Sou líder e tenho o poder nas mãos. Vivo porque meu povo vive. Por isso querem calar-me. Kadafi aqui, hoje e sempre.
 
Povos do mundo levantem-se e façam fugir esses meios-homens que querem escravizar vocês.
 
Agora estou em Sirte. Nasci aqui. Sou filho humilde desse deserto líbio que me viu nascer. Estou em Trípoli, em Benghazi e no mundo. E daqui, falo. E os ianques, onde estão? O que têm a dizer?
 
Acaso a civilização e a cultura ianque querem pendurar-me numa forca, como o líder do Iraque?
 
Pois se acontecer, que seja. O martírio honra quem mostra a verdade ao mundo.
 
Estou em Sirte, em Trípoli, em Benghazi...
https://www.alainet.org/pt/articulo/153457
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