15 Outubro 2011: grande vitória dos Indignados
15/10/2011
- Opinión
Desde Fevereiro de 2003 é a primeira vez que um apelo a uma acção internacional numa data determinada recebe um tal eco. Em Espanha, donde a iniciativa partiu, perto de 500.000 manifestantes desfilaram nas ruas de cerca de 80 cidades diferentes – dos quais 200.000 ou mais em Madrid |1|. |2| Em 5 continentes se assistiu a acções populares. Mais de 80 países e cerca de um milhar de cidades viram desfilar centenas de milhares de jovens e adultos em protesto contra a gestão da crise económica internacional por governos que acodem em socorro de instituições privadas responsáveis pela derrocada e que dela tiram proveito para reforçar políticas neoliberais: despedimentos em massa nos serviços públicos, sangrias nos serviços sociais e respectivo orçamento, privatizações maciças, atentados contra os mecanismos de solidariedade colectiva (sistemas públicos de pensão de reforma, direito ao subsídio de desemprego, negociações colectivas entre assalairados e patronato, etc.). Por toda a parte o reembolso da dívida pública é o pretexto utilizado para reforçar a austeridade. Por toda a parte os manifestante denunciam os bancos.
Em Fevereiro de 2003 assistimos à maior mobilização internacional para tentar impedir uma guerra: a invasão do Iraque. Mais de 10 milhões de pessoas reuniram-se em inumeráveis manifestações em todo o planeta. Depois disso, a dinâmica do movimento altermundialista nascido ao longo dos anos 1990 abrandou progressivamente, sem no entanto desaparecer por completo.
Neste 15 de Outubro de 2011, manifestaram-se um pouco menos de um milhão de pessoas, mas trata-se duma enorme vitória, porque é a primeira grande manifestação realizada em 24 horas em todo o mundo, contra os responsáveis pela crise capitalista que faz dezenas de milhões de vítimas.
A crise financeira e económica iniciadas nos EUA em 2007 estendeu-se principalmente à Europa a partir de 2008. A crise da dívida, que era coisa dos países em desenvolvimento, deslocou-se para os países do Norte. Esta crise está ligada à crise alimentar que ataca vastas regiões dos países em desenvolvimento desde 2007-2008. Acresce a crise climática que afecta principalmente as populações do Sul do planeta. Esta crise sistémica exprime-se igualmente ao nível institucional: os dirigentes dos países do G8 sabem que não têm meios para gerir a crise internacional, por isso reuniram os G20. Estes por sua vez há três anos demonstram serem incapazes de encontrar soluções válidas. Esta crise adquiriu uma dimensão civilizacional. Pô-la em causa significa pôr em causa o consumismo, a mercantilização generalizada, o desprezo pelos impactes ambientais das actividades económicas, o produtivismo, a procura de satisfação dos interesses privados em detrimento dos interesses, dos bens e dos serviços colectivos, a utilização sistemática da violência pelas grandes potências, a negação dos direitos elementares dos povos, como o da Palestina… Muitas vezes é o capitalismo que está no centro do que é posto em questão.
Nenhuma organização centralista convocou esta manifestação. O movimento dos Indignados nasceu em Espanha em Maio de 2011, após as rebeliões tunisinas e egípcias dos meses antecedentes [e após a espantosa manifestação de 12 de Março em Portugal, que deixou toda a gente de boca aberta ao pôr na rua, num só dia, quase meio milhão de pessoas indignadas, ou seja, cerca de 4% da população portuguesa]. Este movimento estendeu-se à Grécia em Junho de 2011 e a outros países europeus. Atravessou o Atlântico Norte desde Setembro de 2011. Evidentemente uma série de organizações políticas e de movimentos sociais organizados apoiam o movimento, mas não o conduzem. A sua influência é limitada. Trata-se de um movimento largamente espontâneo, jovem na sua maioria, com um enorme potencial de desenvolvimento que inquieta fortemente os governos, os dirigentes das grandes empresas e todos os polícias do mundo. Pode alastrar como fogo num molho de palha, ou morrer em cinzas. Ninguém sabe.
O 15 de Outubro de 2011, o apelo à mobilização, reuniu sobretudo manifestantes dos países do Norte e não poupou os centros financeiros do mundo inteiro, o que é prometedor. O movimento dos Indignados desencadeou uma dinâmica muito criativa e emancipadora. Se ainda não fazes parte, procura juntar-te a ela, ou lançá-la se ainda não existe no local onde vives. Interconectemo-nos para uma autêntica emancipação. (Traduzido por Rui Viana Pereira.)
Notes articles:
|1| Escrevo estas linhas em Madrid, onde participei nesta imponente manifestação de 200.00 pessoas.
|2| Nota do tradutor : Em Lisboa, cerca de 100.00 manifestantes marcharam em direcção ao Parlamento; aí realizaram uma assembleia popular, aprovaram o apelo a uma greve geral do país, a continuação de diversas formas de luta, e um apelo à suspensão do pagamento da dívida e ao arranque de um processo de auditoria cidadã da dívida pública.
Infos article
URL: http://www.cadtm.org
URL: http://www.cadtm.org
- Éric Toussaint, doutorado em Ciências Políticas, presidente do CADTM da Bélgica. Dirigiu com Damien Millet o livro colectivo La dette ou la vie [A Dívida ou a Vida], Aden-CADTM, 2011. Participou no livro da ATTAC Le piège de la dette publique. Comment s’en sortir [A Armadilha da Dívida Pública. Como Escapar], ed. Les liens qui libèrent, Paris, 2011.
https://www.alainet.org/pt/articulo/153312
Del mismo autor
- O Banco Mundial e o FMI reconhecem distância entre o Norte e o Sul 16/02/2022
- El Banco Mundial y el FMI reconocen que se amplía la brecha entre el Norte y el Sur 07/02/2022
- A dívida e o livre comércio como instrumentos de subordinação da América Latina desde a independência 07/02/2022
- Two centuries of sovereign debt conflicts 14/01/2022
- Dos siglos de conflictos sobre las deudas soberanas 14/01/2022
- Estados Unidos: um ano de presidência de Joe Biden 10/01/2022
- Estados Unidos: Un año de presidencia de Joe Biden 04/01/2022
- Coronavirus: Global Collective Commons vs Big Pharma 25/10/2021
- Coronavirus: bienes comunes mundiales contra el Big Pharma 21/10/2021
- La apropiación de conocimientos y los beneficios del Big Pharma en tiempos del coronavirus 19/10/2021
Clasificado en
Clasificado en:
Crisis Económica
- Geraldina Colotti 07/04/2022
- Julio C. Gambina 07/04/2022
- Rafael Bautista S. 06/04/2022
- Julio Gambina 04/04/2022
- José Ramón Cabañas Rodríguez 01/04/2022