Feiras do livro

08/07/2010
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Participei, nos últimos  meses, de várias ferias do livro e outros eventos literários, como o Programa  TIM Grandes Escritores. Entre outubro e novembro passados, estive nas feiras  de Gravataí (RS), Caxias do Sul (RS), Belém (PA) e no Fórum das Letras, em  Ouro Preto (MG). Em todos esses eventos constatei o empenho dos promotores em  promover o livro, despertar o interesse pela literatura e facilitar o contato  entre leitores e escritores.

 Ler é percorrer todos os períodos da  história, penetrar conhecimentos científicos e técnicos, dar asas à  imaginação, sem sair do lugar. Basta abrir o livro. É conhecer qualquer tema,  da fabricação de vinhos à vida dos papas, bastando decifrar o código  alfabético em folhas de papel ou no monitor de um equipamento eletrônico. Ler  é sonhar, poetar, divagar, expandir a fantasia e cultivar a sensibilidade.  

A diferença entre ler e ver TV é que, no primeiro caso, o  leitor escolhe o que lhe interessa. Com a vantagem de não se submeter à  avalanche publicitária e adequar a programação – no caso, a leitura – ao ritmo  de sua conveniência. E, considerando a baixa qualidade de conteúdo na TV  brasileira, ler é absorver cultura.

 No Brasil, o consumo de  livros ainda é ínfimo: 2,7 por habitante/ano. Na Argentina, 6. Há em nosso  país cerca de 3 mil livrarias, 50% no estado de São Paulo. Aqui, o livro sofre  o efeito Tostines: é caro porque vende pouco e vende pouco porque é caro. O  governo, excetuando a compra de livros didáticos, não incentiva a produção e  circulação de livros. Raros os municípios com bibliotecas públicas, e as  poucas existentes nem sempre primam pela conservação das instalações e  atualização do acervo. A informatização ainda engatinha e o leitor enfrenta,  por vezes, barreiras burrocráticas para ter acesso ao  livro.

 Assim, não é de se estranhar que alunos da 8ª série não  consigam redigir uma simples carta sem cometer graves erros de concordância e  sintaxe. A situação piora quando se trata de interpretar um texto. Lê-se o  período sem conseguir entendê-lo...

 O amor aos livros nasce na  infância. Criança que jamais viu os pais lerem ou vive numa casa desprovida de  livros terá, com certeza, dificuldade de adquirir gosto pela literatura. Hoje  em dia recomenda-se ler histórias para os bebês, de modo a favorecer as  sinapses cerebrais e a elaboração de sínteses cognitivas. Ao ler ou contar uma  história para crianças é normal ouvi-las recriarem em cima do que escutam. A  imaginação entra em diálogo com o texto. A fantasia aflora, oxigenando o  ouvindo psíquica e espiritualmente.

 Já a TV não propicia essa  interação, apenas impõe à criança o conteúdo de sua programação. E, de certo  modo, anula a fantasia infantil, como se a TV fosse capaz de substituir o  saudável exercício de dar asas à imaginação.

 Outrora, as feiras  do livro tinham a característica de baratear o produto. Hoje, isso se torna  cada vez mais raros. Apesar de o governo Lula ter desonerado tributos de  editoras, tudo indica que o benefício não se estendeu aos leitores.  

 Felizmente há, pelo Brasil afora, bibliotecas montadas por  iniciativas voluntárias, cujos acervos dependem de doações. Na capital  paulista, é possível tomar emprestado um livro nas estações de metrô. E o  índice de não devolução é mínimo – o que consola nossa autoestima ética nessa  nação de tantos políticos corruptos. Em Brasília, um açougue dispõe livros em  pontos de ônibus. Na Baixada Fluminense, uma dona de casa transformou seu  quintal em biblioteca pública.

 Tomara que o propósito de o poder  público instalar uma biblioteca em cada município brasileiro torne-se  realidade um dia. O Brasil estará a salvo no dia em que as novas gerações  forem viciadas em livros.

- Frei Betto é escritor, autor de  “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros. <http://www.freibetto.org>   twitter:@freibetto.
 

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