Contagem regressiva

23/09/2009
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Faltam 74 dias para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP 15), em Copenhague, na Dinamarca, que reunirá líderes mundiais em torno de um novo acordo global para enfrentar os problemas decorrentes das alterações do clima. Até lá estaremos em contagem regressiva para avançarmos numa agenda de negociações capaz de responder ao desafio ímpar que o mundo tem pela frente.
 
Cerca de 100 líderes mundiais se reuniram ontem na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque, nos Estados Unidos, convocados pelo secretário-geral da organização, Ban Ki-moon. Para ele, essa cúpula do clima é a última chance de mobilizar chefes de Estado para "selar o acordo" sobre o clima.
 
É compreensível o temor de não haver progresso consistente nas negociações, que resulte em um acordo significativo em Copenhague. Pois parece faltar, ainda, uma consciência política de que o enfrentamento das mudanças climáticas vai exigir medidas urgentes em escala planetária e compromisso de todos os países para uma economia de baixo carbono, cada um segundo a sua capacidade.
 
Mudança climática não é apenas um problema ambiental. É uma questão que exigirá mudanças estruturais profundas, criando novo paradigma de desenvolvimento. Deve ser o prisma de qualquer investimento para gerar emprego, renda, produção ou tecnologia no século 21. Nenhum país pode atrasar seu engajamento na transição para uma sociedade de baixo carbono. O dilema sobre como promover o crescimento sem agravar as conseqüências do aquecimento global é universal.
 
Para países pobres e em desenvolvimento, essa transição ganha contornos dramáticos diante do desafio de dar qualidade de vida a milhões de pessoas que ainda vivem na pobreza. Como crescer dialogando adequadamente com as necessidades e responsabilidades irrecusáveis impostas pela crise ambiental, cujo eixo central são as mudanças climáticas?
 
Em seu discurso, ontem, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, disse que as negociações da ONU se encontram perigosamente num impasse. "Não se trata de uma discussão que podemos retomar no próximo ano. Isso poderia resultar num terrível colapso, num atraso de anos para que as ações contra as mudanças climáticas comecem a ser adotadas". Ele ressaltou ainda que as alterações climáticas parecem estar acontecendo mais rapidamente do que previu o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) há dois anos. "Precisamos encontrar soluções agora".
 
O governo chinês anunciou na cúpula um plano de tornar sua matriz energética 15% renovável até 2020, a iniciativa de plantar 40 milhões de árvores, reduzir as emissões tóxicas de veículos automotores, de fábricas e de suas usinas de carvão e oferecer ajuda para países mais pobres.
 
A União Européia também noticiou a meta de reduzir em 20% o volume de emissões até 2020. Já a proposta americana mais agressiva anunciada até agora fala em cortes de 4%, quando comparados com as emissões de 1990.
 
Enquanto isso, outras nações, a maioria em desenvolvimento, estão surgindo com iniciativas mais criativas e ousadas, embora não seja fácil no âmbito de cada uma. A Costa Rica, por exemplo, propõe uma transição para a neutralidade de carbono até 2021. As Maldivas e outras nações insulares pretendem alcançar a neutralidade de carbono até a metade do século. Já a Coréia do Sul está investindo cerca de 80% do seu pacote de estímulo fiscal em medidas relacionadas ao clima.
 
O Brasil, que tem papel importante neste debate, infelizmente, se ausentou do encontro, sem justificativa plausível. E até agora tem anunciado metas pouco ambiciosas. O plano é reduzir as emissões provenientes do desmatamento na Amazônia - a principal fonte de emissões de gases - em 80% até 2020, e ampliá-lo com cortes nas emissões globais provenientes de outros setores. Poderíamos avançar mais, principalmente no compromisso com metas de desmatamento zero para todos os biomas.
 
Precisamos de mais clareza das nações em seus compromissos, mesmo que sejam compromissos voluntários. O mundo desenvolvido e o em desenvolvimento, a partir de esforços multilaterais, precisam um do outro para sair do impasse e avançar numa parceria que funcione apoiada em propósitos generosos e solidários, com investimentos substanciais.
 
A sociedade também deve participar dessas negociações e se fazer ouvir, clamando por uma representação que leve em conta suas prioridades e problemas, não apenas as conveniências da cultura política tradicional, ultrapassada mas ainda muito poderosa.
 
Na última segunda-feira, dia 21, foi o dia do alerta geral da Campanha Global de Ações pelo Clima (GCCA), mais conhecida como TicTacTicTac, com ações ao redor do mundo para chamar a sociedade e persuadir os líderes internacionais pela assinatura de um acordo justo e eficiente na reunião de Copenhague. Para participar, consulte os sites www.tictactictac.org.br ou http://tcktcktck.org
 
A ONU também está convocando a população mundial a assinar uma petição pela internet, parte da campanha "Seal the Deal" (Selar o acordo), pedindo medidas urgentes no combate às mudanças climáticas. As assinaturas coletadas serão entregues aos líderes mundiais durante a COP-15. Basta acessar o site http://www.sealthedeal2009.org
 
E no domingo, dia 27, estarei, juntamente com o Partido Verde, o Movimento Brasil no Clima e várias organizações não-governamentais no Rio de Janeiro para uma caminhada, a partir das 11h, do Leblon ao Leme. Pediremos ao governo brasileiro que assuma metas de redução de emissões de carbono e que adote políticas que apontem, entre outros objetivos, para o desmatamento zero e o fim de novas termoelétricas a carvão. É preciso que o governo se posicione claramente e assuma de forma obrigatória e internacionalmente verificável, essas metas na Conferência de Copenhague. Participe conosco. Mais informações no site http://www.pv.org.br
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/136572

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