Basta!!!
14/07/2008
- Opinión
Primeiro foi a linda adolescente Gabriela, que tomou pela primeira vez em sua jovem vida de 14 anos o metrô e ali mesmo perdeu a vida. Bala perdida resultante do tiroteio em meio ao qual se viu. Depois foi a jovem Luciana, estudante universitária que num dia como qualquer outro foi à faculdade e levou um tiro na espinha vindo de algum lugar perto de onde estava e hoje vive em cadeira de rodas.
Depois foram tantos e tantas. O menino João Hélio, arrastado ao longo de sete km. preso ao cinto de segurança do carro da mãe. E outros e outras, vítimas dos criminosos que fazem as leis da cidade em que vivemos e que de repente fecham lojas, ruas, bairros. Semeiam o pânico entre a população pacífica e trabalhadora com sofisticadas armas fornecidas pelo tráfico e banalizam a vida que já teme ser vivida e encontrar-se de repente e sem querer em meio a saraivadas de tiros sem sentido e sem razão.
Até agora eram bandidos os autores da matança que assolava nossas ruas e dizimava nossa infância e juventude. A população carioca pedia medidas sérias e imediatas. Aprovou o exército nas ruas, aceitando os danos por isso causados à paz e à tranqüilidade da cidade. Acatou policiamentos ostensivos, blitze que incomodavam tanto a bandidagem quanto os cidadãos de bem. Tudo era válido desde que a violência fosse encurralada e, se não detida, ao menos intimidada.
Sucede que agora aconteceu o inesperado. E a cidade não se refaz do estupor. Pois aqueles que supostamente seriam os encarregados de garantir a lei e a ordem; aqueles de quem se esperaria que trouxessem de volta um sopro de paz e um respiro de sossego à tão sofrida população carioca passam a ser perpetradores do crime, da desordem e da agressão. É de suas armas que partem as balas que fazem novas vítimas e ceifam vidas ainda em flor.
Primeiro foram os três rapazes entregues por militares aos traficantes do morro onde reinava a facção rival, que resultou em morte violenta e bárbara, precedida de torturas e agressões. Depois, o belo e jovem Daniel, que cometeu a enorme imprudência de ir a uma boate freqüentada pela juventude da zona sul carioca. E perdeu a vida porque um policial militar encarregado da segurança do filho de uma procuradora pretendeu defender seu cliente em meio a uma arruaça na porta da boate e, em vez de intimidar os desordeiros, acabou atirando e matando um jovem inocente.
Agora é o pequeno João Roberto, fã do Homem Aranha, que sonhava com sua festinha de quatro anos. Dentro do carro com a mãe e o irmão de nove meses foi executado por uma saraivada de balas desfechadas por policiais militares que confundiram seu veículo com o dos bandidos que perseguiam. Pasmem! Os policiais treinados para capturar marginais não conseguem distingui-los de uma pacífica família que andava por um bairro de classe média do Rio de Janeiro.
O governador chama os policiais de débeis mentais. O secretário de segurança diz que a situação foi desastrosa. O ministro da justiça fala em barbárie. Todas essas palavras grandiloquentes esbarram na verdade dolorosa e pungente dos gritos desesperados do pai do menino assassinado em depoimento na televisão. Da boca do taxista Paulo Roberto saiu aquilo que todos queremos dizer há muito tempo.
Basta! Não é possível que a polícia, que devia proteger, mate. Que homens treinados para reprimir o crime, sejam aqueles que o cometem. Que as armas dos agentes de segurança sejam usadas para acabar com a segurança e a vida das pessoas de bem. Basta! Basta de retórica, de teoria, de medidas paliativas! Quantas crianças mais terão que morrer para que se comece a pensar em ações com alguma dose de eficácia e bom senso?
Os olhinhos puros de João Roberto, doados pela família e transplantados no rosto de uma menina de oito anos nos olham. E eles também dizem: Basta!
- Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros. (wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape <http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape> )
Depois foram tantos e tantas. O menino João Hélio, arrastado ao longo de sete km. preso ao cinto de segurança do carro da mãe. E outros e outras, vítimas dos criminosos que fazem as leis da cidade em que vivemos e que de repente fecham lojas, ruas, bairros. Semeiam o pânico entre a população pacífica e trabalhadora com sofisticadas armas fornecidas pelo tráfico e banalizam a vida que já teme ser vivida e encontrar-se de repente e sem querer em meio a saraivadas de tiros sem sentido e sem razão.
Até agora eram bandidos os autores da matança que assolava nossas ruas e dizimava nossa infância e juventude. A população carioca pedia medidas sérias e imediatas. Aprovou o exército nas ruas, aceitando os danos por isso causados à paz e à tranqüilidade da cidade. Acatou policiamentos ostensivos, blitze que incomodavam tanto a bandidagem quanto os cidadãos de bem. Tudo era válido desde que a violência fosse encurralada e, se não detida, ao menos intimidada.
Sucede que agora aconteceu o inesperado. E a cidade não se refaz do estupor. Pois aqueles que supostamente seriam os encarregados de garantir a lei e a ordem; aqueles de quem se esperaria que trouxessem de volta um sopro de paz e um respiro de sossego à tão sofrida população carioca passam a ser perpetradores do crime, da desordem e da agressão. É de suas armas que partem as balas que fazem novas vítimas e ceifam vidas ainda em flor.
Primeiro foram os três rapazes entregues por militares aos traficantes do morro onde reinava a facção rival, que resultou em morte violenta e bárbara, precedida de torturas e agressões. Depois, o belo e jovem Daniel, que cometeu a enorme imprudência de ir a uma boate freqüentada pela juventude da zona sul carioca. E perdeu a vida porque um policial militar encarregado da segurança do filho de uma procuradora pretendeu defender seu cliente em meio a uma arruaça na porta da boate e, em vez de intimidar os desordeiros, acabou atirando e matando um jovem inocente.
Agora é o pequeno João Roberto, fã do Homem Aranha, que sonhava com sua festinha de quatro anos. Dentro do carro com a mãe e o irmão de nove meses foi executado por uma saraivada de balas desfechadas por policiais militares que confundiram seu veículo com o dos bandidos que perseguiam. Pasmem! Os policiais treinados para capturar marginais não conseguem distingui-los de uma pacífica família que andava por um bairro de classe média do Rio de Janeiro.
O governador chama os policiais de débeis mentais. O secretário de segurança diz que a situação foi desastrosa. O ministro da justiça fala em barbárie. Todas essas palavras grandiloquentes esbarram na verdade dolorosa e pungente dos gritos desesperados do pai do menino assassinado em depoimento na televisão. Da boca do taxista Paulo Roberto saiu aquilo que todos queremos dizer há muito tempo.
Basta! Não é possível que a polícia, que devia proteger, mate. Que homens treinados para reprimir o crime, sejam aqueles que o cometem. Que as armas dos agentes de segurança sejam usadas para acabar com a segurança e a vida das pessoas de bem. Basta! Basta de retórica, de teoria, de medidas paliativas! Quantas crianças mais terão que morrer para que se comece a pensar em ações com alguma dose de eficácia e bom senso?
Os olhinhos puros de João Roberto, doados pela família e transplantados no rosto de uma menina de oito anos nos olham. E eles também dizem: Basta!
- Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros. (wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape <http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape> )
https://www.alainet.org/pt/articulo/128705
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