Olhar longe para frente
07/06/2007
- Opinión
Depois da publicação dos dados atemorizantes do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) que prevêem grandes transtornos no sistema-Terra e no sistema-vida, o Brasil está ganhando mais e mais interesse internacional. Não é para menos: é a potencia mundial das águas, dotado com a maior biodiversidade do mundo, contendo em seu território as maiores florestas úmidas da Terra, com a maior área agricultável de todo o planeta, com climas para todo tipo de produção de alimentos e fibras. E ainda detém abundantíssima biomassa com tecnologia avançada, capaz de apresentar uma alternativa à matriz enegética dominante de base fóssil.
Diante desta constatação, o pais precisa de um olhar de águia, que vê longe para não cair num auto-engano que o fará desperdiçar uma chance histórica única de ocupar um papel importante na configuração de um novo mundo que há de vir.
O risco reside na tentação de o Brasil se contentar apenas com um olhar de galinha que vê perto, ao oferecer uma alternativa intrasistêmica de matriz energética para que a atual civilização consumista, perdulária e anti-ecológica possa continuar. Isso suporia a convicção de que ela tenha ainda futuro, possa ganhar mentes e corações para seus ideais e ser benéfica para a humanidade e para a Terra. Ora, exatamente isso ela não é. Sua vigência e prolongamento pode representar, de forma crescente, uma ameaça ao futuro comum dos humanos e do sistema-Gaia.
Não que o Brasil deixe de se valer de suas vantagens comparativas naturais e tecnológicas. Ele deve ajudar a enfrentar a crise energética mundial como passo para um patamar mais alto, visando a alcançar um novo paradigma de relação com a natureza, de produção e de consumo.
Por isso o Brasil deve olhar mais longe, para além das urgências momentâneas e mirar o novo que ele, mais que outros paises, é chamado a moldar. Ele precisa de uma inteligência estratégica pós-relatório do IPCC. Pode vigorosamente animar a elaboração de um novo paradigma civilizatório que tenha como eixo articulador a sustentação de toda a vida e não a acumulação de bens materiais e de serviços.
O que está em jogo agora é Gaia e a Humanidade. Seu futuro não é mais garantido pela conjunção de energias e fatores que até agora lhes davam sustentabilidade. A humanidade só viverá se fizer um ato político coletivo de querer viver junto com toda a comunidade de vida.
Bem dizia a Carta da Terra:"a escolha a fazer é esta: ou formamos uma aliança para cuidar da Terra e uns dos outros ou então arriscar a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida". Temos fundado temor de que nos estratos estratégicos do Governo falta esta consciência. Vejamos o que consta no atual orçamento: o Ministério do Meio Ambiente tem seus recursos cortados na ordem de 32,7%, passando de 651,2 para 438,5 milhões de reais, menos que o Esporte 643,9 milhões e 13 vezes menos que o Ministerio da Defesa que é de 5,82 bilhões de reais.
Por que esta diferença? Não temos um inimigo externo potencial. O que temos é o real inimigo global que nos ataca por todos os lados: o aquecimento global e as mudanças climáticas. Devemos contra-atacar em todas as frentes para garantirmos um efeito global. Caso contrário, a arca de Noé afundará, carregando consigo todos os orçamentos para coisas que não são realmente decisivas.
- Leonardo Boff é Teólogo
Diante desta constatação, o pais precisa de um olhar de águia, que vê longe para não cair num auto-engano que o fará desperdiçar uma chance histórica única de ocupar um papel importante na configuração de um novo mundo que há de vir.
O risco reside na tentação de o Brasil se contentar apenas com um olhar de galinha que vê perto, ao oferecer uma alternativa intrasistêmica de matriz energética para que a atual civilização consumista, perdulária e anti-ecológica possa continuar. Isso suporia a convicção de que ela tenha ainda futuro, possa ganhar mentes e corações para seus ideais e ser benéfica para a humanidade e para a Terra. Ora, exatamente isso ela não é. Sua vigência e prolongamento pode representar, de forma crescente, uma ameaça ao futuro comum dos humanos e do sistema-Gaia.
Não que o Brasil deixe de se valer de suas vantagens comparativas naturais e tecnológicas. Ele deve ajudar a enfrentar a crise energética mundial como passo para um patamar mais alto, visando a alcançar um novo paradigma de relação com a natureza, de produção e de consumo.
Por isso o Brasil deve olhar mais longe, para além das urgências momentâneas e mirar o novo que ele, mais que outros paises, é chamado a moldar. Ele precisa de uma inteligência estratégica pós-relatório do IPCC. Pode vigorosamente animar a elaboração de um novo paradigma civilizatório que tenha como eixo articulador a sustentação de toda a vida e não a acumulação de bens materiais e de serviços.
O que está em jogo agora é Gaia e a Humanidade. Seu futuro não é mais garantido pela conjunção de energias e fatores que até agora lhes davam sustentabilidade. A humanidade só viverá se fizer um ato político coletivo de querer viver junto com toda a comunidade de vida.
Bem dizia a Carta da Terra:"a escolha a fazer é esta: ou formamos uma aliança para cuidar da Terra e uns dos outros ou então arriscar a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida". Temos fundado temor de que nos estratos estratégicos do Governo falta esta consciência. Vejamos o que consta no atual orçamento: o Ministério do Meio Ambiente tem seus recursos cortados na ordem de 32,7%, passando de 651,2 para 438,5 milhões de reais, menos que o Esporte 643,9 milhões e 13 vezes menos que o Ministerio da Defesa que é de 5,82 bilhões de reais.
Por que esta diferença? Não temos um inimigo externo potencial. O que temos é o real inimigo global que nos ataca por todos os lados: o aquecimento global e as mudanças climáticas. Devemos contra-atacar em todas as frentes para garantirmos um efeito global. Caso contrário, a arca de Noé afundará, carregando consigo todos os orçamentos para coisas que não são realmente decisivas.
- Leonardo Boff é Teólogo
https://www.alainet.org/pt/articulo/121644
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