Urgência de uma nova moralidade

01/12/2006
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Os relatórios sombrios sobre o estado da Terra e sobre o futuro desalentador da espécie humana nos sugerem a urgência de uma nova moralidade. Mais e mais nos damos conta de que esta situação dramática se prende à forma insensata e até imoral com a qual nos relacionamos com a natureza, depredando-a sem remorços através um modo de produção que faz do lucro sua única lei e religião. Somente agora quando a alarme ecológico chegou às páginas de economia é que vem sendo tomado a sério pelos governos e grandes instituições internacionais. A crise não vem; já estamos dentro dela, atingindo milhões de pessoas. Al Gore em seu documentário Verdade inconveniente nos forneceu os dados. Ou investimos já agora na dimuição dos gazes de efeito estufa ou então nos próximos anos teremos que aplicar mais de um trilhão de dólares anuais para estabilizar o aquecimento a dois graus acima do atual nivel. Ou então vamos ao encontro de catástrofes como nunca vistas antes.

Bem analisadas, estas medidas são apenas paliativas. Partem de um pressuposto equivocado: pensam que limando os dentes do lobo diminuinos a sua ferocidade. Quer dizer, podemos continuar com o mesmo paradigma de produção e consumo, apenas diminuindo a dosagem. Esse paradigma nos condenará a todos porque se baseia numa metafísica falsa, a de que podemos dispôr dos recursos a nosso bel prazer e que nossa relação com a natureza é apenas de ordem utilitária. Entendemo-nos for a acima e contra a natureza. Ela se vingará, talvez nos expulsando definitivamente de seu seio como se expulsa uma célula cancerígena.

Por isso, de pouco valem soluções técnico-científicas fundadas naquela metafísica. Precisamos, antes, de uma equação moral que mude os fins e não apenas os meios de nossa civilização. Eis alguns pontos para a nova moralidade.

Em primeiro lugar, devemos tomar a sério o princípio de precaução e de cuidado. Ou cuidamos do que restou da natureza e regeneramos o que temos devastado ou então nosso tipo de sociedade terá dias contados. Ademais filosoficamente o cuidado é a pre-condição para que surja qualquer ser e é o norteador antecipado de toda ação.

Em segundo lugar, importa dar centralidade ao afeto, à compaixão, ao coração e à piedade, como princípios morais. Isso nos ensinam o budismo no Oriente e Schopenhauer no Ocidente. Ambos afirmam:" não faças mal a nenhum ser, antes esforça-te em ajudar a todos o mais que podes".

Em terceiro lugar, urge resgatar o repeito e a veneração diante de cada ser porque representam um valor em si mesmo. Como o formulou Albert Schweitzer:"ética é a ilimitada veneração diante da vida e o respeito diante de cada ser".

Em quarto lugar, faz-se mister assumir a responsabilidade pelo futuro do planeta e da vida. Somos os guardiães do ser. Hans Jonas exprimiu assim o princípo de responsabilidade:"aja de tal maneira que teus atos não sejam destrutivos da vida".

Em quinto lugar, em vez da competição há que se reforçar o princípio de cooperação porque é a lei suprema do universo: todos os seres são interdependentes e se ajudam uns aos outros para co-evoluir, sem excluir os mais fracos.

Se vivermos essa nova-velha moralidade mudaremos os comportamentos dos estados e das pessoas para com a natureza e assim nos salvaremos. Vale a frase de 1968 nos muros de Paris:"sejam realistas; exijam o impossível".

- Leonardo Boff é Teólogo
https://www.alainet.org/pt/articulo/118455
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