Dez anos do Grito dos Excluídos
04/09/2004
- Opinión
Em 2004, o Grito dos Excluídos chega à sua décima edição.
Realizado a primeira vez em 1995, o Grito logo se firmou como
iniciativa a constar na programação de cada ano, como parte
integrante do calendário indicativo dos compromissos a serem
assumidos e realizados.
Nesta data simbólica, convém registrar a história do próprio
Grito, para perceber como ela faz parte da história maior que o
Grito ajudou a construir.
Para entender o Grito dos Excluídos, para perceber porque ele se
firmou, e para discernir os critérios da permanente avaliação
que o acompanhou e precisa continuar acompanhando, nada melhor
do que lembrar o contexto onde o Grito nasceu e onde ele se
inseriu.
Em primeiro lugar, o Grito desabrochou da Campanha da
Fraternidade, no ano em que ela tinha por tema Os Excluídos. O
Grito dos Excluídos quis ser um desdobramento da Campanha da
Fraternidade sobre os Excluídos.
Desde sua primeira edição, O Grito foi realizado no contexto da
"Romaria dos Trabalhadores", somando com seus objetivos.
Teve como data referencial o Dia da Pátria, mostrando com isto a
incidência direta da exclusão no projeto de nação que precisamos
construir.
Outro dado indispensável é o fato do Grito ter sido incluído no
Projeto da CNBB, já em 1996, como fruto da avaliação feita a
partir de sua primeira edição no ano anterior. Isto é, o Grito
logo se inseriu na programação pastoral a nível nacional.
Há outros aspectos importantes para entender a história do
Grito. Entre eles, o protagonismo garantido aos próprios
excluídos. E sobretudo a sintonia com a expressão religiosa,
respaldada por uma fundamentação teológica que mostrava a
consistência do grito na própria história da salvação.
Consolidada sua promoção como momento de expressão conjunta de
objetivos comuns das causas sociais, o Grito dos Excluídos foi
logo percebendo sua vocação universal. E em pouco tempo firmou-
se como referência continental, no contexto dos países da
América Latina, submetidos todos eles ao processo de
globalização excludente, que se acelerou a partir da década de
noventa.
Neste contexto, o Grito encontra sua justificativa, e sua
motivação. Ele aglutina a resistência contra o atropelo dos
valores culturais, denuncia a dinâmica excludente do neo-
liberalismo, alerta contra a tentativa de dissolução das
identidades nacionais e das políticas públicas em nome de uma
eficiência econômica que só contempla os interesses corporativos
do capital transnacional.
O Grito se revestiu de força convocadora de todos os que querem
se contrapor à aparente inexorabilidade de uma globalização
excludente, mostrando que é uma "outra globalização é possível",
aquela marcada pela solidariedade e guiada por valores éticos
que postulam a proeminência do valor da vida, a serviço da qual
deve ser colocada a economia.
E' significativo que o lema do primeiro Grito dos Excluídos foi
exatamente este: "A Vida em Primeiro Lugar". O Grito já trazia
em seu nascimento sua certidão de autenticidade e sua
justificativa ética.
O Grito expressa a urgência de iniciativas diante da gravidade
da situação vivida pelos excluídos, que descobrem seu
protagonismo, e convocam para a solidariedade.
https://www.alainet.org/pt/articulo/110484
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